"Saudade"

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Aquilo era tudo o que eu sempre quis, certo?

Fazia apenas algumas semanas que eu havia retornado para casa, e estranhamente eu me sentia deslocada, o apartamento vazio nunca tinha me incomodado, na verdade eu adorava o silêncio e a paz que tinha, mas não ter meu quarto invadido pela Wynonna para reclamar sobre algo bobo e nem deitar em seu ombro para ver filmes era estranho, eu não percebi que sentiria falta disso até não ter mais.

Assim que o barulho do alarme despertou meus pensamentos supus que estava com saudades da morena por estar na hora de ligá-la, abandonei todo meu trabalho como se não fossem importantes e pegando meu celular disquei o número da minha irmã.

- Pontual como sempre. - a ouvir dizer de um jeito animado. - Estava morrendo de saudades de novo?

- Nos falamos ontem, claro que eu não senti sua falta. - murmurei com minha melhor voz de indiferença mesmo que eu soubesse que não passaria credibilidade alguma já que eu mandava mensagem pra ela sempre que podia.

- Você sabe que não vamos perder nossa conexão de novo se você ficar um dia sem me ligar, não é? - fiquei calada visto que aquilo me pegou totalmente desprevenida. - Nós já estamos bem Waves, e eu sei que você tem muito trabalho a fazer coordenando pesquisas...

- Como você sabe que eu virei coordenadora? - questionei não me lembrando de ter dito aquela informação.

- Eu e o Jeremy ainda temos nossa sessão de filmes uma vez por semana então ele me contou. - revirei os olhos mesmo que ela não pudesse ver. - Você liga para mim todos os dias, e foge das minhas perguntas diariamente então eu precisava me informar.

- Eu não fujo das suas perguntas, sempre respondo se já almocei e se estou bem. - resmunguei baixinho a ouvindo suspirar do outro lado da linha.

- Já que você está dizendo... - o escárnio em sua voz era nítido mas ignorei ao erguer meus olhos e notar que meu secretário estava com um papel em mãos escrito reunião adiada, assenti com a cabeça voltando a prestar atenção na Wynonna. - Me responda, por que parece que você sempre quer me questionar algo mas quando tenta se embola e muda de assunto?

Mordi o lábio inferior me perguntando o que deveria responder a ela.

- Responde Waverly, não é tão difícil. - seu suspiro impaciente era audível demais, olhando para a tela do computador encarei a única foto que a Nicole havia me permitido tirar com ela, estava um pouco tremida mas dava pra ver seu enorme sorriso acompanhado daquelas covinhas fofas e eu parecia muito boba a olhando, acho que eu fazia aquela cara sempre que olhava a foto.

- Por que o anel de casamento da mamãe estava na gaveta da Nicole? - questionei baixinho após suspirar, depois de alguns instantes afastei o celular do rosto querendo garantir que a ligação ao havia caído visto que ficou completamente muda.

- Eu achei que você não soubesse disso, bom, ela me disse que não teve a chance de fazer nada... - me endireitei na cadeira ao ouvir pela primeira vez em semana qualquer coisa referente a Nicole. - Como você soube?

- Eu estava procurando minha carteira para lhe comprar um café, e acabei achando a caixinha sem querer. - ela fez um som nasalado em concordância. - Eu não sabia que você ainda tinha a aliança.

- Eu estava a guardando, a mamãe sempre quis cuidar de você e te proteger Waves, então quando a Nicole apareceu querendo que eu lhe ajudasse a mostrar a ti o quanto ela queria que você ficasse na vida dela para poder cuidar de você e te amar eu considerei que era certo dar a ela, eu só...

- Não pensou em me contar isso? - perguntei em um tom pacífico, eu entendia seu ponto de vista com perfeição e podia me sentir mais amada naquele momento.

- Pensei. - Wynonna respondeu. - Mas, eu não podia te avisar que possivelmente seria pedida em namoro, e quando eu te levei ao aeroporto eu não podia dizer nada, a Nicole não gostaria que você ficasse aqui em Purgatório a menos que realmente quisesse isso, ela jamais bagunçaria a sua rotina desse modo. - assenti com a cabeça mesmo que ela nao pudesse ver sabendo que era exatamente o que a ruiva faria.

- Ela está bem? - perguntei finalmente após longos instantes em impasse. - Ela nunca me mandou mensagem ou ligou, e eu também não o fiz então não sei se ela está bem.

- Ela está... - a longa pausa que minha irmã fez me causou um enorme aperto no coração. - Feliz, ela está feliz.

- Ah. - Foi tudo o que saiu da minha boca após ouvir aquilo, eu não queria estar triste nem nada, era bom saber que a Nicole estava bem mesmo depois que eu fui embora sem me despedir, mas ao mesmo tempo eu me sentia triste por saber que ela seguiu em frente rapidamente.

Como se eu fosse apenas um lance casual, e bom, era isso que eu era.

- Não fique assim, eu estou aqui para você. - fiz um som nasalado concordando. - Eu preciso ir agora, mas eu te mandarei uma mensagem, aguarde por isso. - franzi a testa estranhando o seu tom de voz indecifrável mas decidi ignorar acreditando ser coisa da minha cabeça. - Eu te amo Waves.

- Eu também te amo, Nonna.- murmurei encerrando a ligação logo em seguida.

Com um suspiro cansado decidi voltar ao trabalho antes que ele acumulasse e começasse a me estressar, pegando alguns papéis para analisar deixei um sorriso escapar ao me lembrar que com abaixo assinado eu consegui salvar toda a minha pesquisa e com isso eu tive a doce ilusão de que havia conseguido tudo o que eu queria, mas depois de alguns dias percebi que não era aquilo que eu realmente queria.

- Olá chefinha. - revirei os olhos ao ouvir a voz do Jeremy seguida de suaves batidas na porta.

- Eu não sou sua chefe, somos praticamente parceiros, não me chame assim. - murmurei baixinho sem desviar os olhos dos papéis que eu estava tentando ler. - O que deseja?

- Eu só vim te entregar isso e avisar que tirarei o resto do dia de folga, se alguém perguntar eu fui ao médico, mas saiba que estou indo a um encontro. - ergui meus olhos encontrando seu sorriso malicioso, estendi a mão para pegar a caixinha marrom de suas mãos.

- Quem enviou isso? - questionei notando que não havia nada escrito na caixa.

- Tchau Waves. - e assim como veio ele também foi embora, esperando não ser uma bomba abri a caixa com cuidado.

E para a minha surpresa, seria muito menos chocante se de fato fosse uma bomba, mas não, era um bolinho de chocolate com um bilhete.

Estranhamente senti um arrepio correr por todo meu corpo ao segurá-lo, todos bolinhos agora me lembravam dela e naquele momento estava sendo algo doloroso.

Após dar uma mordida decidi pegar o bilhete ficando ainda mais confusa com o que estava escrito.

"Esteja entre a Park Avenue 7 e a George Town 13 amanhã as 14.

Não se atrase."

Quem me enviou aquilo?

Estranha adorável Onde histórias criam vida. Descubra agora