Antes de Quinn Solo aparecer, as pessoas saíam para tomar cerveja, escalar montanhas, ou fazer trilhas perto dos pântanos. Portsmouth era uma cidade tranquila, que passou um ano sem nenhum assassinato. Em agosto, o chilrear dos rouxinóis e suas incríveis variedades de assobios anunciavam a estação mais calorosa. No verão, Mesdra Curie recebia mais visitas que o normal. Muitos compradores abarrotavam sua fazenda e os bagaleiros dos seus carros de frutas, principalmente os donos dos mercadinhos brasileiros. Eu gostava daquele ambiente. Foi ali, atrás dos bosques, onde as raposas enviesavam nas oliveiras, que ensinei Max a ler.
— Ellis, posso brincar no rio? — um dia ele me perguntou.
— Você ainda é pequeno.
— Sophia disse que posso.
— Sophia não sabe de nada.
Durante a noite, acordei e vi Max em cima do meu colo, com uma tesoura nas mãos. Ele tinha cortado algumas mechas dos meus cabelos. Quando os fios flutuaram do sofá até a porta, a raiva subiu dentro de mim.
— O que fez? — gritei — o que fez?
— Sophia disse para cortá-los.
Eu corri atrás de minha irmã pelo quarteirão, com a franja repicada tamborilando meus olhos. Os adultos olhavam, cochichavam e riam de nós. Era assim, há doze anos. Mas aquele 27 de agosto acabou sendo diferente. Sem risos, sem conversas bobas, sem nada. O inspetor Billy Nortgen obteve o mandado de interditar a fazenda. E também, finalmente a sra. Mesdra e eu tivemos nossa conversa particular.
— Ellis, como é bom revê-la! — disse ela. — Como está sua mãe?
— Minha mãe se casou com Chester Landen, um metalúrgico da Geórgia. Ela está melhor do que antes.
— E você?
— Eu estou bem — respondi.
Os policiais de Rox passaram a manhã inspecionando as montanhas, desde os milharais, até o galpão abandonado. Johnny encontrou as sapatilhas da bailarina dentro do mata-burro, amarradas umas nas outras, e o seu cordão banhado a ouro. A perícia conseguiu ver tênues gotas de sangue de Kimberly nos postes de madeira. Provavelmente, ela morreu tentando fugir da morte.
— Sra. Mesdra, eu vim aqui...
— Ellis, eu entendo. É o seu trabalho — ela disse — Eu só peço, por favor, proteja Max. Ele não tem culpa.
— Onde está o seu filho?
— Na aula. Foi mais cedo, quando soube que o colégio abriria. Ele não é um assassino. Mas se as pessoas souberem que é suspeito, não sei o que pode acontecer.
— As investigações estão sendo as mais sigilosas possíveis.
— Você vai interrogá-lo? — Ela perguntou.
— Uma das testemunhas disse que viu Max e Kimberly juntos na praça, na tarde em que ela morreu — afirmei. — Preciso interrogá-lo.
— Os dois estudavam na mesma escola. Eram amigos, desde o segundo ano. Kimberly vinha aqui na fazenda, às vezes. Uma menina incrível. Olhando de perto, seus olhos, seus cabelos ruivos... ela se parecia com você.
Seria uma droga se não fôssemos parecidas. Todas as garotas que morreram eram ruivas. Todas morreram perto de fazendas. Todas elas eram altas e magras. Pode parecer uma grande concidência nossos destinos terem se cruzado novamente, mas é justamente por isso que estou aqui.
— Sra. Mesdra, você já ouviu falar de Elsa?
— Elsa French?
— Sim. Dizem que ela foi assassinada perto de um rio. É verdade?
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Confissões de uma assassina
Misteri / ThrillerEllis Norman é uma agente do FBI que colecionou muitos desafetos no mundo do crime. Quando surge uma série de assassinatos nas redondezas de Portsmouth, ela descobre que há um padrão de vítimas escolhidas para morrer na mesma hora e no mesmo lugar...