Um

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Ano 815

- Não vai, Nikky. Por favor, não me deixe.- a garotinha abraçou a perna do homem com força, lágrimas caiam de seus olhos pequenos.

Nikolas tirou a bolsa do ombro e colocou no chão, ele se agachou para ficar na altura da irmã e segurou um dos seus ombrinhos.

- Eu tenho que ir Layla, o reino precisa de soldados para essa guerra. Cuide da mamãe e não quebre nada e também não se meta em confusão enquanto eu estou longe.

- Eu não quero que você morra.- fungou.- Não igual o papai se foi também.- Nikolas engoliu a seco e com o polegar enxugou as lágrimas da irmã.

- Nem todos morrem em uma guerra, Layla. Eu prometo que vou voltar antes que você perceba, irei escrever cartas quando eu tiver tempo.

- Promete mesmo?

- Prometo.- fez um x com o indicador na altura do coração, a garotinha fez o mesmo gesto e fungou parando de chorar.

Nikolas segurou o rosto da menininha e beijou suas bochechas.

- Pode ficar com o meu quarto enquanto eu estiver fora, mas não mexa nas minhas coisas.

- Tá bom.- riu fraco.

Sasha, a mãe dos dois, se aproximou segurando firmemente um dos panos da sua saia. Seu coração doía só de pensar que seu filho iria para a guerra, em breve os soldados da imperatriz iriam aparecer e ir de casa em casa levar cada filho ou filha mais velha o campo de treinamento.

A mulher quase teve um ataque quando uma noite o filho havia pedido para conversar com ela. A dor de perder o seu marido ainda era viva em seu peito, ela não imaginava perder seu filho também.

O garoto se levantou pegando a bolsa do chão e colocando novamente a alça em seu ombro. Ele abraçou uma última vez a mãe e a mesma beijou sua bochecha.

- Que os céus te protejam, meu filho. Volte para nós.

- Eu irei, mãe.- a mulher assentiu separando o abraço. O guarda da estação deu o último apito avisando que logo o trem iria partir.

Nikolas deu um último sorriso fraco para mãe e começou a se afastar, Sasha pegou Layla no colo e a garotinha colocou as mãos nos ombros da mãe observando o irmão se afastar. O garoto deu o ticket do trem e entrou no mesmo, escolheu um vagão vazio, se sentou no canto da poltrona perto da janela e colocou a bolsa ao seu lado.

O guarda gritou avisando da partida do trem, muitos pais estavam na plataforma vendo seus filhos indo embora em direção à capital Haera. Sasha e Layla acenaram para Nikolas e o garoto acenou de volta. O trem começou a se movimentar, a cada segundo Nikolas se afastava mais da plataforma deixando sua família e vilarejo para trás.

O veículo passou por dentro de um túnel deixando tudo escuro por alguns segundos, mas logo o escuro sumiu revelando a vista dos campos agrícolas do vilarejo. Levaria no mínimo duas horas para chegarem a capital, Nikolas fechou os olhos encostando a cabeça na parede.

Minutos depois a porta foi aberta fazendo o homem abrir os olhos e olhar na direção da mesma.

- Ah desculpa te acordar.- era um rapaz.

- Tudo bem, eu não estava dormindo.

- Uhm, tem problema se eu ficar na cabine com você? O resto está lotado.

- Sem problemas.- o homem sorriu fraco fechando a porta da cabine. Ele se sentou na poltrona na frente de Nikolas e colocou as duas bolsas ao seu lado.

- Meu nome é Atlas.

- Nikolas.- trocaram aperto de mãos. Atlas tinha a pele marrom escura, os cabelos castanhos escuros curtos e enrolados, os olhos com íris castanhas claras e aparentava ter a idade do Nikolas.

- Ah você é filho da dona da padaria, não é?

- Sim.

- Por isso te achei familiar, eu já te vi antes. Eu sou filho do dono da marcenaria na segunda esquina depois da praça principal.

- Ah! Sei onde é, seu pai faz um ótimo trabalho.

- É, eu tento ajudar ele as vezes. É minha primeira vez indo para o exército, escutei que eles são bem rigorosos.

- Também é a minha, meu avó já foi um soldado de honra então já sei um pouco como é lá pelas histórias que ele me contou.

- Sério? Honra pelo o que?

- Acho que foi na marinha, era um dos melhores do seu esquadrão.

- Que incrível. Bom, minha família sempre foi covarde em questão de ir para o exército.

- Não é covardia, afinal todos tem a escolha se querem ir ou não.

- Nos tempos que estamos vivendo, a imperatriz quer que TODOS vão para o exército. Acho que a situação está feia.

- Você foi escalado para qual campo? - Nikolas abriu a bolsa e pegou a carta que tinha recebido alguns dias antes.

- Campo...Dez.

- Que sorte, o meu também. Pelo menos conhecemos um ao outro, já é uma companhia.

- É.- riu fraco.

- Será que iremos treinar com os generais da imperatriz? Não sei nem como eu iria me comportar perto deles.

- Como assim?

- Como assim?- o repetiu e riu fraco.- Nós temos os melhores generais dos três reinos, eles que comandam as frotas e mandam praticamente no exército todo. Imagina se eu conhecer o Hellsink pessoalmente...Acho que iria surtar.- diz animado.

- Realmente parece que você sabe mais do exército que eu, temos algum tempo antes de chegar a capital. Poderia me contar o que sabe?

- Claro.- diz sorrindo.

O Chamado de GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora