Vigésimo Sexto Capítulo

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Está tão tarde e eu me encontro aqui, acordado, sentindo que o tempo não passa. Dormir durante a tarde definitivamente não foi uma boa ideia.

Ian essas horas já deve estar lutando com dragões em seus sonhos e eu... apenas observando as estrelas. Por que tantas vezes as outras pessoas parecem tão felizes, tão calmas e melhores do que eu? Já tenho idade o suficiente para saber que não é bem assim, mas por que essas coisas importam? Há tantos outros acontecimentos importantes no mundo para ocupar minha mente, porém na maioria das vezes só penso em "idiotices".

ㅡ Cala a boca. ㅡ Me assusto ao ver Ian, muito bem acordado, olhando para mim. ㅡ Você fala muito.

ㅡ Quê? Eu não disse nada. Desde quando você está acordado?

ㅡ Não precisava nem falar, seus pensamentos são altos demais! O que está acontecendo?

ㅡ Você é um estranho, eu não vou te falar sobre a minha vida.

Hipócrita.

ㅡ Melhor ainda, eu sou um estranho, não conheço nenhuma pessoa próxima de você, não faria nada com essas informações. ㅡ Ele está mesmo desesperado para ouvir a fofoca, não é?

ㅡ Ok... Há alguns meses eu vim para este colégio, conheci Benjamim e assim fomos felizes para sempre.

ㅡ Essa é a história que você conta a si mesmo antes de dormir, me fale a real. ㅡ Não tenho como discordar.

ㅡ A real é que os pais dele não nos aceitam, por isso ele não está mais aqui...  ㅡ Fico em silêncio por um tempo. Se as coisas pudessem ser diferentes. ㅡ E pensar que se eu fosse uma menina... ㅡ Ian interrompe.

ㅡ Você não é! Nem ouse pensar nisso, você não é o erro aqui para pensar algo assim, os pais dele quem deveriam estar pensando "e se nós fôssemos diferentes? Talvez algo como bons pais?".

ㅡ Não fale assim, você não entende! Exige tanta coragem dizer ao mundo como nós somos.

ㅡ Quem te disse que eu não entendo? ㅡ Ah...

ㅡ Perdão. Estou sendo imaturo, já entendi tantas coisas sobre nossa situação mas ainda não entendo o porquê. Por quê?

ㅡ Eu não sei responder, mas uma pessoa muito legal uma vez me disse que nós somos os protagonistas, precisamos viver conflitos. Quando estou triste e lembro disso, continuo triste... mas consigo sorrir.

ㅡ Eu não conheço muitas pessoas legais para me falar essas coisas.

ㅡ Bom, eu acabei de falar. ㅡ Ele ri.

ㅡ Conviver com uma pessoa que se acha é assim? ㅡ Pobre Benjamim. O som baixo de nossas risadas preenche o quarto por alguns segundos. ㅡ Eu preciso andar.

Ian aponta para a grande janela, que ainda segue um modelo de arquitetura antiga assim como o restante do colégio, analiso ela. Pular não seria um problema.

ㅡ Mas por quê? Acho que não tem nada de errado em apenas sair pela porta.
ㅡ Que sem graça, cadê a emoção?

ㅡ Tem razão.

Apoio minhas mãos no batente da janela e com um pulo já estou do outro lado, observo a grama lembrando do dia em que Benji e eu caminhávamos pelo jardim, automaticamente me vejo indo para lá, sendo atraído pelas lembranças. 

Chegando ao local noto uma figura masculina sentada no banco, observando o céu. Não acredito, é ele!

Mesmo empolgado tento me aproximar sorrateiramente, Benjamim está tão distraído que não nota a minha presença até eu me sentar no banco também. Benji me olha, pisca algumas vezes como se eu fosse uma ilusão.

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