Capítulo Oito

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No caminho de volta para casa, Milo decidiu que aproveitaria cada passo adicional que pudesse compartilhar com Brand. O crepúsculo tingia o céu com tonalidades suaves de laranja e rosa enquanto eles caminhavam de mãos dadas, seus dedos entrelaçados como um elo inquebrável.

— Agora me diga, parece completamente... — Brand começou, um sorriso brincalhão dançando em seus lábios enquanto seu olhar se fixava nos olhos de Milo. Ele ponderou por um momento, mas Milo, sempre perspicaz, o ajudou:

— Sexy? — Milo completou, erguendo uma sobrancelha sugestivamente.

Milo parou no meio da calçada e inclinou a cabeça para o lado, como se estivesse avaliando cuidadosamente suas próximas palavras.

— Eu não iria chegar a dizer tudo isso, a barba realmente não combina com você — disse ele, inclinando-se para tocar o rosto mal barbeado de Brand. Os fios irregulares da barba roçaram suavemente contra seus dedos, uma sensação que o fez sorrir.

— Ai! — Brand soltou um grito quando Milo deu um puxão surpreendentemente forte.

— O quê? — Milo perguntou, fingindo inocência enquanto um brilho travesso iluminava seus olhos. — Não pensei que iria doer tanto. — Ele soltou uma risada brincalhona. — Acho que vou ter que raspar a barba assim que voltarmos para a casa da Taryn.

Ambos riram, aquele riso único que era só deles. Eles estavam tão envolvidos um no outro que pareciam ignorar as ruas superlotadas ao redor, as pessoas se apressando para suas últimas compras de Natal. Era um pequeno milagre que ninguém tivesse esbarrado neles, interrompendo esse momento íntimo que parecia envolvê-los como um casulo de amor e companheirismo. Milo lembrava-se de uma época em que teria que se desculpar repetidamente por esbarrar nas pessoas sempre que se aventurava pela cidade. Na verdade, as multidões eram a principal razão para sua relutância em demonstrar afeto em público.

O ar gélido da noite trouxe os dois de volta à realidade. A neve começou a cair lentamente, criando uma paisagem mágica ao seu redor.

— Está congelando aqui! — Brand gritou acima do vento uivante, abraçando-se para se manter aquecido.

Milo estalou os dedos com um sorriso travesso e, num piscar de olhos, suas roupas se transformaram em agasalhos quentes e aconchegantes, proporcionando calor imediato.

Milo soltou uma risada calorosa, mas Brand o surpreendeu, erguendo-o no ar com facilidade, como se fosse um gesto natural entre eles. Os corpos se pressionaram um contra o outro, compartilhando o calor mútuo enquanto a neve continuava a cair, testemunhando o amor que fluía entre eles.

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Naquele momento, a neve caía com ainda mais intensidade, transformando o mundo lá fora em um manto branco e gelado. Cada flocada que tocava o chão contribuía para a queda vertiginosa da temperatura, fazendo com que o ar se tornasse cada vez mais gélido, como se a própria natureza estivesse conspirando contra eles.

Finalmente, chegaram à casa de Taryn, seus rostos irradiando alegria pela perspectiva de uma festa animada. No entanto, esse sentimento de felicidade desmoronou abruptamente quando empurraram a porta e se depararam com uma cena de desolação. Os convidados estavam parados, estupefatos, e as decorações cuidadosamente planejadas estavam despedaçadas no chão. Um emaranhado de raízes de uma planta monstruosa jazia espalhado pelo ambiente, com o epicentro da catástrofe sendo Taryn, soluçando inconsolavelmente.

Brand sussurrou para Alun, sua voz carregada de preocupação:

— O que diabos aconteceu aqui?

Alun lançou um olhar repleto de pesar para a pequena figura da garota, cujas lágrimas pareciam fluir como uma cascata.

— Bem, o ursinho que demos ao Milo acabou sendo um filhote de uma criatura ancestral, vinda diretamente do reino dos esquecidos. E a planta que Oak conjurou inexplicavelmente voltou à vida, desencadeando um conflito violento entre eles — explicou, sua expressão sombria. — Arruinaram completamente a decoração da festa, a comida está irremediavelmente perdida, e só com grande esforço conseguiram capturar e subjugar esses monstros.

Milo, cauteloso, aproximou-se de sua irmã, que se ergueu do chão e virou-se para ele, seu semblante uma mistura de raiva e desespero.

— Tudo está arruinado — ela murmurou, sua voz frágil como cristal quebrado. — Por que trouxeram essa maldita criatura para minha casa? Ela destruiu tudo em que trabalhei tão duro para criar.

Taryn era conhecida por sua calma e compreensão, mas naquele momento, ela estava irremediavelmente quebrada, uma tempestade de emoções furiosas e desesperadas.

— Tudo o que envolve magia feérica ou qualquer coisa que venha deles só traz destruição — Taryn disparou, incapaz de conter sua fúria. — Como se não bastasse terem tirado nossos pais de nós e me separado de minha família. Milo, mais do que qualquer um, deveria entender o meu ódio pelos feéricos. Por que permitiu que eles entrassem em minha casa?

Milo, com voz firme, chamou-a pelo nome:

— Taryn Greenbriar, eles são a minha família!

O simples grito foi suficiente para congelar o coração dela e fazer com que se sentisse sufocada. De repente, Milo parecia ter se transformado no rei das fadas, em vez de seu irmão mais novo. Taryn olhou para Milo com uma premonição sinistra, seus lábios trêmulos.

— Ninguém aqui é culpado pelo que aconteceu. Você precisa entender que não controlamos o destino nem o que vem do futuro — disse Milo, sua expressão inexpressiva. — Festas podem ser refeitas, a comida substituída e até os suéteres feios podem ser comprados de novo. Mas essas pessoas são aquelas que escolheram ficar ao nosso lado.

Ela tentou dizer algo, mas permaneceu em silêncio. Ela se levantou silenciosamente e virou-se, deixando a sala em direção ao quarto, e segundos depois, a porta se fechou com um estrondo.

Milo soltou um suspiro profundo e afundou no sofá. Agradecia quando seus filhos se aproximaram, abraçando-o com força, pois ele começou a perceber que havia agido de forma insensível com sua irmã, como se ela fosse uma de suas súditas.

Agora, ele se perguntava o que poderia fazer para convencer Taryn de que a festa não importava tanto quanto a família que eles eram e que o Natal era sobre amor, gratidão e, acima de tudo, estar juntos. Era hora de ele lembrar das lições que seus pais lhe ensinaram nesta época do ano, quando tudo parecia perfeito.

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Taryn jamais imaginou que sua tão esperada festa de Natal pudesse ser arruinada de forma tão abrupta e inesperada, tudo graças à intervenção de uma misteriosa criatura feérica que se viu em um embate épico contra a colossal planta monstro de Oak. A noite estava fria e estrelada, o aroma aconchegante de pinheiro e biscoitos de gengibre pairava no ar, e os convidados se reuniam em torno da árvore decorada com brilhantes luzinhas piscantes.

As palavras de Milo, seu irmão mais novo, não a feriram de fato, nem a deixaram furiosa, mas o modo como ele as pronunciou trouxe à tona lembranças dolorosas do passado, como um punhal cravado no coração de Taryn. Enquanto ela observava as chamas cintilantes da lareira dançando em seu olhar, seu irmão havia dito algo que ecoaria em sua mente durante toda a noite.

Taryn estava imersa em seus pensamentos. Esses sentimentos profundos de inadequação e competição fraternal eram como cicatrizes que nunca desapareceriam de seu coração ou se desvaneceriam de suas memórias, uma sombra persistente em sua vida que ela sabia que precisaria enfrentar eventualmente.

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Até a próxima 😘


Contos: Uma Promessa Ao Lorde FadaOnde histórias criam vida. Descubra agora