Capítulo Dezenove

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Não dormi a noite toda. Tudo bem, desde que eu virei Jungkook, faz muito tempo que eu realmente não durmo. Mas se antes era por ter muita coisa para fazer ao longo das vinte e quatro horas do dia, dessa vez foi porque eu não consegui pregar o olho de preocupação. Passei a noite abraçada aos joelhos, encarando a porta do quarto com medo de Taehyung entrar com um bando de enfermeiros e uma camisa de força para me prender. A voz dele dizendo que sabia que eu não era Jungkook ainda estava bem nítida nos meus ouvidos e cada vez que eu revivia a cena – o que aconteceu a noite inteira – eu começava a hiperventilar.

Eu tenho certeza que foi exatamente isso o que aconteceu assim que meus olhos encontraram os de Taehyung tão sérios depois do que havia dito. O que? Como assim ele sabe? Que porra é essa?

— O que? — perguntei confusa.

Ficamos nos encarando por muito tempo. Cheguei a me sentir encolhendo devagar diante do olhar dele. Lentamente, sem desviar os olhos dos meus, Taehyung se sentou até que nossos olhares ficassem de igual para igual. Vi seus olhos desviarem dos meus, depois de um tempo, e irem para minha testa, meus lábios, meu cabelo, meu corpo. Exceto que nada disso é meu. São os olhos de Jungkook, a testa dele, os lábios dele, o corpo dele. Engoli seco e vi o olhar dele acompanhando o pomo de Adão subindo e descendo. Caralho, eu tenho um pomo de Adão para onde as pessoas olham!!! Conseguem conceber quão enlouquecedor é isso?

— Parece Jungkook. — foi ele quem quebrou o silêncio, voltando a olhar nos meus olhos. Estava tão perto que eu podia sentir o perfume dele com clareza. — Mas só por fora. O que é você?

— Do que caralhos você tá falando, garoto? — perguntei me afastando alguns metros, consciente de que meu coração tinha errado várias batidas.

— Disso. Jungkook quase não fala palavrão e nem me chama de "garoto". Estou te observando faz um tempo. Nada do que você faz é típico do Jungkook. Tem alguma coisa a ver com aquelas duas garotas que você chamou para serem estagiárias, mas ainda não consegui identificar o que exatamente. — falou finalmente desviando o olhar de mim.

Foi como se ele me soltasse de uma prisão e eu voltasse a respirar. Senti o ar voltando ao meu pulmão tão rápido que meus olhos arderam e me veio uma vontade absurda de chorar. Não é possível que assim, do nada, ele tenha entendido que eu não sou Jungkook. Não faz sentido nenhum.

— Hyung. — comecei tomando o cuidado de usar corretamente o honorífico. — Nada do que diz faz sentido. Do que está falando?

Ele sorriu, como se eu tivesse acabado de entregar o jogo. Talvez eu tenha feito isso. Pensando agora com calma, sozinha no quarto, acho que forcei muito para parecer Jungkook, tamanho era meu desespero.

— No começo eu acreditei na coisa da perda de memória. Mas depois de você e Jimin terem terminado e o Tannie ter rosnado quando saiu do quarto de madrugada, comecei a ficar desconfiado. — ele sorriu de novo, se aproximando ainda mais e me forçando, de novo, a ganhar espaço porque eu quase não conseguia respirar, o que dizer raciocinar direito. — Sim, eu sei do lance que vocês tinham... — completou como se eu tivesse prendido a respiração por ele saber do namoro de Jungkook e Jimin. — O que é você? — perguntou de novo.

— "O que eu sou"? — repeti. — Como assim? Eu sou igual você. Uma pessoa! — respondi exasperada. Tudo o que eu consegui pensar naquele momento é que Taehyung é a quarta pessoa que Madame Min vive me pedindo para encontrar. Estava embaixo do meu nariz o tempo todo e eu, iludida que sou, achei que fosse preocupação.

— Prove.

— Eu não tenho que provar merda nenhuma para você! — respondi na defensiva. Ele finalmente estava me tirando do sério. Levantei do chão e ajeitei a roupa larga. — Eu passei o dia inteiro sendo tocado, analisado, ensaiando, dançando. Eu preciso dormir. Você também. — falei numa tentativa ridícula de parecer mais adulto do que eu sou.

— O que aconteceu com o Jungkook de verdade? — ele não parecia me ouvir de jeito nenhum. Rapidamente se levantou e andou em minha direção, me forçando a me afastar até encostar no espelho, onde ele me prendeu numa armadilha bem planejada. Colocou os braços ao meu redor, apoiando-se ali e me encarando tão de perto que comecei a suar frio.

"Por que o perfume dele tem que ser tão bom?" - pensei. Fechei os olhos e virei o rosto, como se isso fosse me fazer milagrosamente me fundir ao espelho atrás de mim e escapar da armadilha de Taehyung.

— Quem é você? — ele sussurrou naquela voz grave e eu me vi de novo no meu quarto, em casa, dançando porcamente em frente ao computador. Nina novamente. Feliz porque tinha terminado um semestre com notas razoáveis. Guardando cuidadosamente os cartões que ganhava de Han Mimo, cada um com uma foto diferente dele. Abri os olhos e voltei o rosto para frente, deixando meu nariz – nariz do Jungkook – tocar o rosto dele.

— Quem eu sou...? — repeti desviando o olhar dos olhos castanhos de Taehyung e encarando a boca quadrada. Ele não se afastou um centímetro sequer. Desejei voltar no tempo e não ter sido beijada por Jimin. Porque meu primeiro beijo deveria acontecer agora, porque eu quero, não por acidente. Não porque deixaram de me contar sobre um relacionamento que não escolhi ter.

— Quem é você? — repetiu, desviando o olhar também.

Talvez fosse coisa da minha cabeça – mais vazia que o normal – mas naquele momento eu tive a impressão de que Taehyung me via por dentro. Kang Nina.

— Meu nome é Kang Nina. — respondi baixinho, olhando para o chão. Senti meus olhos arderem, mas sinto orgulho em dizer que não caiu nenhuma lágrima do rosto de Jungkook. Não na frente de Taehyung, pelo menos. — Eu e Jungkook trocamos de corpo por acidente. — voltei a olhar nos olhos dele e tive a impressão de ver um pouco de crença ali. — Eu não sei nada sobre a rotina dele porque eu não fazia ideia de como era a vida real de um idol. — o silêncio dele virou minha coragem. — Tudo o que eu queria era poder voltar ao meu corpo e viver minha vida sonhando com você de novo.

— Sonhando comigo? — ele afastou o rosto, confuso.

— Sou só uma garota como outra qualquer. Eu nunca quis ser idol. Nunca quis invadir a vida de vocês. — falei sentindo minha voz tremer. — Mentira, quis sim. Mas não assim. Nunca achei que fosse ficar tão perto de vocês. De você.

Cobri o rosto com as mãos, me xingando por lembrar do que fiz em seguida. Mas meus lábios ardiam e minha língua queimava porque meu próximo movimento foi beijar Taehyung na boca. Peguei o travesseiro e afundei o rosto nele, gritando a plenos pulmões.

— Burra! Burra! Burra! Burra! — xinguei várias vezes, até sentir a garganta arder.

— Se continuar assim, amanhã não vai conseguir cantar.

Afastei o rosto do travesseiro, assustada. Parado na porta do quarto, estava Jimin. Trazia uma caixa de pizza e duas cervejas.

— Podemos conversar? Não gosto de ficar brigado com você.

Alguém pára o mundo que eu quero descer!

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NOTA DA AUTORA: mil perdões pela demora na atualização dessa fic. Fiquei muito tempo com bloqueio e muito tempo procrastinando, mas agora vai! Estamos encaminhando para o final. Por favor, não desistam da Nina


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