Relatos

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— A sua fazenda é muito agradável, Sra. Dorothy. Sua filha me contou que ama este lugar — afirmei — é uma pena ter que aumentar a segurança depois que a garota morreu.

— Stacy tinha quase a mesma idade que Suzanne. É normal que eu sinta medo — disse ela.

— Tem razão. Podemos voltar um pouco ao passado?

— Se não demorar muito.

Não é fácil definir o que faz certas pessoas adotarem uma postura que vai de encontro à aniquilação da vida. Monstros que têm como único objetivo a violência, o extermínio e o massacre de inocentes. Os sociopatas são trabalhados a partir de uma perspectiva psicológica de declínio mental, fatores genéticos ou algum episódio violento ocorrido durante a infância, mas que não justifica as atrocidades que esses indivíduos cometeram.

O que muitos não sabem é que existem sociopatas levando vidas comuns por aí. Eles possuem ótimos empregos, namoram e até se casam na igreja. Aparentemente, escondem-se do público que não lhe interessa. E se transformam em uma espécie de agente especial maligno, mostrando a verdadeira face apenas para as suas vítimas na hora da morte.

— Sra. Dorothy, eu preciso que você me diga uma coisa. Quem comprou o galpão que pertenceu a sua fazenda? — Perguntei.

— Isso pode ajudar nas investigações? — ela pareceu incomodada.

— Nós encontramos o corpo de Kimberly Lancaster no galpão, no começo do ano. Kimberly estava presa por um gancho, em cima do teto.

— Entendo. É uma pena vermos jovens serem assassinados de maneira tão brutal. Mas já faz três anos que vendi o terreno do galpão. Sinceramente, não faço ideia quem seja o comprador, porque ele nunca apareceu por aqui.

Psicopatas podem ser frios e calculistas, enquanto sociopatas tendem a agir de forma mais impulsiva e irresponsável. Tudo depende da maneira como foram criados, do ambiente, de suas relações e os seus traumas durante a infância. Mas uma coisa é certa, todo eles são manipuladores e mentirosos, e não têm empatia, nem laços afetivos por qualquer pessoa.

Os psicopatas querem evitar riscos. É mais comum que seus crimes sejam feitos com antecedência. Na maioria das vezes, eles se aproveitam de pessoas vulneráveis para lucrar em cima do sofrimento alheio. Entretanto, como os sociopatas são mais impulsivos, seus surtos de violência acabam deixando pistas comprometedoras ao longo do caminho.

— Sra. Dorothy, existe algum endereço ou alguma informação do comprador que seja útil para a polícia?

— No dia em que assinei o contrato da venda, havia um Procurador Legal representando um frigorífico.

— Como era esse homem?  — Perguntei.— Poderia descrever com detalhes?

— Não sei se posso descrever com detalhes, srta. Norman. Desculpe, mas minha memória não é melhor do que quando eu tinha vinte e cinco. Estou ficando velha.

— Então apenas descreva.

— Deixa eu pensar...

Psicopatas são confiantes por natureza extrovertidos e galanteadores. Eles conseguem dominar através das palavras, fazendo os outros acreditarem que sua confiança é digna de um prêmio. Durante os anos que estive na polícia, eu vi muitas mulheres caindo em suas lábias. Os assassinos conseguem reputação, negociações que seriam quase impossíveis, e sexo, sendo este o último estágio, a ponte definitiva para morte. Depois do sexo, o normal é que suas vítimas sejam descartadas, pois elas nao servirão mais.

Os serial killers não fazem parte de uma sociedade atual corrompida. Desde a antiguidade, eles sempre estiveram presentes em muitas culturas. Elizabeth Báthory, por exemplo, uma condessa importante da família Báthory, entrou para a história após cometer crimes horrendos, motivados por uma obsessão obscura pela beleza.

Elizabeth passou boa parte de sua vida no castelo de Csejte, no oeste da Eslováquia. Era filha de Anna Báthory e do barão Jorge Báthory. Ela cresceu em uma época em que os turcos haviam conquistado a maior parte do território húngaro. A garota foi criada na propriedade de sua família em Ecsed, na Transilvânia. Quando criança, Elizabeth sofreu várias convulsões provocadas por epilepsia, o que provavelmente bloqueou suas emoções mais tênues. Naquela época, um dos tratamentos da epilepsia era passar sangue humano nos lábios do doente ou beber uma mistura de sangue de uma pessoa saudável. Isso talvez motivou Elizabeth a se tornar uma assassina em série, em parte pela procura de uma cura para a sua doença, como também pelo simbolismo daquele gesto. Ainda criança, ela passou a apreciar o cheiro e se acostumou com o gosto de sangue em seus lábios.

Vaidosa e muito bonita, Elizabeth ficou noiva do Conde Ferenc Nadasdy aos onze anos de idade e passou a viver no castelo dele, em Sárvar. Em 1578, o conde Nadasdy afastou-se por longos períodos de casa depois de ser nomeado o comandante do exército húngaro. Elizabeth passava a maior parte do tempo sozinha no castelo. A partir daquele momento, suas tendências maquiavélicas apareceram. Ela castigava e torturava os seus próprios criados com alfinetes, lâminas ou tesouras. No inverno, matava suas vítimas obrigando-as se despir e andar pela neve, jogando água gelada até que elas morressem por hipotermia.

O conde Nádasdy morreu em 1604. Após se tornar viúva, os crimes de Elizabeth ficaram cada vez mais cruéis. Além das criadas, ela passou a incluir em sua lista meninas da casa real, duquesas e baronesas notadamente importantes. E passou a acreditar que o sangue de garotas nobres e virgens seria milagroso, capaz de transformá-la em uma mulher muito mais jovem e mais bonita.

É difícil imaginar que seres tão maléficos quanto Elizabeth Báthory tenham existido antes da criminologia e investigação policial evoluírem. Muitos assassinos em série sequer foram julgados. 

— Sra. Dorothy, não tenho o tempo todo do mundo — afirmei. — Como era o procurador?

— Deixa eu pensar... acho que ele era um pouco mais escuro que eu. Alto, magro, pelo menos parecia magro no meio daquele terno preto. Tinha o pescoço pequeno, cabelos brancos e olheiras profundas. Não era charmoso. Acredite. Pergunte a Yasmin se quiser. Minha filha é bem mais rigorosa que eu nesse quesito.

— Por acaso ele era esse homem? — mostrei uma foto de Adam para ela

— Hum... não — Dorothy France observou a imagem e respondeu. — Definitivamente não era ele. Esse é ainda mais velho. Agora posso ir, não é? Já estou cheia desse assunto.

— Eu sugiro que encontre o contrato ainda essa semana. A polícia de Rox virá buscá-lo.

Confissões de uma assassinaOnde histórias criam vida. Descubra agora