O que ela faz aqui?

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No dia seguinte, Estêvão e eu nos arrumávamos para irmos trabalhar. Estava com um vestido tubinho preto e um salto da mesma cor, coloquei acessórios pratas para compor o look escolhido e fiz uma maquiagem mais leve porém usava um batom vermelho matte pois assim não haveria necessidade de retoca-ló tantas vezes ao dia.
Estêvão se arrumava ao meu lado, no espelho, após colocar seu terno e deixar a camisa social com dois botões abertos como eu havia lhe pedido, ele passou o perfume colocando um relógio também prata nos pulsos e calçando um sapato social preto nos pés, dando o charme que faltava em seu visual, o observava enquanto terminava de me arrumar pelo espelho de minha penteadeira.
- Amor, você está maravilhoso - disse me virando para ele.
- Você quem esta maravilhosa, minha vida. - Disse vindo em minha direção, fazendo-me levantar. - Está perfeita. - me deu um selinho demorado, acariciei seu rosto enquanto o abraçava.
- Amor, vamos tomar café? Quero dar a frutinha da Luísa antes de sair - disse alegre.
- Vamos, querida - respondeu, enquanto pegava suas coisas e eu minha bolsa.
Descemos colocando nossas coisas na sala e caminhamos de mãos dadas até a cozinha onde Nice havia acabado de colocar Lulu na cadeirinha de alimentação, para iniciar seu café da manhã. Luísa fez uma festa quando viu seu pai chegar, me fazendo ter um certo ciúmes mas ao mesmo tempo admirar o amor que eles tinham um pelo outro.
- Papa, papa, papa - dizia Luísa enquanto batia palhinhas e sorria para Estêvão.
- Oi minha princesinha, papai chegou - disse ele pegando ela no colo e a enchendo de beijos.
- Mama, mama - disse se lembrando de mim - Quelo esse - apontou para meus seios.
- Mamãe vai te dar, seu mamá, meu amor - disse sorrindo a ela enquanto a pegava em meu colo.
Me sentei com ela na cadeira ao lado direito de Estêvão que sentava na ponta da mesa, retirei meus seios do vestido que eram próprios de amamentação, o que facilitava a amamentar minha filha. Enquanto ela mamava, Estêvão tomava seu café para logo depois dar café para Luísa para que eu pudesse também me alimentar.
Eu sempre deixava que ela mamasse no período da manhã pois durante o dia estava trabalhando e ela não poderia mamar como gostava tanto. Mesmo que isso partisse meu coração. Nice preparava minha vitamina de mamão com morango e banana, como toda manhã e Estêvão se levantou pegando os morangos cortados em pedaços pequenos para dar nossa filha que terminava de mamar naquele exato instante.
Estêvão a pegou no colo colocando-a na cadeirinha de alimentação novamente ao seu lado esquerdo, dando sua frutinha enquanto eu tomava minha vitamina admirando a cena.
- Bom dia, Nice - sorri - Obrigada pela vitamina. - agradeci
- Bom dia, menina - sorriu alegre.
- Bom dia, Nice - disse Estêvão sorrindo.
- Bo di Nici - disse Luísa nos imitando, batendo palmilhas enquanto sorria mostrando seus poucos dentes.
Uma hora depois, estávamos chegando no hospital de meu esposo, era sua assistente e minha mesa ficava em sua sala, o que me encantava assim estávamos sempre juntos.
Estêvão teria uma reunião às 10h com os demais acionistas e médicos do hospital e como já era 9h decidi organizar suas coisas para quando for à reunião estivesse tudo pronto. Desci ao andar debaixo para imprimir os documentos necessários e quando retornei, cerca de trinta minutos depois, uma das médicas estava na sala de meu namorado, com sua mão em cima das mãos dele e prestes a tentar beija-lo.
- Atrapalho? - disse olhando a descarada da médica Gabriela que insistia em dar em cima do meu namorado desde que começou a trabalhar naquele hospital a pouco tempo. - O que faz aqui? - disse indo até ele e puxando-o para longe dela.
- Vim falar com seu namorado, não precisa ficar brava - disse cínica.
- Não estou brava querida, apenas não chegue tão perto e nem o toque desta maneira mais. - disse com ódio.
- Tchau, queridos - ela disse saindo rebolando da sala.
- O que essa mulherzinha veio fazer aqui, Estêvão? - disse nervosa.

Por Estêvão

Quando Maria saiu para imprimir os documentos, eu comecei a olhar a agenda do dia de hoje para ver quais os pacientes e reuniões teria, mas logo me assustei quando vi a doutora Gabriela entrar na sala sem bater e sem que minha Maria estivesse comigo, sabia que isso não ficaria bem. Maria entrou na sala justo no momento em que ela se aproximou demais de mim e colocou suas mãos sobre as minhas, sem me dar chances de me separar e mais uma vez dizer para que ela se retirasse, Maria mesmo o fez, me puxou para ela. A abracei enquanto ouvia Maria em alto bom tom porém educada, a expulsar de minha sala. Sabia que Maria era tão ciumenta quanto eu, e também sabia que Maria certamente brigaria comigo pela cena presenciada.
- Amor, você chegou justo quando ela se aproximou, eu já havia dito para que ela se afastasse - a respondi calmo.
- Você disse para ela se afastar e continuou parado Estêvão? - disse brava retirando suas mãos de minha cintura.
- Não deu tempo de fazer mais nada, Maria, você chegou na sala e você mesma me puxou para longe dela, não lembra? - disse ainda baixo porém firme.
- Lembro, lembro muito bem dela tocando em você e prestes a beija-lo. - disse com ódio - Detesto essa mulher, você sabe disso. - continuou.
- Sei que a detesta pelas coisas que faz mas aqui é meu trabalho e sabe que não gosto de escândalos. - passei as mãos em meu rosto buscando paciência - Por isso prefiro me afastar.
- Sei que não gosta de escândalos e desculpa se agora eu demonstrar que não gostei de algo se tornou irrelevante pra você. - disse brava andando pela sala.
- Em momento nenhum eu disse isso, Maria. - fui até a porta de nossa sala, trancando-a.
- Pois então, NÃO GOSTEI DO QUE EU VI, ESTÊVÃO. - disse praticamente gritando enquanto seus olhos imploravam para que ela deixasse que as lágrimas rolassem.
- Você viu que eu não fiz nada, Maria, jamais lhe trairia, você sabe disso. - disse mais calmo, sabia das suas inseguranças.
- Sei que jamais faria isso mas me deixou magoada a cena que presenciei, porque ela estava perto demais e você estava calado. - disse deixando as lágrimas rolarem.
- Meu amor, jamais gostaria que outra pessoa me tocasse ou me acariciasse que não fosse você. - disse indo até ela, levantando-a e enxugando as lágrimas que rolavam em seu rosto.
- Vai para sua reunião, não pode se atrasar. - ela disse apenas depois de deitar por segundos em meu ombro esquerdo.
- Tudo bem, Maria - disse apenas, iria respeitar seu tempo embora estivesse magoado com toda essa situação.
A reunião durou cerca de duas horas e quando sai da sala de reuniões, Maria havia deixado um recado avisando que tinha ido almoçar com sua amiga Helena, assistente de um dos médicos do hospital. Suspirei triste, queria almoçar com ela e poder fazer as pazes mas me sentei na mesa e fui trabalhar, não tinha ânimo e nem vontade para ir almoçar ou pedir algo para comer na empresa mesmo, decidi apenas tomar um café puro e assim o dia seguiu.
Ao chegar em casa, Maria e eu ainda não conversávamos, eu sabia que ela estava magoada e também que eu poderia ter feito mais para separar aquela mulher e não fiz. Eu também errei, me culpei durante todo o dia enquanto a observava com um olhar triste e as lágrimas nos olhos que insistiam para sair.
Ela foi tomar banho depois de brincar um certo tempo com nossa pequena e eu fiz o mesmo enquanto ela tomava banho, subi para o quarto e a vi de longe deitada na banheira, ela estava realmente bastante magoada, entrei no banheiro me sentando no chão dele de frente para ela.
- Me desculpe por não ter me afastado amor, eu juro que pensei em fazer isso mas você chegou e logo o fez. Não estou me justificando, pois sei que também errei em não retirá-la no mesmo momento da minha sala.
- Você deveria ter feito isso mesmo, mas não fez. - disse enxugando suas lágrimas.
- Prometo que da próxima vez, vou pedir que ela se retire imediatamente ou só Va há minha sala quando você estiver presente - disse segurando minhas lágrimas para que não chorasse - Eu te amo, Maria, me perdoe por te magoar dessa forma.
- Eu também te amo, Estêvão. - disse me olhando pela primeira vez no do depois da discussão em nossa sala - Mas se essa mulher aparecer mais uma vez na sala com você sozinho, eu vou bater em vocês dois. - disse seriamente.
- Combinado, meu amor - disse sorrindo indo até ela, lhe dando um beijo como eu gostava.
Ela continuou na banheira enquanto eu tomava meu banho no chuveiro, conversávamos e como meu coração estava aliviado por finalmente estarmos bem novamente. Ao terminar nossos banhos, coloquei nossa série na Tv, enquanto Maria colocava Luísa para dormir, nos sempre reversávamos porém Luísa quis a mamãe dela nessa noite, então a respeitei.
Maria entrou no quarto, um tempo depois, se sentou ao meu lado colocando suas pernas sobre as minhas, pegando o celular e ficamos um tempo respondendo as mensagens de nossos amigos e familiares. Começamos a assistir nossa série juntos, vez ou outra, eu a observava vestida em minha camisa social branca e os cabelos presos em um coque mal feito, ela estava magnífica, ela era perfeita.
Essa mulher é a calmaria dos meus dias e a paz do meu coração, eu não seria ninguém sem ela ao meu lado. Já vivemos muitas dificuldades até aqui, conhecia suas inseguranças, medos e dores assim como suas qualidades, força e o lindo coração que ela possuía. E eu a amava com tudo isso. A amava verdadeiramente com todas as minhas forças. Porque ela é o que me move, o meu mundo.

Por Maria

O dia não havia sido fácil, a insegurança nunca bateu tão forte em meu coração como hoje, me senti incapaz e insignificante perto de Gabriela, aquela descarada, pela sua beleza. Sabia que ela era apaixonada pelo meu namorado e eu não podia perdê-lo, apenas pensar nessa possibilidade me destruía. Graças a ela, nós brigamos, voltamos para casa magoados e destruídos com tudo que ouve. Eu sabia que Estêvão sabia das minhas inseguranças e que eu de fato não havia gostado da cena que presenciei, eu não pude me controlar, e acabei tambem descontando a raiva nele embora soubesse que ele jamais me machucaria dessa forma. Mas e a insegurança que foi plantada em mim por tantos anos? Ela ainda permanecia aqui por menor que fosse, ainda havia.
Chorei muito com medo de perdê-lo durante o almoço com minha amiga e também no banho enquanto ele cuidava da Luísa, mas tudo ficou bem porque ele mais uma vez foi o bálsamo das minhas feridas. Eu não conseguiria mais sem ele. Eu o amo, e talvez por isso, tenha um medo imenso de perder ele.

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