Capítulo 37

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As minhas mãos estão a tremer e eu volto a reler a mensagem mais uma vez.

Leonardo: Maitê!

Olho para o Leonardo que está à minha frente

Leonardo: Você está pálida.

Volto os meus olhos para a mensagem. Ele não faria isso. William não me trairia. O meu coração aperta e se essa mensagem viesse antes de Paris, eu a ignoraria e confiaria no meu marido. Mas hoje, não possuo tanta confiança assim. 

Eu: Preciso de sair!

Guardo o meu telemóvel e levanto-me.

Leonardo: Onde vai?

Eu: Resolver uma coisa.

Ando acelerada para fora do seu escritório e vou pegar a minha carteira.

Leonardo: Maitê, você não está bem para sair assim.

Eu: Eu preciso!

Desejo de todo o meu coração estar errada e me arrepender da desconfiança, mas eu preciso ir. Preciso ver o que tem nesse endereço. 

Eu: Deixe o Pedro no meu lugar. Ele vai saber o que fazer até eu voltar.

Digo ao Leonardo, enquanto tiro o meu dolmã e o meu lenço. Coloco uma blusa e pego a minha carteira. 

Leonardo: Vou com você. 

Ele fala parando na porta, impedindo-me de sair. 

Eu: Não precisa. 

Leonardo: Você está nervosa, pode acontecer alguma merda. Levo-te a onde desejar, mas não vou deixa-la sair assim. 

Os seus olhos suplicam-me para deixa-lo vir. 

Eu: Certo! 

Dá-me passagem e vamos para a porta do restaurante. Leonardo grita algumas ordens, enquanto aviso Pedro que a cozinha é dele até eu voltar. 

Os meus olhos estão no GPS do meu telemóvel na minha mão. Ele aponta apenas cinco minutos para chegar ao destino e o meu coração bate tão forte que chega a doer. Por alguns segundos lembro-me de quando a minha mãe descobriu da traição do meu pai e como gritava a sua dor e chorava. Foi a cena mais horrível que já presenciei na minha vida. A forma como ela parecia morrer por dentro e por fora me assustava. Não faço ideia de como vou ficar se William estiver me traindo. Não quero ser como a minha mãe. Não quero morrer, matar quem eu sou por um amor. Mesmo que seja o amor da minha vida. O GPS anuncia que chegamos ao local. Olho para o lado direito e vejo um restaurante. Suspiro aliviada por não ser um local de encontros amorosos. Desligo o GPS e olho para o Leonardo. 

Eu: Fique aqui! 

Leonardo: Tem a certeza? 

Segura a minha mão com força. 

Eu: Tenho! Acho que serei rápida. 

Solto a minha mão da dele e em seguida o meu cinto. Abro a porta do carro e saio de dentro dele. A sensação é que estou fora do meu corpo, apenas assistindo à minha vida de camarote. Fecho a porta do carro e enfio o meu telemóvel no bolso. Ando a passos calmos em direção ao restaurante e mantenho a minha respiração o mais controlada possível. Paro em frente à porta e as minhas pernas travam. Questiono-me se estou fazendo a coisa certa. Recuo alguns passos, perdendo a coragem. Começo a andar pela calçada, paralelo às janelas de vidro do restaurante. Os meus olhos vagam para dentro e então paro de andar ao ver o que mais temia. William está com uma mulher. Os meus olhos ficam desfocados pelas lágrimas que querem sair. Limpo o que consigo das lágrimas e mantenho os meus olhos neles. Não é qualquer mulher! É a riquinha nojenta que deu em cima dele e insinuou que engravidei do William para prendê-lo. Não acredito que ele está aqui com ela. Não acredito que está me traindo com essa mulher. A cretina está rindo de forma chamativa para ele que apenas a observa sem qualquer expressão. Disse-me que nunca mais chegaria perto dessa mulher. Sinto um embrulho no meu estômago. A ânsia é tão forte que só tenho tempo de virar a cabeça e soltar tudo na calçada, enquanto me apoio na parede. O meu corpo vai amolecendo e o choro é inevitável. Como pode fazer isso comigo, com a gente? 

Leonardo: Maitê!

A voz apavorada do Leonardo surge atrás de mim e as suas mãos seguram os meus braços. O choro domina o meu corpo e limpo a minha boca com a manga da blusa, abafando o som de dor que escapa dela. Não quero ser a minha mãe... Ele me abraça forte e tento de alguma forma encobrir o meu choro e o meu sofrimento contra o seu peito. 

Leonardo: Merda! 

Leonardo fala baixinho. 

Leonardo: Você viu o William? 

Eu: Tira-me daqui! Por favor! 

Imploro e rapidamente ele me arrasta para o carro. Coloca-me no banco do passageiro e prende o meu cinto. Fecha a porta e corre para o lado do motorista. Enquanto me encolho no banco e choro, ele entra no carro e coloca o cinto. 

Leonardo: Vou te levar para sua casa. 

Eu: Não! 

Peço olhando para ele, tentando parar de chorar. 

Eu: Leva-me de volta para o restaurante. 

Não quero que o meu filho me veja assim. Não quero que tenha essas lembranças da minha dor, como tenho da minha mãe. 

Leonardo: Você não tem condições de trabalhar assim.

Eu: Só preciso de ficar calada num canto. Por favor! 

Leonardo respira fundo e liga o carro. 

Leonardo: Vai ficar no meu escritório. Mas quando fechar o restaurante, eu te levo para sua casa.

Não digo nada e seguimos de volta para o restaurante. Observo pela janela do escritório, o sol começar a nascer. Já devem ser cinco horas da manhã. A cozinha deve estar limpa, o restaurante vazio e arrumado, os funcionários indo embora e eu aqui. Fecho os meus olhos buscando forças para sair deste sofá e tentar decidir o que fazer. 

Leonardo: Oi! 

Olho para a porta do escritório e Leonardo está com um sorriso quadrado para mim. Entra e fecha a porta. Anda até onde estou e senta-se de frente para mim. 

Leonardo: Precisa de alguma coisa?

Nego com a cabeça. 

Leonardo: Quer voltar para sua casa? 

Nego novamente com vontade de chorar. 

Eu: Não sei o que fazer. Parece que o meu mundo desmoronou.

Leonardo: Imagino! 

Segura a minha mão tentando ser fofo. 

Leonardo: O que o seu coração está dizendo para fazer? 

O meu telemóvel começa a tocar e eu respiro fundo antes de ver quem é e decidir se quero atender. O número não é do Brasil. 

Eu: Alô! 

xX: Maitê!? 

É o Oliver e eu fico em choque. 

Oliver: Esse telefone é da Maitê? 

Eu: Sou eu, Oliver! Aconteceu alguma coisa? 

Oliver: O seu prazo termina hoje. Preciso de uma resposta. Você aceita assumir a minha cozinha?

Os meus olhos estão no Leonardo, que me observa atento. 

Eu: Sim! 


Continua...

O amor vence barreirasOnde histórias criam vida. Descubra agora