34.

40 3 0
                                    

Uns anos depois...

Rose ignora o marido e continua a observar a sobrinha Aurora, filha de Luke, a brincar. Após uns minutos, dispensa-se e fecha-se no quarto. Já na cama, deita-se e esconde-se do mundo debaixo dos cobertores.

Naquele tempo, era uma obrigação das mulheres dar descendência ao reino, e Rosie não estava nem perto de conseguir tal. Fazia 5 meses que tinha enterrado o seu filho, que nascera morto, e corria no reino que Rose era incapaz de ter filhos e que estava deprimida.

Bem, a segunda parte era verdade. Calum já não sabia o que fazer para animar a esposa: tinha contratado os melhores bobos da corte, tinha construído alguns edifícios em nome do seu amor por Rosie, tinha contratado os melhores médicos, tinha-a amado o mais que podia apesar de toda a frustração que também sentia, como Rosie.

Ela deixa as lágrimas escorrer pelo rosto. Imaginava todos os pormenores daquele bebé quando crescesse: seria forte, justo, educado; seria amado incondicionalmente; seria uma versão melhorada de si mesma.

-Rose?-ela reconhece a voz de Mali,  sua cunhada.

-Rose?-ela reconhece a voz de Mali,  sua cunhada

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

-Deixa-me ser miserável em paz.

-Podes ao menos olhar pela janela, sorrir ao ver o circo que Calum preparou para ti e voltar à tua miséria?-ela pede.-Ele tem-se esforçado tanto.

-Não tenho forças.

-Como queiras, Rose.-Mali protesta.-Fica aqui o próximo ano a ter pena de ti mesma e a ser inútil. Não sabia o que dar-te no aniversário, de qualquer maneira. Tens tudo.

Excepto um herdeiro. Rose sabia que Calum estava tenso e receava que fosse procurar noutro sítio o que ela não podia dar.

-Rosie?-ela reconhece a voz do irmão Luke.-Olá. Calculei que estivesses aqui. Outra vez. Vi Mali sair daqui aborrecida e pensei que pudesses querer falar. Já urinaste no trigo hoje? Talvez tenhas uma surpresa, quem sabe (Nota: aparentemente antigamente se o trigo abrisse com a urina significava gravidez)

-É impossível engravidar se já não estamos a tentar mais. Podem deixar-me em paz?! Grrr! Não sabem o que estou a passar e não têm qualquer direito de me tratar com essa indiferença como se eu estivesse a ser mimada.

-Vá lá, Rose.-Luke fala, sentando-se a seu lado.-Imagina que não podes mesmo ter filhos. E depois? Isso tira-te valor? Deixas de ser uma mulher?

-... ter um herdeiro era parte do acordo com Calum. Era o que ele mais queria. Quem governará Bersóvia e Josur?

-Isto já não tem nada a ver com o acordo.-Luke observa.-Tu e Calam amam-se. Ele não vai deixar de amar-te por não conseguires descendência, mas... ele é capaz de o fazer se o continuares a afastar como tens feito nos últimos meses.

-Obrigada, Luke. Significa muito.

Luke beija o monte de lençóis que estão contra a testa da irmã e abandona o quarto.

Rose fica ali durante horas, não querendo ter as refeições em conjunto com a família. Finalmente bufa e levanta-se. Uma criada apressa-se a ajudá-la a vestir.

Procura Calum por todo o Palácio mas não o encontra, até que a informam que está em Bersóvia há 3 dias. Interessante. Não tinha dado por isso.

Rose aguarda impacientemente por Calum e nessa mesma noite, ela é informada do seu regresso. A rainha caminha até à biblioteca, onde encontra o marido a consultar uns mapas.

-Já te cansaste de me ignorar?-ele questiona sem a olhar.

-Eu não estava a fazê-lo, apenas...

-Rose, tens algo importante a dizer-me ou não?-ele pergunta, perdendo alguma paciência.- Sei que não reparaste mas estive nos últimos dias em Bersóvia e tenho coisas para fazer.

Ela não sabe o que dizer e decide explicar:

-Eu não estava a ignorar-te, Calum. Eu vou morrer de desgosto. Eventualmente. Li sobre isso e tenho todos os sintomas.

-Merda, isso outra vez?! Rose, não se morre de desgosto. Vais é morrer sozinha se continuares a fazer-me a vida num inferno.- ele confessa, revirando os olhos.

-O quê?! Nem sequer abri a boca nos últimos tempos.

Calum esfrega os olhos, cansado, e desiste:

-Tive uma viagem longa. Não consigo falar disto contigo agora, Rose. Falamos amanhã.

-Depois disto acho que dispenso. Vou voltar ao quarto. Com licença.

Calum atira o raio da pena para cima da mesa, borratando todo o mapa em que trabalhava, irritado:

-Bem, se planeias voltar para a tua miséria, mais vale aproveitar este momento. Rose, tu não tens a mínima ideia de como me fizeste sentir nos últimos tempos, pois não? Não estou a receber nada de ti: não me falas, ignoras-me, não dás valor a tudo o que tenho feito por ti, não me olhas. A Rose que eu amava desapareceu e deixou-me preso a... ti, que nem sei bem quem és.

-Eu estou de luto, Calum! Não posso ser como era, acabei de perder um filho!-Rose eleva a voz.

-EU TAMBÉM PERDI UM FILHO, ROSE. EU ESTIVE LÁ. TAMBÉM ERA MEU MAS DECIDISTE QUE SÓ TU TINHAS O DIREITO DE FICAR TRISTE E ZANGADA COM O MUNDO.

-Não é a mesma coisa.-Rose teima.-Eu senti-o todos os dias, a toda a hora, e do nada perdi-o.

-Nem isso eu pude ter. Eu apenas... via-vos falar, cantar, mexer na barriga. Eu nunca pude sentir essa conexão com o bebé. Mas aí estás tu, a queixar-te. Sabes que mais? Sai daqui, Rose. Estou farto.

Rose não se move e finalmente percebe que destruiu o que restava de Calum após a morte do bebé. Ela odiou-se ainda mais.

-Desculpa.-Rose pede.-Tens razão. Fui egoísta. Tenho-te feito muito infeliz e não permiti que ficasses de luto porque alguém tinha de tomar conta de mim enquanto eu ficava de luto. Perdoa-me, Calum.

-Sai. Por favor.

Ela obedece, de coração partido.

Loyalty [cth] TerminadaOnde histórias criam vida. Descubra agora