Expectativas

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— Sempre soube dos riscos. Quanto mais assassinatos cometemos, mais testemunhas aparecem. — disse Vanessa — Mesmo para alguém amado pelo príncipe, se livrar de tantas testemunhas requer tempo e ajuda.

— Concordamos em alguma coisa. Quinn Solo jamais conseguiria sair impune, se não contasse com informantes dentro da polícia de Rox — afirmei.

— Agente Norman, nao quero ser leviana, mas esse papel coube a mim. Até mesmo a minha prisão foi premeditada. A polícia nunca me pegaria. Eu fiz isso por ele.

— Você matou os garotos para ajudá-lo?

— Sim.

Quinn Solo tentou nos confundir. Como seu Modus Operandis era óbvio demais, ele acreditou que se alguém pudesse cometer assassinatos em regiões próximas a Portsmouth, em um tempo similar aos seus próprios assassinatos, a mudança brusca no padrão de uma morte e de outra afetaria o julgamento da polícia na dedução de sua personalidade. No começo, isso realmente nos atrasou. Nós pensamos que as mortes de Eric Ballard e David Orson fossem responsabilidades de uma só pessoa. Não nos atemos ao padrão a nossa frente. Entretanto, um olhar mais analítico me levou a crer que pudessem existir outros assassinos que se conectavam ao primeiro que escreveu a carta para Lucy Cleimber.

Uma coisa é certa: se Quinn Solo permitisse a si mesmo matar garotas que não fossem ruivas, se ele trabalhasse com pessoas que pudessem realizar seus ideais malucos, modificando os padrões das mortes de maneiras diferentes, combinando-as em um número significativo, e ao mesmo assemelhando-as, talvez o caso nunca fosse resolvido. Talvez demorasse anos ou décadas. Não aconteceu. As amostras eram pequenas demais.

Além disso, a autenticidade e personalidade de Vanessa Jones contribuiu a nosso favor. Ela matou David e Eric por própria vontade, por seus desejos desenfreados. Vanessa cogitou estar doente. Ao ouvir diversas notícias na televisão, concluiu que sentir atração sexual por crianças era algo assustador, que necessitava de tratamento. Entretanto, a vontade se tornou incontrolável e depois se materializou em seu sadismo sociopata. No fim das contas, ela nunca buscou ajuda.

Pesquisas recentes sobre a pedofilia apontam para fatores genéticos e eventos perturbadores como possíveis causas do desenvolvimento do transtorno. No campo comportamental, dissecar o perfil de um pedófilo é complexo e exige cautela, já que a estrutura cerebral de pedófilos e a de não pedófilos não são tão diferentes. Alguns estudos mostraram que os pedófilos possuem menos massa cinzenta em algumas áreas do cérebro responsáveis pela tomada de decisão, do controle de emoções e identificação de erros, principalmente na região que inibe os atos sexuais.

Metade dos criminosos apresenta alterações genéticas em sua função cerebral que podem levar à prática de delitos. Um terço é influenciado pelo ambiente e o restante sofre influência do histórico familiar, seja violência, seja assédios na infância. Assim como os psicopatas, os pedófilos também são sedutores. A diferença é que os jogos de manipulação são mais simplistas aqui.

Carl Parker, neurocientista do FBI que estudou e coordenou o comportamento de Vanessa, disse que existe um elo entre a genética e a prática de crimes, tantos de pedófilos como de psicopatas, mas não é um fator único. Geralmente as mudanças começam a partir da infância e podem ser descobertas com um pouco de atenção e foco dos adultos. Porém, a ligação genética não é suficiente para fazê-los criminosos. Ela precisa ser combinada com os elos multifatorial. Falta de empatia, agressividade, intolerância à frustração... tudo isso leva a uma maior chance de sermos antissociais. Contudo, é a interação de todas as características, a combinação entre genética e ambiente, que nos influenciará definitivamente.

Ao contrário da psicopatia, o estudo da genética na pedofilia ainda caminha devagar. Os cientistas sabem quais os genes que moldam o transtorno, mas não sabem que genes são esses. Os psicopatas sofrem influência genética forte o suficiente para que gêmeos idênticos possuam chances consideráveis de desenvolverem o transtorno. Na pedofilia não é bem assim. Alguns pedófilos preenchem critérios para serem psicopatas, outros não. Nesse caso, levar em conta a base genética é como atirar no escuro.

Confissões de uma assassinaOnde histórias criam vida. Descubra agora