Confissões de uma assassina

Símbolos

O contrato de venda que Dorothy France assinou era uma peça importante no quebra-cabeça, pois descrevia o frigorífico Tast com todas as credenciais. Sediado em Virgínia Beach, a Tast expandiu com sucesso a sua marca para as cidades mais populosas de Virgínia. A empresa tinha centenas de colaboradores, uma ótima reputação e uma filial em Portsmouth. Porém, quando quis abrir um segundo negócio, há quatro anos, o comércio caiu. Muitos restaurantes e pousadas fecharam as portas e a empresa acabou desistindo do terreno.

É aceitável que a Tast tenha adquirido o galpão como uma fonte de investimento. Isso acontece com frequência quando se trata de mentes visionárias. Mas a maneira como o cadáver de Kimberly estava preso naquele gancho, além dos símbolos descobertos no chão e na parede... É difícil para mim não associar a morte da menina ao frigorífico.

Depois que o FBI conseguiu contactar o acionista majoritário da Tast, o mexicano Julian Sanchez, nós conseguimos investigar toda a área do galpão, desde a entrada até a floresta de pinheiros. O laudo dos peritos não encontrou vestígios de outras pessoas na cena do crime, nem fios de cabelo, pedaços de unha... nada. Admito que foi a maior decepção envolvendo a morte de Kimberly.

Uma coisa chamou a atenção da perícia durante as investigações. Havia latas de comida, embalagens de detergentes, seringas e velas dentro de uma cova concretada, perto dos bosques. Através do luminol foi possível ver muitas gotas do sangue de Kimberly espalhadas nas paredes do galpão, algumas delas formando a logomarca da Tast, outras formando o pentagrama do grimório proibido de Josh Campbell. Os desenhos diziam mais a respeito do esforço que Quinn Solo teve para fazer o ritual, do que sua inteligência propriamente dita.

Quinn Solo não sabia nada de Ciência Forense. Ele desconhecia a hematologia e a sua precisão. Entretanto, a maneira com que o sangue cai e como as manchas se desenham no chão revelam mais coisas do que podemos imaginar.

Ao analisar o sangue presente no local, por meio da luz forense, um equipamento que detecta manchas invisíveis a olho nu, é possível fazer uma estimativa do tempo decorrido após a morte da vítima, descobrir se ela estava em pé, deitada, sentada, ou com qual o tipo de arma foi morta e os últimos movimentos que fez.

Perto do pôr do sol do dia 14 de agosto, Kimberly Lancaster entrou no carro do assassino e foi golpeada na cabeça com um pé de cabra. Ela desmaiou no banco da frente e acordou no dia seguinte, já no galpão. O assassino amarrou as mãos da menina e cobriu a sua boca com uma fita preta. Depois a entorpeceu com altas doses de heroína. Kimberly passou um dia e meio em um completo estado de torpor. Em algum momento, conseguiu desamarrar as mãos, gritou e tentou fugir. Então o assassino desferiu golpes de faca no pescoço dela para contê-la. Após alguns minutos cambaleando, gravemente ferida, ela caiu perto da trilha da floresta de pinheiros, onde morreu.

Às 3 da manhã do dia 17 de agosto, o seu corpo foi coberto por um plástico e arrastado de volta para o galpão. O demônio das rosas vermelhas acendeu algumas velas ao redor da pista e usou o sangue preso no plástico para desenhar um pentagrama invertido. O cadáver de Kimberly foi colocado dentro do pentagrama e a cabeça decapitada erguia-se sobre um dos vértices da estrela, enquanto as velas queimavam.

Através das investigações que fiz dos documentos da Tast, descobri que Benjamin Oliver era o nome do Procurador de Adam. O homem que fez a compra formalmente do terreno de Dorothy France não tinha relação com o ritual de Josh Campbell, mas conhecia Adam Fredie Penrose há cinco anos. O nome de Adam constava nos registros da empresa como faqueiro, em 2009, depois houve uma promoção para serrador e magarefe, entre 2011 e 2013, até ele assumir a gestão do frigorífico de Portsmouth, em 2016.

— Jacqueline, que bom que veio. Fico feliz que tenha aceitado o meu convite — Adam sorriu, quando me viu em pé no corredor de seu apartamento.