"Sincera demais"

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Servindo-me de mais um pouco de macarrão observei o relógio na parede com frustração, já passavam das 20:30 e nada da Wynonna, ela a principio disfarçou bem fingindo estar ocupada com os preparativos do funeral, mas agora ela não tinha escapatória, estava me evitando com certeza.

E, como se soubesse que eu estava falando dela a porta foi simplesmente aberta por ela, me levantei da mesa de jantar brava e saí da cozinha a passos brutos para confrontá-la porém me arrependi de estar trajando somente um pijama curto quando notei que ela tinha companhia.

- Me desculpe te fazer vir até aqui Haught. .. - ouvi a Wynonna murmurar para alguém atrás de si que estava de cabeça baixa limpando os pés no tapete. - Eu odeio casos de crianças desaparecidas mas essa tal de Julia simplesmente surgiu aqui com um papo estranho e ninguém melhor para investigar isso do que você.

- Não é um problema, Earp. - assim que escutei aquela voz polida e serena a reconheci de imediato, colocando os braços cruzados sobre meu peito a observei erguer sua cabeça e remover seu chapéu enquanto me olhava de forma estranha antes de desviar para olhar a parede da sala.

- Waves... - Wynonna finalmente notou minha existência na sala e veio me abraçar com um sorriso nos lábios, seu cheiro de whisky chegou antes dela obviamente, a abracei lateralmente ajudando-a a manter a postura, não que ela pudesse disfarçar que estava bêbada.  - Essa é a Haught, da delegacia, a trouxe aqui para pegar os dados de uma criança que encontramos ao arredores da fronteira.

Nem em um milhão de anos eu consideraria que a mulher da lanchonete era a parceira da minha irmã no trabalho, mas ignorando aquela coincidência pensei que eu finalmente poderia me apresentar da maneira correta para a moça gentil que me deu bolinhos.

- Prazer em te conhecer. - me desvencilhando da Wynonna estendi minha mão para cumprimentá-la com um sorriso, mas diferente de mais cedo na lanchonete ela simplesmente encarou por longos segundos para aquele gesto e após suspirar audivelmente aceitou minha mão em um cumprimento rápido antes de desviar olhar com certa indiferença.

Me sentindo desconcertada com aquela interação decidi retornar a cozinha para continuar o meu jantar, mas para meu infortúnio elas me seguiram.

- Nicole, sente-se e sirva-se, eu vou tomar um banho antes de pegar os dados para que revisemos. - Wynonna puxou a cadeira para a ruiva que parecia tão expressiva quanto uma porta e saiu nos deixando a sós.

Depois de observar toda a cozinha com um olhar que eu julguei ser crítico ela se sentou de maneira ereta com suas mãos sobre seu colo.

- Você quer jantar? - perguntei com um sorriso apontando para a comida que estava sobre a mesa que eu particularmente havia feito, eu não era boa cozinheira mas me esforcei naquela refeição acreditando que seria o pontapé inicial para uma reaproximação de irmãs então colocava um pouco de fé de que estava tragável. - Eu que fiz, e não está muito bom pois eu...

- Pela quantidade de corante que há neste macarrão eu sei que não está bom. - abri a boca incrédula com o que ela havia dito, fechei a boca rapidamente respirando fundo para não ser tão grossa quanto ela havia sido.

Eu não acredito que ainda tive a gentileza de oferecer, e tudo bem que a aparência não era das melhores, mas não precisava ofender tanto.

Espetando violentamente com um garfo o macarrão cheio de corante em meu prato o levei a boca preferindo mantê-la cheia para não socializar mais com aquela mulher desagradável.

- Foi ofensivo? - Nicole perguntou após um tempo em silêncio, juntando suas mãos sobre a mesa ela se inclinou em minha direção com um sorriso sem graça, o que era estranho pois seus olhos continuavam vagando pela cozinha. - Foi ofensivo o que eu disse? - ela perguntou novamente me olhando com receio por uma fração de segundo antes de abaixar sua cabeça.

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