Cap 8

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Vladimir

Ainda estou estarrecido e incrédulo. Eu não acreditei que o Ramon tivesse mesmo coragem de fugir, ainda mais sem mim... Ele simplesmente me deixou e agora eu pareço realmente a marionete que ele disse que eu sou. Minhas ações são completamente automáticas e minha mente só consegue focar nele. Onde ele estará? Ainda sinto em meus lábios o gosto do último beijo que ele me deu antes de partir. Se eu pudesse voltar no tempo, o que eu faria? Teria tido coragem de fugir com ele? Teria retribuído o beijo? Me declarado para ele? Por que eu sou tão covarde?

— Está tudo bem com você meu filho? — meu pai pergunta tocando em meu ombro, me retirando dos meus pensamentos. Só agora me dou conta de que estou na minha tenda de casado que dividirei com Iaskara e futuramente com nossos filhos até que eles também se casem, um ciclo que se repete há gerações, esperando o ritual de pureza concluir na divisão ao lado, enquanto os homens esperam do lado de fora, as mulheres a acompanha. Será que Iaskara somente se casou comigo obrigada, pressionada e influenciada pela nossa cultura? Será que ela me ama mesmo ou assim como eu é só o destino que ela está seguindo? — Vladimir meu filho. Você está nervoso, ham? Não se preocupe, Iaskara é uma moça muito virtuosa. Vai dar tudo certo. Florência e Lorenzo a educaram muito bem — meu pai discorre acreditando que eu estou preocupado com Iaskara não ser mais pura pra mim só porque estou tão calado. Tenho certeza que ela não se entregou a ninguém. Ela jamais faria isso porque segue fervorosamente nossas tradições.

— Er, não, eu, está tudo bem, pai... Eu só estava pensando em Ramon. Será que ele está bem?

Ele solta uma bufada impaciente: — Já te falei para tirar Ramon da sua cabeça. Ele foi embora porque quis. Sempre deu sinais de que não estava feliz nem satisfeito em ser quem ele é, um cigano! Não tem como mudar isso meu filho e ele preferiu renegar o próprio sangue.

— Tem razão — finjo que concordo porque sinto que da próxima vez que falar com ele sobre Ramon bem capaz de levar um pescoção por insistir nesse assunto.

Não sei se é por causa da minha ansiedade, mas parece que esse ritual está demorando mais do que o normal. Eu participei dos rituais de pureza nos casamentos dos meus irmãos e não demorou tanto quanto está demorando com Iaskara. Será que ela não é mais pura? Quando esse pensamento invade minha mente, a anciã ultrapassa a cortina cantando e dançando segurando um pano branco manchado com a pureza de Iaskara. Eu fico aliviado, mas não por mim, e sim por ela, já que se a pureza não dar sinais, a moça fica mal vista. Ramon vivia me dizendo que isso de virgindade é relativo, pois as pessoas podem ter relações sexuais sem penetrações e vendo por esse lado eu não sou mais virgem porque Ele e eu fazíamos sexo de várias maneiras, com as mãos, com a boca... Concentre-se Vladimir. Logo em seguida Iaskara aparece ao lado de sua mãe, dona Florência, as duas sorrindo, extremamente felizes e chorando de emoção. A comemoração se inicia, uma música começa a tocar e nós bebemos e comemos enquanto conversamos mais especificamente sobre nossa vida de casados e como um casal honrado deve se portar. Ambos devemos ser fiéis e leais, cuidar um do outro de acordo com o papel de cada um, no meu caso trazendo o sustento para a casa e zelando para que ela mantenha sua dignidade intacta e ela cuidando do nosso lar e dos nossos filhos que virão.

Já é noite quando enfim minha família e a família de Iaskara se despedem e nós ficamos juntos sozinhos pela primeira vez. Ela parece nervosa e eu não nego que tambem estou já que não sei muito bem o que fazer.

— Vou tomar um banho. Tirar os vestígios da festa — ela avisa tímida.

— Vou fazer o mesmo, lá no rio, já volto — digo isso e saio da tenda praticamente correndo, evitando o inevitável ao menos por hora, já que mesmo que não estejamos com vontade de transar, temos que fazer isso porque no dia seguinte teremos que mostrar a mancha de sangue no lençol. Faz parte do costume.

Beba deste cálice (CIGANO/GAY)Onde histórias criam vida. Descubra agora