Agradecimentos

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— Boa tarde. Aqui é do Departamento de Investigação Federal. — Christian interrompeu nossa conversa e atendeu o telefone. — Como posso ajudar?

— Quero fazer uma denúncia — disse a voz de um homem na linha — há um corpo em estágio avançado de decomposição, no posto 17.

Todos as ligações de pessoas interessadas em fazer denúncias para Rox caiam em nossas escutas. Sarah decidiu grampear a delegacia quando descobriu que o Inspetor Billy Nortgen ocultava informações em benefício de sua própria imagem. Ela era boa nisso. Tão boa que ninguém desconfiou que a menina fosse uma agente infiltrada.

— Ellis, está me ouvindo? — disse a comandante Ágatha.

— Sim. Estou ouvindo.

— Nós temos uma denúncia de um cadáver exposto no Rebite, dentro de um pasto abandonado.

— Qual posto? — Perguntei.

— Posto 17, zona oeste de Portsmouth — ela me repassou a informação — convoque alguns homens e cães policiais e investigue o trecho. A perícia está a caminho.

A primeira coisa que pensei quando cheguei ao local foi de quem seria os restos mortais que estavam lá, aqueles ossos imersos na grama crescida, rodeados de moscas-varejeira. Mais tarde, o sr. Richard reconheceu o que sobrou da roupa que seu filho usava no dia em que desapareceu e o exame de DNA confirmou que era mesmo Eric. Quando soube da notícia, Vanessa tentou se matar dentro da solitária. Com certeza, ela preferiria morrer, ante a confessar tudo. O Inspetor Billy Nortgen, temendo retaliações, prometeu prender Max Curie, na esperança de acalmar a população de Portsmouth. Para polícia local, Max ainda continuava sendo o principal suspeito de ser Quinn Solo, e a tese só ganhou força quando ele mesmo confessou, em um de nossos interrogatórios, que conhecia Rebecca Chari.

Max não foi preso graças aos meus depoimentos a seu favor, entretanto, se mais pessoas continuassem morrendo, não demoraria muito para que uma ordem de prisão preventiva fosse decretada. Na melhor das hipóteses, ele serviria de bode expiatório e caso fossem encontrados vestígios do verdadeiro assassino, tudo que a polícia precisava fazer era pedir desculpas.

— Uma solução pouco inteligente — neguei. — Max tem dezessete anos e é réu primário. Se ele for inocente, mantê-lo preso é ruim para a polícia.

— Agente Norman, eu tenho motivos mais do que suficientes para colocá-lo atrás das grades — disse Billy Nortgen.

— Pense bem, Mesdra é querida na região. Muitas pessoas gostam dela e mantêm comércios com sua fazenda. Além do mais, ela é amiga do prefeito. Se quiser, pode influenciar pessoas importantes a destituí-lo do cargo.

— Então, a senhorita deduz que Max Curie é inocente? — o inspetor ponderou, como estivesse considerando minha resposta.

— Sim. Ele é inocente.

Antes de Billy Nortgen suspender seus decretos mais urgentes, a sra. Mesdra me convidou para o almoço de Martin Luther King Day. Eu soube que seus pais estavam na fazenda, por isso ela desejava conversar comigo antes que eles fossem embora, pois tinha que embarcá-los para Cheriton antes de 25 de janeiro.

A sra. Curie teve um AVC alguns anos atrás e sua saúde não evoluiu muito bem. Ela era debilitada e continuava na cadeira de rodas. Diferente da mulher, o sr. Curie parecia forte, pelo menos nas fotos que vi no pêndulo do sótão; um homem negro alto, de barbas e cabelos brancos, de olhos grandes e nariz comprido, beirando os setenta anos de vida. 

Enquanto eu dirigia até a fazenda, consegui me lembrar dos velhos, das poucas ocasiões em que nos encontramos, da minha adolescência, das libélulas batendo asas no lago, das canções tocando nas rádios, dos motoqueiros e suas motos zunindo naquelas mesmas estradas chiliquentas, em um passado tão distante daquele.

Confissões de uma assassinaOnde histórias criam vida. Descubra agora