Nikolas percebeu que não era fã de barcos, ele sentia saudade da terra firme.
Suas primeiras refeições no barco não duraram muito tempo em seu estômago, depois do terceiro dia de viagem seu corpo já se acostumava com o balanço.
Callman e Reynolds eram ótimas companhias, os detalhes do plano eram discutidos, mas ele não estava completo. Eles precisariam da ajuda dos soldados infiltrados em Arenia.
As angústias do seu peito não pararam, Nikolas se perguntava o que eles estariam fazendo com a general. As últimas palavras que ela disse a Nikolas atormentavam sua cabeça.
Corra, procure uma arma e lute, não se preocupe comigo.
Ele deveria ter se preocupado com ela, deveria ter lutado ao seu lado.
Naquela noite, Nikolas dormia na cama de cima do beliche, o leve som do mar era o único barulho que quebrava o silêncio da noite, Atlas não roncava tão alto.
De repente o homem abriu os olhos sentindo uma angústia forte no peito e se sentou na cama, sua cabeça a centímetros do teto de madeira. Nikolas colocou a mão no rosto sentindo o mesmo formigar, nunca tinha sentido algo assim.
A angústia parou e tudo voltou ao silêncio. Nikolas encarava a parede se perguntando o que será que aconteceu?
⚔️
Yelena não enxergava.
Seu olho direito estava coberto de sangue e ela não conseguia ver nada, a general abaixou a cabeça gemendo de dor enquanto lágrimas escapavam do seu olho esquerdo.
Sentia uma dor aguda e forte em seu olho direito.
- Se tiver sorte, terá apenas uma cicatriz.- Kirigan diz balançando a adaga que respingava sangue.- Mesmo com todos os golpes, socos e agora a possibilidade de ficar cega de um olho, você não vai dizer nada? Se falar, eu prometo que meus enfermeiros irão te ajudar.
- Vá...para o inferno.- a voz da mulher saiu ríspida, olhava o general, apenas enxergando pelo olho esquerdo e gotas de sangue respingavam na direção de sua coxa.
Não era o primeiro corte que ele tinha feito, havia um no braço esquerdo dela e outro na sua coxa direita. Yelena estava surpresa consigo mesma por ter aguentado por tanto tempo, apenas sobrevivendo com um pouco de água e resto de pães que eles davam.
Mas agora ela duvidava se iria aguentar outro golpe.
- Tudo bem. Em poucas horas chegaremos em Arenia e o que eu fiz nesse quarto, não vai ser a pior coisa que você vai passar. Meus homens são piores que eu.- ele se afastou e encostou na maçaneta da porta.- Você vai desejar ter morrido nas garras de um Ari. Boa noite, general.
Ele fechou a porta e a vela no quarto se apagou, a mulher abaixou a cabeça e gritou, um grito de dor e frustração. As algemas tilintaram novamente, ela sentia seus pulsos doerem de tantas vezes que tinha feito isso.
Naquele momento, na escuridão, ela desejou a morte.
Yelena tentou limpar o sangue do corte no olho com seu ombro mas não adiantou muito. Ela jogou a cabeça para trás e fechou o olho esquerdo, o direito permanecia fechado.
Alguns minutos se passaram quando a porta foi aberta novamente. Yelena abriu os olhos, enxergava embaçado no direito e viu a figura de um homem entrando no cômodo, o mesmo fechou a porta devagar para não fazer barulho.
Pela altura não era Kirigan, medo cresceu no peito da mulher.
O homem acendeu a vela, Yelena viu que era um soldado que trajava o uniforme areniano azul escuro.
- General.- ele se aproximou, Yelena tentou se afastar mas não tinha para onde ir. O soldado se agachou e levantou o casaco e blusa revelando a pele da barriga, onde havia quatro traços avermelhados que formavam um M.
Ele era um soldado infiltrado.
- Eu tentei vir antes mas sempre havia soldados vigiando a porta, hoje eu estou de vigia e não tenho muito tempo.- ele tirou um molho de chaves do bolso, Yelena virou o corpo o máximo que conseguiu para ele alcançar a fechadura.- Provavelmente todos já devem saber do seu desaparecimento, temos casas de segurança no subsolo da cidade onde o navio vai parar, a guarda real ou o exército não se atrevem a ir no subsolo.
- São quantos homens abordo?
- Vinte e sete, mas alguns homens e o general vão sair do navio assim que chegarmos no Porto, para a segurança do general. Depois outros soldados virão pega-lá, então sobra uns...dezenove.
- O Ari?
- Irá com Kirigan.- ele soltou as mãos e tornozelos de Yelena, a mulher colocou as mãos em seus pulsos, eles doíam mas não sangravam.
Menos mal.
- A maioria dos nossos ficam escondidos no subsolo?
- Sim, general.
-Certo, preciso que me leve até eles. Eu tenho um plano para sairmos daqui.- limpou o sangue do seu olho com a barra da camisa que usava, ainda via um pouco embaçado.- Você tem uma faca ou adaga?
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O Chamado de Guerra
FantasyUma guerra entre dois reinos poderosos, Moldova e Arenia, separados por um mar. Nikolas Roman teve que deixar sua família para se alistar ao exército por ordem da imperatriz Ilizabeta. A chegada do Campo de treinamento, amizades são feitas e a vida...