Sete

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Nikolas foi levado até o prédio onde os oficiais ficavam, era longe do centro e entre os campos quatro e cinco. Um prédio de três andares feito de pedra, o brasão do exército em cima da porta dupla principal.

O homem entrou no local não tendo tempo de ver ele com detalhes, subiu as escadas para o terceiro andar. Eles andaram por um corredor com um tapete vermelho no chão, um soldado indicou uma porta de madeira e Nikolas entrou na mesma.

A sala estava um caos com vozes discutindo, Nikolas ficou confuso em onde ficar, então viu que não estava sozinho, três pessoas que usavam o uniforme igual a Nikolas estavam em pé perto da parede, uma delas ainda usava o pijama coberto de sangue.

Nikolas cumprimentou baixo eles e ficou do lado do último da fileira.

- O que está acontecendo?- sussurrou.

- Eu não sei.- o garoto ao seu lado respondeu, Nikolas olhou para frente.

Os três generais estavam presentes, junto com os coronéis e capitães, eles estavam sentados em uma mesa redonda. Todos falavam ao mesmo tempo discutindo, Nikolas percebeu que perto da mesa estava o médico Wilson, limpava os óculos na camiseta.

Depois os olhos de Nikolas foram para os generais, a general Montagov estava quase deitada em sua cadeira, uma mão cobrindo o rosto, havia um pouco de sangue seco na sua bochecha. Usava calças pretas largas e uma blusa branca q estava manchada de sangue vermelho e preto, os cabelos estavam presos em um coque bagunçado baixo.

De repente ela bateu com a palma da mão na mesa com força e todos se calaram com o susto. Ela se ajeitou na cadeira e soltou o ar.

- Já discutimos o suficiente sobre o ataque que aconteceu hoje. Agora vamos mudar de tópico, concordam?- ela olhou na direção do médico.- Senhor Wilson, tem algo a nos dizer?

- Nada que eu não já tenha dito, senhorita Montagov. Para mim o Projeto S deu certo como pode ver.- diz apontando para o grupinho de Nikolas e todos olharam para eles, menos Montagov que continuava a encarar o doutor.

- Você nem nos avisou que os experimentos tinham dado certo.- Ivanov comentou.

- Foram muitas tentativas, mas finalmente encontramos pessoas compatíveis com o sangue de cada um.

- Você realmente é louco, Wilson. Nunca confiei nesse seu projeto mas fico muito feliz com o resultado, o meu garoto matou três monstros com uma ordem minha.- Hellsink diz olhando o garoto ao lado de Nikolas, o garoto abaixou a cabeça.

- Mas...- Montagov engoliu a seco.- Eu neguei o projeto. Eu lhe disse que não precisava de nenhum super soldado para me proteger, eu consigo fazer isso sozinha.

- Eu entendo, general Montagov. Mas isso foi para o bem de todos, todos vocês precisam de extra proteção no tempo que estamos...

- Então sacrificará essas pessoas para morrer por nós?- Montagov se levantou, a cadeira rangeu indo para trás.- Fez isso contra a vontade delas. Elas nem devem saber o que aconteceu com elas próprias.

- E quantas pessoas já morreram por você, senhorita Montagov? Quantos soldados? - Montagov trancou o maxilar.- Eles serão mais difíceis de morrer, eu garanto. Além de que agora você tem a proteção contra os monstros de Arenia. Não iremos perder vocês, igual perdemos o comandante Hills e a coronel Shu.

A mulher soltou o ar antes que explodisse de indignação.

- Mesmo assim, para você ter feito alguém se ligar a mim, precisava do meu sangue. E eu neguei assinar o contrato, então como...- ela parou e sua expressão mudou, o médico continuou calado.- Algumas semanas atrás, quando eu pedi um chá calmante para dormir melhor, você mesmo preparou um e eu não lembro de ter chegado a minha cama mas acordei nela.- ela o olhou e começou a avançar na direção do médico.- VOCÊ ME DOPOU E TIROU MEU SANGUE, SEU FILHO DA PUTA!

Ela deu um belo soco na cara do médico, o coronel Callman e o general Ivanov seguraram os braços da mulher a afastando do médico que limpava o sangue do nariz e ajeitava os óculos.

Nikolas sentiu o mesmo instinto dentro dele e fez menção de avançar vendo os dois homens a arrastarem para sua cadeira.

- Não se aproxime.- disse apontando para Nikolas e ele ficou no lugar, a expressão da mulher mudou sem acreditar.- Por que você seguiu a ordem?

Nem Nikolas sabia responder.

Montagov se sentou na cadeira novamente e os outros dois voltaram pra seus lugares.

- Agora o estrago já está feito. Devemos priorizar a restauração do campo e dos soldados, depois resolvemos melhor a nossa situação.- Ivanov diz.

Os oficiais começaram a sair, Wilson saiu rapidamente para evitar a mulher. Montagov se levantou e andou na direção de Nikolas.

- Seu nome, soldado.- pergunta parando na frente de Nikolas.

- Roman, Nikolas Roman.

- Nikolas Roman...Certo, já tomou café, Roman?

- Ainda não, senhorita.

- Me espere perto da escada, teremos uma conversa.- Nikolas assentiu e ela saiu.


Nikolas esperou perto da escada por alguns minutos, quando a general apareceu descendo a mesma. Havia trocado de roupa e limpado o sangue do rosto, agora trajava o uniforme similar ao do coronel, porém o colete foi substituído por um corpete de alça e não usava sobretudo, as mangas da blusa arregaladas até os cotovelos e os cabelos presos em um rabo de cavalo alto.

O homem seguiu ela até a sala de refeições dos oficiais, o lugar tinha apenas três pessoas e o resto das mesas estavam vazias.

- Hoje você pode tomar café da manhã aqui.

- Por que?

- É uma forma de agradecer, afinal você me salvou de uma criatura.- começou a andar.

As opções eram mais fartas que na taverna que Nikolas comia todos os dias, dessa vez pegou um pão com creme salgado, um pedaço de bolo de banana e uma xícara de café.

- Comerá tão pouco?- mulher perguntou olhando o prato de Nikolas, eles estavam sentados em uma mesa de frente um para o outro.

- Não estou com tanta fome, mas agradeço pelo convite.

Ela começou a comer em silêncio, mas as perguntas voavam dentro da cabeça de Nikolas.

- O que é projeto S?- ela o olhou.

- Iremos conversar sobre isso. Termine o café e  eu te contarei.- diz e morde um morango. - Você quase não tocou no pão ou no bolo, não se preocupe, eu não mordo.

- É que a senhorita...é diferente do que eu imaginava.- parecia que a mulher que deu um soco no médico e a que estava sentada na sua frente eram pessoas diferentes. Será que as histórias sobre ela estão erradas?

- Já imagino o que escuta sobre mim, mas eu não sou séria o tempo todo, afinal, ainda sou humana e tenho sentimentos. Ser gentil é um aprendizado que me ensinaram a muito tempo atrás.- abaixou a xícara de café.- O que esperava da general megera e rígida?- Nikolas engasgou com o pedaço de pão.- Eu odeio esse apelido...mas saiba que eu não sou assim completamente, apenas quando eu preciso ser.

Nikolas assentiu e voltou a comer, eles comeram em silêncio. Muitos momentos Nikolas se pegava olhando Montagov que olhava para as janelas, algumas estavam quebradas mas os cacos de vidros foram varridos.

- Pare de me olhar.- ele olhou seu prato vazio.- Precisa ser mais forte que esse...instinto.

- Mas eu nem senti nada. Te olhar agora é crime?

- Ainda sou uma general e posso colocá-lo na cadeia se eu quiser.- ela olhou o rosto de  Nikolas, ela cruzou os braços.- Mas não, não é crime.

Ele riu nasal e tomou o café da sua xícara.

- Terminou? Ótimo, vamos.- disse se levantando.

O Chamado de GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora