Estranha adorável

"Por que não?"

Quando criança eu costumava achar que a lua me perseguia, mas agora que era uma adulta, achava que estranhamente os céus acompanhavam o meu humor.

Sequer era inverno ainda mas chovia há dias seguidos, assim como eu chorava sozinha em meu antigo quarto cada vez que sentia falta da tia Gus.

- Waves? - sequei rapidamente minhas bochechas molhadas ao passo que desviava meus olhos da última foto que havia tirado com minha tia para encarar a porta de meu quarto que havia sido aberta pela Wynonna. - Quer seguir a tradição? - limpando melhor minha bochecha ao passo que franzia a testa dando atenção melhor às palavras da minha irmã mais velha.

- Que tradição? - questionei enfiando a foto debaixo do travesseiro e me levantando da cama logo em seguida. - É mais alguma daquelas coisas com velas e incensos horrorosos? - não que eu tivesse algo contra mas meus pulmões não se davam muito bem com tanta fumaça.

- Não. - Wynonna pronunciou enquanto saia do caminho me dando passagem para que eu pudesse sair do quarto. - Tia Gus sempre ia a uma lanchonete há algumas quadras daqui, talvez tenha passado mais tempo lá escrevendo seus livros do que nesta casa.

- Sinto que um ano fora quebrou completamente a conexão que tínhamos. - murmurei descendo as escadas no encalço de Wynonna. - Talvez seja uma boa idéia ir, mas, você vem comigo?

- Eu preciso trabalhar... - revirei os olhos enquanto um suspiro cansado escapava dos meus lábios já sabendo que outra vez seria deixada sozinha. - Mas irei com você até lá. - Wynonna sorriu enquanto apanhava sua arma e distintivo sobre a cômoda.

Desde que embarquei numa viagem para estudar história minha relação com a Wynonna foi se tornando gradualmente escassa, não que eu quisesse saber da vida da minha irmã mais velha somente através mensagens rápidas mas infelizmente não é algo que dependia somente de mim, e mesmo que tenha sido por somente um ano, agora que eu estava de volta era notável que nossa relação não estava bem, Wynonna não se esforçou nem um pouco em esconder que não consegue passar mais de dois minutos na minha presença da sua irmã sem necessitar inventar uma desculpa urgente de que precisa trabalhar.

Eu preferi não dizer nada, mas no fundo eu sabia muito bem que aquela cidade pacata não tinha tantos crimes assim para que Wynonna precisasse trabalhar o tempo todo.

- Quanto tempo ficará? - despertando- me de meus pensamentos senti o corpo de Wynonna trombar ao meu na intenção de chamar minha atenção.

- Cerca de dois meses. - murmurei distraidamente enquanto colocava minhas mãos gélidas nos bolsos do casaco para evitar que ficassem mais frias. - Eu posso montar parte da minha pesquisa por aqui e passar este tempo com você... - antes que eu pudesse terminar de falar notei a Wynonna com toda sua educação atendeu uma ligação. - Se quiser é claro. - murmurei a última parte somente para mim mesma enquanto revirava os olhos novamente para aquela atitude estúpida dela.

- Quero sim Waves. - Wynonna se aproximou e beijou o topo da minha cabeça após desligar a ligação mostrando que havia me escutado. - Preciso ir a delegacia agora, é só continuar seguindo em frente que você acha a lanchonete. - sem ter tempo para dizer nada apenas a assisti caminhar na direção contrária como se estivesse fugindo de uma praga maldita e contagiosa.

Bufando alto marchei rumo a lanchonete brava, se era uma tradição Wynonna deveria estar comigo e não fugir como se eu tivesse uma doença contagiosa, era inacreditável como ela conseguia ser infantil.

- Calma! - fechei meus olhos rapidamente ao sentir algo suave se chocar contra minha testa repentinamente, parando meus passos bruscamente abri os olhos notando que havia uma mulher alta e ruiva com a mão no ar impedindo que eu ganhasse um belo hematoma na testa por bater a cabeça na porta aberta.