9.

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Era mais um dia harmonioso em DiLaurentis. A chuva caía pesadamente.

Semanas passaram desde o torneio e finalmente Julia havia perdoado Rose. Bem, não na totalidade mas era impossível ficar muito tempo zangado com ela.

-Princesa, tem de ir dormir! Amanhã tem que se levantar cedo para treinar e...-Julia começa, aconchegando-a na cama.

-Jules?

A velha senhora suspira ao perceber que não a ouviu minimamente. No entanto, mostra o seu sorriso maternal:

-O que queres?

-Alguma vez estiveste apaixonada?

-...sim.-Julia sorri com a memória e a rapariga faz o mesmo.-Porque perguntas?

-Apenas... tenho tudo. Dinheiro, terras, festas, navios,... E por muito mais coisas que adicione, sinto sempre que falta algo. Começo a achar... que me falta alguém.

-Estás a... abrir o teu coração a alguém?-Julia sorri mas Rose nega, chocada. Detestava ter dito aquele segredo em voz alta. Deus.

-Merda, não...

-Linguagem!-a criada protesta.-E o tal conde?

-Decidimos dar um tempo. Não gosto dele dessa forma. Vejo-o como um amigo unicamente.

-Bem, acredito que estejas a disponibilizar um lugar no teu coração para alguém. Sabes, acho que só podemos amar alguém quando estamos bem connosco mesmos. Tu estás bem, finalmente. Não escondes mais o que gostas de fazer e és aceite por isso.

-... e se me magoarem?-Rose sussurra.

-Eu dou neles.

A princesa ri com as palavras, fazendo Julia sorrir. Rose pede à criada que fique um pouco com ela durante a noite, ao que a senhora cede. Julia olha as pinturas do pai e mãe de Rose e questiona:

-Tens saudades deles?

-Como não me lembro de muito, não... mas não faz mal. Luke lembra-se.

O pequeno cão dorme na cama e Rose acaricia-o, feliz pela companhia naquela noite fria.

-A mãe, quando estava a morrer naquele quarto da frente, disse-me para ir chamar Luke. Não se despediu.
Luke disse-me que ela lhe disse que estava muito orgulhosa de mim e que me amava mas eu sei que é mentira. Eu ouvi através da porta. A mãe estava a dizer-lhe para me orientar em termos de família e casamento.

Julia beija a testa de Rose, sentindo pena da rapariga. Os pais eram frios e autoritários, mas Julia sabia que se preocupavam imenso com a filha. Apenas... não sabiam mostrá-lo, especialmente com o casamento a desmoronar-se.

-Vai ficar tudo bem, Rosie. Eu sei.

Rose não tinha tanta certeza mas confiava na alma de olhos fechados. Assim, sentindo-se segura, adormece finalmente.

Mas não ia ficar nada bem. Raios, longe disso. Enquanto toda a família real, corte e aldeia dormia, o exército de Michael Clifford avançava sobre DiLaurentis, com sede de vingança.

Enormes incêndios foram causados, campos destruídos, casas vandalizadas.

Rosie sonhava profundamente, alheia a todo o caos e ódio à sua volta.

-PRINCESA! ESTAMOS A SER ATACADOS!

A rapariga sobressalta-se com o grito e criados a abaná-la e, ainda sonolenta, dirige-se à varanda, onde vê... o fim do mundo diante dos seus olhos.

-Luke.-ela murmura, agarrando Charles.

A princesa corre para fora do quarto, indo contra Julia, que chorava desesperadamente:

-R-Rosie, eles querem-na a-a si e a Henry vivos. O e-exército de Astenfer causou e-estragos e... metade do palácio está a arder e arruinado... os criados estão presos nas salas... eu não sei o que querem fazer contigo, Rosie, tenho tanto medo...

A rapariga agarra Julia pelos ombros e abana-a, tentando com que se concentre:

-Julia, preciso de ti agora. Tens de ser forte. Onde está Luke?

-A-A preparar um cavalo para si e para ele, a m-mando de Henry. Ele tem que te tirar daqui em minutos para a primeira terra segura que encontrar.

O quê?! Ela tinha de ficar e lutar!

-Onde está o nosso exército a combater?-Rose insiste.

-N-Não está! Não pôde formar-se... T-Toda a vila dormia e... estão a dizer que não vão magoar ninguém se dissermos onde estás... oh Rei d-de DiLaurentis, que Deus te tenha, ajuda-nos...

-Julia, ele está morto, está bem?! Não vai ajudar-nos, foda-se!

Rose precisa de uns segundos para ordenar as ideias mas não os têm pelo que agarra algumas armas. Julia abraça Charles, que treme, assustado.

-Vou escoltar-te até Luke. Vamos ver cada divisão do palácio, se for preciso. Vou salvá-los, Jules.

-Princesa, n-não... vão matá-la...-Julia protesta.

-Eu sou a autoridade. Promete-me que segues as minhas ordens.

-Eu ... Eu prometo.-ela garante, ganhando coragem dentro de si. Para acompanhar alguém como Rose, era necessária muita coragem e... alguma loucura.

-Segue-me.

Alguns intrusos são encontrados pelo caminho e Rose tem já os braços dormentes e feridos mas nem por um segundo Julia, atrás de si, deixou de se sentir segura.

Alguns criados foram retirados do palácio, aprisionados em salas, correndo pela sua vida para o jardim, tossindo com o fumo.

-ROSE!-Luke grita, ao avistar a princesa.

A rapariga indica um esconderijo na cave a Julia, ordenando-lhe que não saia, e vira-se, mesmo a tempo de se defender de um intruso.

-LUKE, FUJA!-Julia chora, quando alguns homens agarram Rose, que não luta mais dado um murro. A senhora bate no cavalo e este assusta-se, começando a correr.-TRAGA AJUDA!

Corpos dos criados, lutando para respirar, seguem-no até sair do palácio.

Luke sente algo pela primeira vez desde que a mãe o pontapeou para fora de casa. Sente... medo, revolta. Quer voltar para trás mas o cavalo continua a andar por um caminho que desconhece.

Loyalty [cth] TerminadaOnde histórias criam vida. Descubra agora