Confissões de uma assassina

Perdas

Parecia contraditório um assassino obcecado em matar garotas perto de fazendas escolher viver justamente em uma cidade portuária que não tinha tantas terras e as que tinham se encontravam com as águas do mar. Porém, uma certa concentração de ruivas se mudou para Portsmouth, desde os anos 2000. Muitas delas foram fazer castings na agência Midday, outras buscavam realizar seus sonhos de serem atrizes famosas.

Laura Maddison ganhou o papel de Bridget, em Mafiye. O roteiro contava a história do romance proibido entre a sereia Bridget e o pescador Aiden, cujo segredo não podia jamais ser descoberto pelos reis e rainhas de Atlântida. Grande parte do filme foi gravado em Porstmouth, e algumas cenas foram feitas em Virgínia Beach.

Na primavera de maio, Laura saiu do hotel em que estava hospedada e andou até a orla, onde desapareceu. Durante dois dias, os jornais noticiaram que a atriz tinha morrido em uma cena de mergulho, fato negado pelo diretor Chase Connor e pelo interprete de Aiden, o ator Adrian Finler.

Muito tempo se passou até os restos mortais de Laura serem encontrados em Suffolk. A última matéria na televisão noticiou que ela havia sofrido um sequestro. Os policiais de Virgínia Beach interrogou o elenco do filme e algumas pessoas que transitavam no balneário, mas por falta de provas, ninguém foi preso. As mortes que vieram antes a público possuíam caráter de ironia. Entretanto, mais do que chamar a atenção das autoridades, Quinn Solo legitimava o que leu no grimório de Josh Campbell. O seu gosto pessoal por matar, alimentado pelos textos que considerava verdade, fizeram dele um homem perigoso. Quanto mais belas fossem as vítimas, maior seriam seus sofrimentos. Ele gostava de exibir as que serviriam aos rituais. E as que desapareceram misteriosamente, talvez fossem comum aos seus olhos.

— Srta. Jones, eu não sou mãe, então quero ouvir sua resposta. Pense em Sam. É pior encontrar uma filha morta ou nunca mais vê-la de novo? — Perguntei.

— Não sei o que está querendo dizer. Pra mim, tanto faz — disse Vanessa. — Qual o sentido dessa pergunta?

— Eu soube que os pais de Olivia se separaram. Os familiares sofrem quando precisam aceitar perdas importantes. Em compensação, para alguns, é pior quando os entes queridos nunca mais retornam. Todas as semanas a delegacia de Rox recebe ligações de mães querendo saber de suas filhas.

— E daí? Quer que eu fique chorando pelos outros? Ninguém chorou pelo meu sofrimento! Ninguém estava lá para me socorrer quando precisei! Tudo que posso fazer é me isentar disso!

— Desculpe, é só um protocolo de investigação. É estranho que Laura e Alice tenham feito casting para o mesmo papel e as suas últimas viagens foram para Suffolk. Apenas uma pessoa em Portsmouth viajou quatro vezes àquela cidade.

No dia 14 de julho do ano passado, Alice Noan saiu de Portsmouth, pediu carona a mãe e disse que iria a um aniversário de um amigo. Ao ver que a filha não voltou para casa, Elizabeth Noan prestou queixa em Rox. Os policiais realizaram buscas em regiões de mata, sem sucesso. Somente agora os restos mortais de Alice foram encontrados nas alamedas da avenida Meadow Country, ao sul de Suffolk. O Instituto de Antropologia Forense do FBI realizou análises para confirmar se os ossos realmente eram da jovem. Os ossos encaminhados de Suffolk para Washington D.C foram estudados pelo perito forense Mike B. Teli. A equipe de antropologia de Mike contactou testemunhas que ajudaram na buscas. A princípio, os exames de papiloscopia se mostraram insuficientes, mas as análises antropológicas e odontológicas do crânio, além das amostras de DNA nos pedaços de unhas e fios de cabelo disponibilizados pela família comprovou o esperado. O crânio tinha sinais de fratura, indicando uma morte violenta. Os pontos da face convergiram com o exame de estimativa do perfil e apontaram o sexo, altura e ancestralidade, conduzindo ao diagnóstico preciso da garota. Os cães farejadores da Polícia Federal percorreram uma vasta área em busca de novas informações. Mais do que nunca, Meadrow Country não atrairá visitantes tão cedo e permanecerá reclusa pelos próximos anos. Em uma verdadeira caçada, que mais parece um filme de terror, outras dezenas de ossos humanos foram encontrados em Popp Banker, uma das propriedades do assassino, que fez do rancho um tipo de cemitério particular. Segundo a agente Norman, a investigação seguirá com a homologação dos crimes por parte do acusado Paul Riggs. Até a publicação dessa matéria, sua defesa não respondeu nenhuma de nossas ligações.