— Precisamos conversar, Taehyung. — assenti e me levantei, seguindo-o em direção ao escritório.
Era sempre assim, só conversávamos lá. Ele me tratava como um parceiro de negócios e não como um filho. Isso me deixava extremamente triste.
Entramos em seu escritório ainda em silêncio, me sentei na cadeira em frente a sua mesa e esperei ele se sentar. Porém não foi o que aconteceu. Cruzou os braços ainda de pé e me olhou sério.
— Que porra foi aquela de você dizendo que namora um garoto? Você acha legal ficar brincando assim comigo!? — disse com nojo e raiva.
Mexi meus dedos em sinal de nervosismo. — Pai, não é brincadeira. Eu realmente sou gay. — abaixei a cabeça e respirei fundo.
Fiquei na espera de gritos que não vieram. Pelo menos não naquela hora. Escutei apenas uma gargalhada irônica que durou por um tempo. Assim que parou de rir segurou meu rosto com força puxando em sua direção.
— Isso é tudo culpa da sua mãe que te deixou mole assim! Filho meu tem que ser macho! Eu não vou aceitar isso! — ele gritou e apertou mais meu rosto, me machucando.
— Não é uma coisa que eu possa mudar, eu gosto de garotos e ponto. — tirei sua mão do meu rosto e o encarei. Já havia passado da hora de pelo menos tentar deixar o medo de lado.
— Filho meu não pode ser um viadinho de merda! — ele gritou e aquilo me machucou por dentro, mas fiz questão de não demonstrar.
— Melhor ser um viadinho de merda do que um rico esnobe igual a você. — cuspi as palavras e o que se seguiu me pegou de surpresa.
Ele me deu um soco no rosto. Isso nunca tinha acontecido. Ele já havia brigado muito comigo, mas nunca tinha partido para violência. Fiquei em choque, sentindo a dor em todo o lado esquerdo do meu rosto, mas a dor maior estava dentro de mim.
— Você me bateu? — perguntei só pra confirmar que aquilo não era uma alucinação minha.
Ele riu. — Isso não é nada perto da vontade que estou de realmente fazer com você. — ele finalmente se sentou na cadeira e me olhou com desprezo.
Sinto vontade de chorar mas não me permito, não na frente dele. Não deixaria ele pensar que eu era fraco ou que ele conseguiria me mudar de alguma forma.
Respiro fundo. — Posso ir agora?
— Você vai terminar com aquele garoto e ele nunca mais vai pisar aqui em casa, está me ouvindo? Sabia que aquele Jimin ia te influenciar a virar viado, por isso odeio aquele garoto. Além de pobre ainda é viado. — sua voz exalava nojo, me fazendo sentir ainda mais repulsa por ele.
— O Jimin não tem nada a ver com isso! E eu não vou terminar com o Jungkook! — gritei e ele me olhou surpreso, mas logo formou um sorriso de deboche em seu rosto.
— Tá mostrando as garrinhas? Não sabia que tinha peito para me enfrentar, pensei que fosse um completo viado, mas se me enfrenta você ainda tem salvação. — sorriu vitorioso.
Meu estômago se embrulha de nojo. Me levanto da cadeira.
— Isso não é uma doença ou pecado para ter salvação! É só a porra da minha orientação sexual! A porra da minha vida! — continuei gritando, tentando liberar a dor de dentro de mim em forma de gritos, não lágrimas.
Ele se levantou e me encarou frente a frente.
— É melhor você abaixar o tom de voz pra falar comigo. Você não se manda, eu mando em você e na imprestável da sua mãe, que nem para te fazer ser homem ela serviu. — seu tom transpirava raiva. Na mesma hora tive medo do que ele poderia fazer com minha mãe, mesmo que eu nunca o tivesse visto encostar um dedo nela. Ele também nunca tinha encostado em mim mas socou meu rosto.
— Não fala mal da minha mãe! Ela faz tudo por você mesmo que você não mereça! E você não vai me mudar, eu sou quem eu sou, quer você aceite ou não. — disse com raiva.
Ele ri. — Veremos, Taehyung. Se você não terminar com ele, eu juro que vou fazer da sua vida um inferno. — ele sorriu e pareceu gostar do que disse. — Agora pode ir, cansei de você. — fez um sinal com a mão para que eu me retirasse.
— Minha vida já é um inferno mesmo. — murmurei e saí.
Minha mãe, que estava do lado de fora do escritório, me lançou um olhar de pena. Eu não queria a pena dela. Queria que ela se separasse desse homem sem noção e nos tirasse dessa. Sabia que a culpa não era dela, mas não consegui evitar ficar com raiva naquele momento.
— Filho... — ela disse baixinho e tentou me abraçar, mas logo me afastei.
— Eu quero ficar sozinho agora. — Ela me olhou preocupada mas apenas assentiu.
Andei em direção ao meu quarto e fechei a porta com um estrondo assim que passei por ela. Me joguei na cama e as lágrimas que eu estava segurando finalmente rolaram pelo meu rosto.
Era horrível não ter apoio do seu próprio pai, o homem que deveria te amar independente de qualquer coisa. O mesmo você queria ter orgulho e dar orgulho. Mas não chorei apenas de tristeza. Chorei por tudo, até por pena dele, por ter um pensamento tão limitado e ser homofóbico. Por saber que tanta gente passava pela mesma situação. Pelo primeiro soco que ele tinha acabado de me dar, que doía demais. Chorei pelo inferno que eu aguentaria a partir daquele momento porque não iria desistir, não iria mudar.
No meio da minha crise de choro, escutei meu celular apitando avisando sobre uma nova mensagem. Sequei rapidamente o rosto tentando limpar as lágrimas para enxergar melhor e vi que era de um número desconhecido.
[número desconhecido]: oi, tae. é o jungkook
Sorri. Esse garoto mal havia chegado e já conseguia me arrancar sorrisos até depois de uma crise de choro. Salvei seu número e o respondi:
[eu]: oi, jungkook
Joguei o celular na cama depois de responder e segui até o banheiro do meu quarto para lavar o rosto. Me olhei no espelho e não me surpreendi com o que vi. Normalmente me encontro assim: rosto avermelhado e inchado pelo recente choro. A única diferença daquela vez era a marca roxa do soco que levei. Sacudi a cabeça, lavei meu rosto e voltei a me jogar na minha cama, pegando o celular de novo.
[jungkook]: como vc está? como foi com seu pai?
Pensei antes de o responder: Jungkook já havia se tornado alguém de confiança para mim e saber que ele estava preocupado só me confortava mais. Pensei na proposta dele de nos conhecermos melhor nos nossos lugares favoritos e cheguei a conclusão de que seria bom fazer isso naquele mesmo dia.
[eu]: está disposto a me levar em um dos seus lugares favoritos agora?
Escrevi torcendo para que ele não perguntasse sobre a minha mudança repentina de planos já que mais cedo eu havia dito que não poderíamos nos encontrar. Mas eu precisava sair de casa, respirar ar puro. Torci também para que ele realmente pudesse ir, ao olhar no relógio e perceber que já eram dez horas da noite.
[jungkook]: sim
[jungkook]: vc tem bicicleta?Fiz uma careta. Nunca tinha aprendido a andar de bicicleta porque meu pai não tinha tempo para me ensinar e minha mãe vivia ocupada com as coisas que ele mandava ela fazer.
[eu]: não...
[jungkook]: tudo bem, te levo na garupa
[jungkook]: passo aí em 10 minutos[eu]: ok, estou esperando
Levantei rápido e me olhei no espelho. Não gostei da visão que tive e me direcionei para tomar um banho rápido. No banho pensei o porquê de eu querer me arrumar tanto se era só o Jungkook, mas decidi não gastar tanto tempo pensando naquilo.
Saí do banho, vesti um moletom, uma calça jeans preta, logo passando a mão no cabelo decidindo deixar ele secar sozinho. Quando terminei de passar o perfume, escutei meu celular avisando de uma nova notificação.
[jungkook]: já estou aqui
Sorri.
[eu]: estou descendo.
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I like me better when I'm with you - taekook
FanfictionTaehyung, filho do prefeito da cidade, é pressionado a todo momento a ser o que não é. Quando seu pai mais uma vez tenta interferir na sua vida, cansado de tudo, ele inventa que tem um namorado, Jungkook, o menino que ele tinha acabado de conhecer. ...