Capítulo Um

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Taryn, com um peso no coração, sabia que tinha algo de extrema importância a realizar naquela tarde. Erguendo os braços decidida, dirigiu-se ao centro comercial para dar início à missão de preparar a festa de Natal perfeita para seus irmãos. Não haveria lugar para a magia feérica neste feriado, não desta vez. Após anos de afastamento forçado da celebração natalina, Taryn e Milo finalmente teriam a chance de reviver as festas como faziam treze anos atrás.
Enquanto caminhava pelos corredores movimentados da cidade humana, sua mente divagava para as memórias de infância.

Lembrou-se da mãe, entusiasticamente envolvida na cozinha, preparando os pratos favoritos da família, e do pai, contando histórias divertidas à mesa, exibindo com orgulho as origens das espadas que ele próprio forjava. Desde que fora arrancada da terra das fadas, nunca mais tivera o prazer de comemorar o Natal, pois o general Greenbriar, figura austera e rígida, afirmava que tais festividades eram completamente dispensáveis.

— Você é parte do meu legado e não deve se apegar a frivolidades mundanas — ele costumava dizer. — Como um feriado que os mortais festejam.
Taryn sacudiu a cabeça, afastando as lembranças dolorosas, e prosseguiu com sua missão. Ela não percebeu a pequena figura que se aproximava sorrateiramente por trás dela.

— Taryn! — Oak, seu irmão mais novo, chamou em um entusiasmo infantil, exibindo com empolgação o que havia encontrado. — Posso pegar alguns doces?

Taryn parou e olhou para onde seu irmãozinho estava apontando, seus olhos brilhando de pura alegria.

— Claro, Oak. — Ela sorriu para o irmão, lembrando-se do compromisso deles em se adaptar à vida entre os humanos. Era impensável permitir que um garotinho de nove anos fosse a uma loja de doces sozinho. Embora soubesse que, para os outros, isso poderia parecer desprezível, Taryn não se importava.

Afinal, teria que explicar as peculiaridades da Terra aos seus irmãos mais novos de qualquer maneira.
Desde que chegaram a este mundo humano, Oak demonstrou uma curiosidade avassaladora por tudo ao seu redor. Desde os doces coloridos até as atividades mais simples que os humanos faziam, ele estava encantado com cada aspecto da vida na Terra. Na mansão Greenbriar, esse tipo de curiosidade era estritamente proibido, e eles eram forçados a esconder suas verdadeiras emoções sob uma máscara de indiferença.

Taryn se pegou pensando, com um arrepio na espinha, se foi um alívio quando Greenbriar finalmente foi destituído do poder por Milo. Sacudindo a cabeça para afastar tais pensamentos sombrios, ela seguiu o irmão até a loja de doces, mantendo suas preocupações ocultas nas profundezas de sua mente.

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Milo direcionou seu olhar para a janela da carruagem, observando atentamente à medida que a cidade mundana começava a se revelar abaixo. Era inegável que o Natal havia chegado à cidade, trazendo consigo a estação que Milo mais detestava. As multidões moviam-se como gado, parentes indesejados apareciam sem fim, a alegria forçada pairava no ar e as tentativas desanimadas de demonstrar entusiasmo permeavam cada esquina. Sua aversão inata ao contato humano parecia intensificar-se nesse momento, alimentando seu ódio em relação a tudo e a todos.

Ele recordava de uma época em que, não importava para onde fosse, sempre acabava do lado errado de uma aglomeração enlouquecida. Não estava disposto a ser resgatado por nenhum — exército—  de espírito natalino. A pureza branca do Natal nunca havia lhe cativado; ele era um dezembrista, um bolchevique, um criminoso por vocação, um colecionador de selos encurralado por uma angústia desconhecida. Era qualquer coisa que ele não estava disposto a ser. Antes, ele se movia sorrateiramente pelas hordas pavlovianas de consumidores e festeiros, evitando estudantes em férias e estrangeiros que buscavam experiências totalmente diferentes das suas.

A razão pela qual ele havia decidido participar dessa celebração só podia ser atribuída a Taryn e Brand. Bem, não apenas sua irmã, nem muito menos seu marido, o haviam persuadido a comparecer. Milo olhou na direção de Flynn, Alaric e até mesmo para Sol  que olhava na janela oposta, refletindo em seus olhos cintilantes.
Foram seus filhos que o convenceram a estar ali. Flynn, por já ter experimentado o encanto das festas de fim de ano, tinha convencido os outros dois com suas histórias vívidas. Para Milo, essa celebração não mais se encaixava em sua vida, tampouco no mundo sobrenatural que suas crianças representavam.
Milo retornou ao momento presente quando sentiu a mão de Brand sobre a sua. Ele piscou, afastando seus pensamentos sombrios, tanto de sua mente quanto de seu coração.
— No que está pensando? — Brand perguntou curioso, oferecendo um sorriso.
Milo estudou seu esposo, notando que agora ele estava cultivando uma barba, provavelmente como resultado de uma aposta entre Dain e Brand sobre quem ficaria melhor barbudo.
— Não é nada — Milo respondeu, recuperando a voz. Ele sabia melhor do que ninguém que Brand não hesitaria em ordenar que a carruagem desse meia-volta se soubesse a verdade. — Apenas estava admirando como as luzes de Natal são belas.
Brand pareceu surpreso, mas não disse nada. Ele conhecia Milo profundamente o suficiente para entender que seu marido estava escondendo algo nas profundezas de sua mente e de seu coração. No entanto, expressar sua capacidade de ser um ouvinte atencioso não era o ponto forte de Brand.
A única que verdadeiramente compreenderia Milo nesse momento seria a antiga rainha das fadas, cuja beleza e encanto perduravam até seu último suspiro. — Quero morrer cercada por aqueles que conhecem meus segredos mais profundos e ainda me admiram— , ela costumava dizer. A rainha parecia saída das páginas de um romance mundano, com seus longos e sedosos cílios e um sorriso que iluminava qualquer lugar em que estivesse. Brand lembrava-se de como, quando tocava os cabelos da mãe, parecia acariciar fios de seda em vez de cabelos humanos.
Embora fossem dores diferentes, Brand recordou-se de que as celebrações que sua mãe adorava eram solitárias, pois ela as vivenciava sem a presença de seu marido. Assim, para Milo, o Natal era uma época dolorosa, pois seus pais poderiam ter adorado essa festa. Seu esposo havia se resignado a deixar de lado algo que seus pais amavam, a fim de preservar memórias que não se tornariam tão angustiantes com o passar do tempo.
— Estou bem, só estamos fazendo isso pelas crianças — Milo disse, forçando um sorriso que não parecia genuíno aos olhos de Brand.
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Ao retornarem para casa, Oak, com suas roupas completamente manchadas de doces, e Taryn, avistaram a imponente carruagem da família real se aproximando e rapidamente se esconderam atrás da casa. O som das risadas contagiantes dos sobrinhos encheu o ar enquanto Taryn contornava a casa e adentrava o exuberante jardim. Sol, o mais efusivo dos sobrinhos, correu na direção de sua querida tia, exibindo um sorriso radiante. Logo atrás dele, Flynn se aproximou, segurando um volumoso livro intitulado “Contos Natalinos” em seus braços e Alaric que acenou e se afastou. Taryn lançou um rápido olhar a Brand, que acenou com a cabeça antes de seguir os filhos até onde Oak estava, exibindo com entusiasmo os tesouros de doces que tinham adquirido.
— Onde estão os outros, Milo? —  Taryn perguntou enquanto os cavalheiros de Milo descarregavam suas bagagens.
— Manoela, Carmen e o restante do grupo disseram que vão chegar em três dias, antes disso pretendem comprar algumas coisas mundanas para a festa de Natal —  Milo respondeu, pegando algumas das sacolas das mãos de sua irmã. — Não me contaram o motivo da demora, mas seremos apenas nós até lá.
Lucy, Juvia e Guris, com sorrisos luminosos, se aproximaram do grupo.
— Então teremos tempo para colocar o papo em dia,—  Lucy comentou com animação. — Sabiam que o Maeru e o Maxuel se casaram?
Com essas palavras, todos entraram na casa, ansiosos para compartilhar histórias e momentos especiais enquanto aguardavam a chegada do restante da família para a tão esperada festa de Natal.


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Até a próxima 😘



Contos: Uma Promessa Ao Lorde FadaOnde histórias criam vida. Descubra agora