Khalid Sheikh Mohammed planejou o ataque as torres gêmeas por trinta dias. Algumas semanas antes de 11 de setembro, dois civis foram colocados em cativeiro pela Al-Qaeda, a mando daquele homem, o cérebro do grupo. Khalid obteve informações de dentro dos edifícios, sobre a planta e a arquitetura dos prédios. Ele enganou o FBI por meses, antes de ser preso na cidade paquistanesa de Rawalpindi.
Lembrar seu rosto me faz lembrar das pessoas tentando fugir das chamas lambendo as janelas, de suas confissões, que hesitou não professar nada. Com Vanessa Jones é igual; os olhos melancólicos de negação. Durante o tempo em que está enclausurada, ela quer advogados. Ela grita, dizendo que tudo não passou de um grande engano.
— Eu sou inocente! Eu sou inocente! Soltem-me!
Vanessa foi transferida e ficou duas semanas em uma solitária, longe da luz do sol e de qualquer contato humano. Íamos vê-la de quinzena em quinzena, antes que ficasse muito desorientada, e menos interessada em nós. Ela não disse sobre as mortes, muito menos sobre o seu querido Quinn Solo.
Um dos agentes penitenciários nos conduziu pelos corredores lúgubres, até o refeitório vazio. Dali sessenta e três minutos, os detentos sairiam para almoçar. Talvez eu reconhecesse algum agente disfarçado, ou um criminoso que prendi. O inspetor Billy e os seus homens de Rox se juntaram com o setor de inteligência do FBI para verem a assassina.
— Inspetor, peça que abram a cela — pedi.
— Vamos começar o interrogatório? — perguntou Billy Nortgen.
— Sim.
O quarto branco de 2m² da solitária quase virou um necrotério. A mesa de leitura, um caderno de pichações. E os cadernos, tabelas de folhas brancas espalhadas pelo chão. Notei Vanessa de joelhos na cama, descabelada, piscando os olhos negros de olheiras mal dormidas.
— A espiã... — ela deu um sorriso bizarro quando me viu. — você é a espiã, de quem ele tanto diz?
— Há denúncias e testemunhas que lhe incriminam. — afirmei. — Você permanecerá presa até decisão da Suprema Corte.
— Matar pessoas e fazer revelações de que elas estão mortas não lhe faz clarividente. — disse Sarah. — Aliás, foi a senhorita que escreveu a carta que levou Lucy Cleimber ao suicídio ou foi aquele que se intitula Quinn Solo?
— O que ganho se abrir minha maldita boca? — Vanessa respondeu.
As mortes das meninas seguiam um padrão único. Olivia, Stacy e Kimberly foram estranguladas, degoladas e decapitadas, por volta do entardecer. Seus corpos estavam abertos e cobertos de tulipas vermelhas. Porém, apenas David morreu afogado e parte dos seus membros foram desfeitos com ácido fluorídrico. Ele morreu de uma forma bastante amadora.
— Vanessa Jones, condenada em Arkansas, 2009, por violentar sexualmente uma criança de oito anos. Condenada no Texas, 2011, por violentar e matar um menino de dez anos. Listada pela Interpol na categoria de criminosos mais procurados dos Estados Unidos. Fugiu três vezes de presídios de segurança máxima e matou um policial em seu horário de trabalho. — afirmou Billy Nortgen. — Você não acha que talvez mereça pena de morte?
— Se a corte quiser me matar, tudo bem. Só peço que seja por injeção — disse Vanessa — quero morrer de uma forma indolor.
— Eles não vão condená-la à pena de morte — respondi. — Os juízes de Virgínia nunca costumam entrar em acordo. A sua pena se transformará em prisão perpétua.
Vanessa demorou entender a notícia. Uma pessoa narcisista como ela, se pudesse escolher, escolheria mais de mil vezes pena de morte, do que prisão perpétua. Passar a vida em uma prisão é assustador, mas passar a vida em um recinto bestial é ainda pior.
Quando eu visitava minha irmã, gostava de dar conselhos à ela. Não ter tanta misericórdia virou um tema recorrente em nossas conversas. A gente se juntava na varanda e lá ficávamos debatendo vários assuntos. Eu perguntava se ela estava namorando ou se Chester era um bom padastro. E ela me perguntava se eu me sentia feliz fazendo as coisas que fazia, condenando bandidos.
— Ellis, é verdade que tem um estuprador em Portsmouth? — Perguntou Sophia, uma vez.
— Você sabe?
— Não precisa esconder de mim. Isso é o que todo mundo comenta na escola. Eu só não entendo por que não pegam um cara como esse. Se as coisas não se resolverem logo, o inverno vai chegar e não vamos mais vai ter terreno pra vender. Ninguém quer comprar terras onde um demônio mora.
— Ele vai ser pego — eu disse a ela — confie na polícia.
— Mamãe tem orgulho do que você se tornou e vive falando de você, Ellis — Sophia sorriu. — Mas ela disse que não me quer na polícia, pois prefere que eu seja uma médica ou professora. É melhor ficar longe de gente assim. Olivia não merecia aquilo.
Olivia Grace teve os pulsos mutilados e os dedos das mãos arrancados, antes de ser morta. Buscamos respostas para tanto horror. Pânico tomava conta das ruas. As pessoas pediam explicações, proteção e segurança. Elas tinham medo, e o inspetor, cada vez mais impaciência.
— Srta. Norman, o seu trabalho custa dinheiro — disse Billy Nortgen, na delegacia. — O seu trabalho nos custou investimentos que não trouxeram tantos retornos. Não há mais condições de Quinn Solo permanecer por aí. Esse homem deve ser preso o quanto antes!
Por causa das investigações, eu tive que me afastar de casa. Eu e minha mãe reduzimos nossos encontros aos fins de semana. Com certeza, aquele foi o nosso pior momento.
— Todas as mulheres que Quinn Solo matou, com exceção de Rebecca Chari, eram jovens entre dezesseis e vinte anos, altas, brancas e ruivas. Elas foram mortas no mesmo local, perto de fazendas, longe da cidade. As flores, esses símbolos... essas mensagens, o que significam? — perguntou Johnny.
— É um padrão de assassinato. Geralmente são feitos por pessoas com transtornos mentais; psicopatas ou sociopatas — eu disse.
Certo dia, um homem matou sua esposa e os seus filhos enquanto dormiam, depois enterrou cada parte de seus corpos em diferentes covas profundas. Quando encontramos os cadáveres, pensamos que estava tentando ocultá-los, mas ele confessou que ouviu vozes mandando fazer os enterros daquela maneira.
— Vanessa tem transtorno bipolar e depressão. É o que consta em seus registros — disse Michael. — Porém, não há nenhum laudo de sociopatia.
No dia 17 de dezembro, Stacy Henker é morta e estuprada no distrito de Overcut. No dia 17 de abril, Olivia Grace é morta perto de uma pequena fazenda. No dia 17 de agosto, Kimberly Lancaster morre em um galpão abandonado. Na madrugada de 23 de agosto, Rebecca Chari tem seu corpo esquartejado e guardado em uma sacola de lixo.
— As flores vermelhas podem ser alusões ao fato das vítimas que morreram no mesmo dia serem ruivas? — perguntou Sarah.
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Confissões de uma assassina
Mystère / ThrillerEllis Norman é uma agente do FBI que colecionou muitos desafetos no mundo do crime. Quando surge uma série de assassinatos nas redondezas de Portsmouth, ela descobre que há um padrão de vítimas escolhidas para morrer na mesma hora e no mesmo lugar...