Nina está no último ano da escola e apesar de querer seguir a vida acadêmica na area de exatas, acredita em tudo que é esotérico. Principalmente se for dito pela Madame Min. Mas nem tudo é o que parece e nem sempre a pessoa que você vê é quem está p...
Virei na cama, cobrindo a cabeça e ignorando Jimin completamente.
— Acorda, pelo amor de Deus!! — senti meu ombro sendo balançado com força, mas me recusei a responder. Ainda não tive nenhum dia de descanso desde que assumi o corpo de Jungkook, o que custa Jimin me deixar dormir nesse dia?
— Jimin, pelo amor de Deus, me deixe dormir pelo menos no nosso dia de folga!
— Nina, é urgente, porra!
Abri os olhos em choque. Ele me chamou de Nina?! Talvez eu tenha ficado doida... provavelmente é choque porque ele soltou um palavrão assim, do nada. Ouvi um suspiro e senti a cama afundando ao meu lado. Fechei os olhos de novo, com medo, enquanto sentia o edredom sendo levantado conforme Jimin se enfiava debaixo dele comigo.
— Nina?— dessa vez a voz dele era um sussurro, mas ficou bem obvio que ele estava me chamando pelo meu nome e não de Jungkook.
O ar começou a ficar pesado. Tenho certeza que a essa distancia, ele consegue ouvir meu coração batendo a mil por hora. Não é possível, ele sabe quem eu sou? Ele sabe que eu e Jungkook trocamos de corpo? Como?
— Sim, eu sei que você é a Nina.— sussurrou em resposta, como se tivesse lido meu pensamento. — E eu sei que você está acordada. Você nunca conseguiu fingir que dormia, lembra?
Isso me fez abrir os olhos de uma vez. A única pessoa que sabe disso é Han Mi Mo. Dei de cara com os olhos brilhantes de Jimin me encarando, prestes a chorar.
— Nina, socorro! — sussurrou.
O choque percorreu meu corpo em velocidade da luz e a única coisa que consegui fazer, foi gritar. Jimin também.
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Madame Min acordou assustada, como se alguém tivesse gritado em desespero bem perto de seu ouvido. Ainda usava seu hanbok branco especial para eventos religiosos e feriados. Sentiu que era observada mesmo na penumbra da sala. Nunca dormia ali e, no entanto, foi bem ali que acordou. Como se sua alma tivesse sido trazida às pressas, quebrando as regras e barreiras físicas e espirituais.
Com muita dificuldade por conta das camadas de saia, sentou-se. A cabeça parecia ter um sino de bronze tocando constantemente e a dor a impedia de ver com os olhos físicos. O olho espiritual, entretanto, estava aberto e viu aquela figura sobrenatural esperando pacientemente que ela o notasse. A penumbra permitia que ela visse apenas o sorriso branco de dentes pontiagudos. O medo fez a dor de cabeça parar junto com o dobrar do sino.
— Bem-vinda de volta. — a figura falou. Sua voz era tão grave que Madame Min a ouviu com o corpo todo.
Estremeceu.
— Quem é você? — perguntou com cautela. Sua mão esquerda tateou no escuro, em busca de um amuleto. Qualquer um.
— Sua magia não funciona em mim, Xamã. — a Voz falou.
Madame Min observou que, apesar de ouvi-lo perfeitamente bem, sua boca não se movia, exibindo aquele sorriso reptiliano e doentio em sua direção.
— Não? Isso não é você quem tem que dizer, Demônio. — alcançou o cordão de contas, mas sentiu o corpo paralisar assim que seus dedos se fecharam no artefato.
— Não... por minha causa, sua magia age somente contra si mesma. Somos partes da mesma coisa, Kim Min Seo! — num piscar de olhos a entidade ficou ao seu lado, os dentes próximos demais de sua orelha. — Está com medo? — ouviu a própria voz saindo da boca daquela criatura, no mesmo tom que havia usado com Han Mi Mo.
— O que é você? — sussurrou.
— Sou o reflexo que não quer ver. — a entidade respondeu, se movendo de novo. Dessa vez parou dentro do espelho de corpo inteiro que Madame Min mantinha próximo à porta da sala de consultas. A velha demorou a perceber que já conseguia se mover. O tempo pareceu desacelerar quando ela finalmente se levantou e se aproximou daquele reflexo bizarro.
— Sou as trevas que evitou por todos esses anos. — a voz continuou. — Sua bagunça mística, camuflada em brincadeira, desbloqueou sua verdadeira missão espiritual, Xamã.
Madame Min encarou o próprio reflexo por trás daquele sorriso pontiagudo e se reconheceu nele. Depois a imagem mudou e ela viu Nina e Jungkook ainda com os corpos trocados, acordando de um sonho, como se nunca tivessem estado na Sala dos Espelhos.
— Do mesmo jeito que eles ainda precisam entender-se a si mesmos, você precisa se reencontrar.
— Como...? — a imagem mudou de novo e ela viu Han Mi Mo e Jimin trocando de corpos também.
— Antes de ajudá-los, você precisa se ajudar.
Uma mão cheia de anéis saiu de dentro do espelho e ela voltou a se ver no reflexo. Estava muitas décadas mais jovem, mas o sorriso ainda era assustador.
— Vamos? — a voz perguntou.
— Eu tenho escolha?
— Sempre teve. Nunca pensou em usar, entretanto. — seu reflexo jovem respondeu. — Por que acha que essa escolha lhe será útil agora?
— Eles vão ficar bem?
— Eles tem a jornada deles...
A duas casas dali ela ouviu o grito de Han Mi Mo. A xamã sabia ser Jimin dentro dela.
Hesitou. Precisava arrumar essa bagunça de uma vez por todas.
— Sim. Precisa mesmo. — a voz respondeu lendo seus pensamentos. — Eu sou sua melhor chance.
A mão jovem se fechou em seu pulso e um brilho vindo do espelho a cegou completamente. Teve o corpo puxado por todos os chacras, como se cordas invisíveis a prendessem ao reflexo no espelho. Tinha que fazer isso. Por Jungkook. Por Nina.