Estranha adorável

"Compromisso"

Nem com todas as músicas de natureza do mundo eu havia dormido tão bem, mesmo que fosse por tão pouco tempo eu me sentia extremamente descansada e relaxada.

Ainda de olhos fechados passei a mão pela cama buscando por qualquer pedacinho do corpo da Waverly mas estranhei ao não encontrá-la, abrindo os olhos constatei que ela realmente não estava ali mas como havia cheiro de café pelo ar sorri imaginando que ela poderia estar em algum canto da casa.

Enrolei meu corpo no lençol e caminhei pelo quarto em busca de roupas limpas para poder tomar um banho e fazer uma boa refeição com a Waverly, provavelmente ela já deveria estar comendo todos os bolinhos da cozinha ou na pior das hipóteses fugiu antes que eu acordasse.

Assim que escolhi a roupa fui até o banheiro, mas estranhei que a casa estava muito silenciosa, adentrei o banheiro após bater na porta temendo que ela estivesse tomando banho mas ele estava vazio.

- Waverly? - chamei em voz alta olhando pela sala talvez esperando que ela surgisse de algum cômodo com aquele sorriso quase infantil mas isso não aconteceu, não pude evitar não me sentir triste por não encontrá-la.

Somente quando fechei a porta do banheiro pude notar que todos os lembretes haviam desaparecidos e sido substituídos de maneira pouco simétrica por novos, engoli meu desespero ao notar o que havia escrito neles.

"O seu sorriso é adorável."

"Você tem o coração mais puro e gentil do mundo."

"Eu amo cada detalhe que compõe você."

"Eu sempre serei sua manada de um elefante só."

"Eu te amo Nicole, você sempre será a minha pessoa favorita neste mundo."

"Não se importe com a opinião de ninguém, você é incrível meu amor."

Por um instante eu me incomodei com o sumiço dos meus lembretes, mas depois de ler os novos que a Waverly havia escrito foi inevitável não sorrir e me sentir amada por ela, talvez os meus dias começassem de um jeito diferente agora que eu tinha eles.

- Ela não poderia ser mais surpreendente. - murmurei para mim mesma sem conter o sorriso.

Assim que terminei meu banho e estava com roupas perfeitamente limpas saí do banheiro indo em busca do meu celular, eu não fazia idéia de que horas eram e provavelmente a Waverly já deveria ter mandado alguma mensagem, quando cheguei no quarto me dei conta de que havia um copo de café e um bolinho sobre a cômoda, pegando o papel que estava debaixo do copo me sentei na cama para ler.

"Minha doce e amada Nicole, eu não sou tão boa quanto você para expressar sentimentos, na verdade eu sou um desastre, mas achei que o mínimo que eu poderia fazer diante das circunstâncias era tentar me despedir, sim, eu estou indo embora hoje e acredito que quando acordar eu já estarei distante..."

Engoli a seco apanhando meu celular sobre a cômoda para constatar que já se passavam do meio dia, era inacreditável que ela estivesse se despedindo de mim daquela forma.

"Por favor me perdoe por partir assim, mas principalmente me perdoe por fazer você acreditar que ainda tínhamos tempo, eu sou grata por tudo o que vivemos, você é uma mulher incrível e muito melhor do que todas as minhas paixões literárias, nunca deixe que ninguém te diminua ou te faça pensar que você não pode conquistar absolutamente tudo o que deseja, pois você pode, e eu estarei torcendo por você mesmo que a distância, obrigada por me fazer ver o mundo numa perspectiva diferente e me lembrar que o que verdadeiramente importa é estar ao lado de quem se ama. Desejo que um dia nos reencontremos novamente. 

- Com amor, Waverly Earp."

Não sei por quanto tempo eu fiquei ali sentada absorvendo aquilo, talvez por muito tempo pois quando bebi o café ele estava mais frio que a minha alma, guardei o papel dentro da gaveta ao lado da caixinha que parecia ter sido movido alguns milímetros, algo quase imperceptível.

Será que ela foi embora por que não queria um compromisso comigo?

Depois de 3 semanas envolta em tantos relatórios no trabalho, aulas de violão, terapia com a Calamity Jane e caminhadas pelo parque com a Wynonna que na verdade era só uma desculpa para que ela bebesse whisky ao ar livre eu parei de questionar as motivações da Waverly, ela havia seguido com a vida dela e estava tudo bem, pelo menos o que tivemos foi perfeito para nós duas e sempre teríamos essa lembrança boa.

- Ruiva, para de andar tão rápido. - Wynonna murmurou me fazendo parar ao notar que ela havia parado de me acompanhar e estava indo se sentar num banco, caminhei até ela parando a sua frente, não arriscaria me sentar ao seu lado e sentir seu desagradável cheiro de bebida tão cedo. - Acho que perdi algum órgão.

- É quase impossível perder um órgão caminhando, mas eu acho que você já sabia disso. - murmurei vendo-a me encarar de um jeito que eu não sabia decifrar. - Não vou falar para parar de beber, mas você já pensou que talvez seu vínculo excessivo com o álcool tenha uma origem um pouco sombria? - usei minhas melhores palavras para tentar ser sensível ao falar daquilo.

- Eu bebo muito para esquecer que eu sou uma pessoa sozinha. - me surpreendi que ela não tentou me agredir automaticamente e apenas respondeu de modo civilizado. - Eu tenho a Waves e tenho você, mas eu ainda me sinto solitária as vezes e pra esquecer isso eu gosto de beber.

- Ser sozinho é ruim? - questionei avaliando que talvez eu também estivesse na mesma situação que ela, eu tinha o Nedley e ela mas ainda sim me sentia solitária.

- Não é ruim, mas as vezes é bom ter alguém para quem voltar, para dividir as dores e rir dos momentos bobos, alguém que você saiba que vai vagar seus pensamentos dia e noite e você apenas desejará mais e mais a cada vez. - ela sorriu de um jeito triste apesar de estar contando algo bom. - Isso é algo raro de se encontrar, meus pais tinham isso.

Raro de encontrar? Tudo que ela havia citado eu tinha com a Waverly, e não foi difícil encontrá-la.

- O que você faz quando não quer ser solitária, quando você quer ter muito mais do que apenas lembranças? - perguntei curiosa ansiando uma resposta que pudesse solucionar meus pensamentos confusos.

- Você vai atrás do que te faz feliz Nicole, senão terminará como eu, uma amante de bebida barata. - Wynonna se levantou e deu um tapinha no meu ombro antes de voltar a caminhar. - Você não vem? - ela questionou ao olhar para trás e notar que eu não estava a seguindo.

- Não, eu vou atrás do que me faz feliz. - murmurei sorrindo para ela que apesar de parecer confusa logo entendeu do que eu falava.

Não me importava se iria soar estranho, eu apenas precisava tentar.