Na estrada para São Paulo, Daniel me conta que trabalha para uma agência de turismo e que acabou unindo o útil ao agradável porque ele ama viajar e capturar momentos, pessoas e lugares bonitos através da lente de sua câmera e é aí que em toda parada que temos ele faz questão de tirar algumas fotos minhas, eu obviamente fico super tímido com tanta atenção, sempre odiei sair em fotografias e na minha comunidade a maioria dos dados são transmitidos oralmente de um cigano para o outro, dessa forma é difícil achar artefatos sobre a nossa cultura, o que acaba dificultando um pouco o estudo sobre meu povo, porém, em compensação deixa as coisas mais preservadas.
Quando estamos longe do radar da polícia rodoviária, ele me deixa dirigir, porque apesar de saber dirigir muito bem, eu não tenho carteira e ele ficou com medo de sermos parados e autuados. Daniel faz questão de que eu tire carteira assim que eu me estabelecer em São Paulo. Ele parece mais animado que eu com essa repentina mudança. Ele começa a falar da filha dele e quando me dou conta também estou falando de mim, da minha vida como Calon e de Vladimir... Parece que Daniel e eu nos conhecemos há muito tempo e apenas nos reencontramos. Nossos assuntos desembolam rápido e gozamos de uma cumplicidade ímpar. A parte ruim de falar sobre Vladimir é que eu começo a pensar nele e automaticamente minha mente viaja até ele. Amanhã é o dia da entrega de Iaskara e eu não estarei lá. Como não há mais nenhum homem na família essa função será transferida para o padrinho que ela escolheu, mas tudo acontece com a supervisão da minha mãe, pois ao contrário do que os gadjés pensam, as mulheres também tem um importante papel na comunidade. O que será que eles estão pensando de mim? Será que estão se perguntando por que eu fugi? Será que alguém desconfia do meu envolvimento com Vladimir? Logo eles farão sexo pela primeira vez e algo em mim se contorce de ciúmes, raiva, decepção e tristeza. Ele se conectará a ela de uma forma que nunca se conectou a mim e nunca irá. Acho que nunca mais iremos nos ver de novo e mesmo se nos víssemos, eu não sei se poderíamos reviver o passado...
— Você fica ainda mais lindo pensativo... — Daniel comenta me chamando para a realidade novamente e só então eu percebo que ele está tirando fotos minhas de perfil.
— Você vai acabar queimando sua máquina... — falo sincero mas com um tom de brincadeira.
Ele ri e de repente tem um súbito:
— Vira a direita na próxima entrada, eu amo observar o céu daqui.
Faço o que ele me pediu e saímos do carro. Sentamos no capô e eu tenho que concordar com ele. Essa paisagem é simplesmente incrível. As luzes do luar constratam com as da cidade lá embaixo e o negrume da madrugada.
— NÃO é lindo?
— É sim.
Daniel se aproxima repentinamente e começa a me beijar, confesso que sou pego de surpresa mas de um jeito bom porque ele sempre toma a iniciativa e isso me poupa de tomá-la e receber uma reação negativa da parte dele. Logo o beijo ganha mais energia, nossas línguas se enlaçam uma na outra. Ele começa a arranhar minha nuca, puxar meu cabelo, e mordisca meus lábios. Suas mãos adentram minha camisa e solta os botões que ainda estão fechados e arranha todo meu peitoral. Um gemido escapa da minha boca para a dele sem minha concepção e ele sorri entre meus lábios, satisfeito em me fazer sentir prazer. Sua mão direita escorrega para dentro da minha calça e adentra minha cueca. Ele expõe meu membro já empedrado pelo efeito de suas carícias e me toca deliciosamente, começa devagar e aumenta o ritmo, também quero proporcioná-lo prazer então também coloco a mão dentro da sua intimidade e toco seu sexo, depois penetro dois dedos em sua fenda e gememos em uníssono. A brisa da madrugada, o céu estrelado e os sons da mata ao redor tornam o ato ainda mais intenso. Estar intimamente nele me deixa fora de mim e eu sinto vontade de preenchê-lo novamente, mas ele me surpreende ainda mais ao se ajoelhar e engoli-lo com uma vontade furiosa. Minhas pernas chegam a enfraquecer. Sua boca me engole até onde dá e solta, deixando um rastro de saliva, e depois ele lambe a cabeça em movimentos lentos e repetitivos, me seguro no capô, quando ele percebe que eu vou explodir, ele tira a boca mas continua me estimulando até eu ejacular expressando minha satisfação com um urro. Ele acaba de tirar a minha camisa e me dá exigindo com um tom de brincadeira:
— Se limpa, não quero que você suje o banco.
Rio mais de nervoso do que realmente achando alguma graça. Daniel consegue me levar do céu até o chão em questões de segundos e isso só me faz achar que ele tem muita chance de ocupar o lugar do Vladimir em meu coração.
Está quase amanhecendo quando finalmente chegamos em São Paulo. A cidade tem um brilho diferente agora que estou literalmente no interior dela, já que minha comunidade e eu sempre acampávamos longe de centros urbanos, dando preferência para terrenos abertos onde pudéssemos montar nossas tendas e próximos de rios, lagos, ou cachoeiras para termos um acesso fácil a água, e também para ficarmos o mais longe possível dos olhares preconceituosos dos gadjés.
Enquanto Daniel dirige pelo trânsito caótico, vou observando cada detalhe dessa cidade grande como um menino empolgado que acabou de ganhar um brinquedo novo. Até que chegamos no prédio onde Daniel mora e ele entra pela garagem.
— Enfim em casa!
— Eu não ia reclamar nada se tivéssemos continuado andando por aí... Achei a cidade linda.
— NÃO se preocupe, vamos ter muito tempo para conhecermos tudo o que você quiser.
Sorrio satisfeito. Parece que estou vivendo um sonho com Daniel, mas este sonho se torna um pesadelo assim que adentramos seu apartamento e um homem nos recebe chamando Daniel de amor e o beijando nos lábios. Meu mundo desmorona nesse momento e todas as minhas expectativas são frustradas.
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Beba deste cálice (CIGANO/GAY)
RomanceRamon é cigano, pertence a etnia Calon e cresceu levando uma vida peregrina pelo Brasil até sua comunidade finalmente conseguir se instalar em terras mineiras. Ele se entende gay e terá que enfrentar a própria cultura para ser quem realmente é.