Um mês se passou desde o aniversário da general, os treinos entre os dois continuaram e parecia que Yelena ficava cada vez mais aberta a conversar com Nikolas.
Ele começava a gostar de passar tempo com ela, as vezes pensava que queria que o tempo passasse mais rápido apenas para chegar logo o treino na manhã seguinte.
Sua mira estava melhor, assim como seu controle, mas ele sentia que ainda tinha que melhorar eles, mesma coisa com sua atenção no combate punho a punho.
Nikolas andava na direção do prédio para seu treino de tarde, ele se aproximou da área e já encontrou Yelena de costas para ele.
A mulher treinava arco e flecha, as costas esticavam a cada flecha que preparava para ser lançada no alvo na sua frente, os cabelos presos em um coque perfeito.
- Você nunca treinou antes, aconteceu algo?- Nikolas pergunta se aproximando. A mulher o olhou e abaixou o arco, guardou a flecha no suporte preso no seu quadril.
Nikolas percebeu que havia algo errado só pelo olhar dela.
- Não teremos treino agora, precisamos conversar.- o homem assentiu, Yelena guardou o arco e flechas e ele a seguiu até um escritório no terceiro andar.
O escritório era pequeno e havia uma mesa com cadeiras, a janela dava a vista para o campo, nas paredes tinham estantes com livros.
- Aconteceu algo?- Nikolas pergunta se sentando em uma das cadeiras.
- Hoje recebi um comunicado dizendo que eu terei que ir para o litoral porque uma base nossa foi atacada e precisam de ajuda para se organizarem, o superior deles acabou morrendo durante o ataque. Eu vou partir amanhã e você vai ficar aqui.
- Não.- Nikolas disse sem pensar, não sabia se havia falado por vontade própria ou por causa do instinto.
- Nikolas, agora eu estou falando sério. Quero que pense com o cérebro e não sob controle do soro. É melhor você ficar aqui, continuará com seu treinamento e tudo ficará bem.
- Mas se for uma armadilha? Ou você morrer? Ou se ferir gravemente? Eu já sei lutar, eu já sei atirar.
- Pare de ser teimoso, se você for comigo você pode morrer e nunca mais verá sua família.
- Eu tenho esse pensamento desde o primeiro momento que eu entrei no campo, você mesmo disse que estamos em uma guerra e a morte nos acompanha a todo momento.
- Não acho que você está pronto, você tem apenas quatro meses de treino...
- Quase cinco.
- Que seja...eu não irei ser sua babá.
- Eu nunca disse que queria uma babá. - Nikolas soltou o ar.- Acho que você não está pensando direito, Yelena. Tudo o que eu sou agora é seu protetor, olhe os oficiais que morreram naquele ataque aéreo durante a noite, você também teria morrido se eu não tivesse matado o monstro que vinha na sua direção...Mesmo que eu fique no campo, mesmo com todos esse meses treinando o instinto, eu ainda sentirei uma angústia se algo ruim acontecer com você. Porque isso é parte de mim agora, é o meu destino e eu já o aceitei.
- Eu não quero te colocar em perigo.
- Acho que nós dois somos fortes o suficiente para lutar, juntos poderemos ser mais.- a mulher pensou, ela limpou a garganta e soltou o ar.
- Certo, mas você vai por vontade própria. Não coloque a culpa em mim se algo acontecer.- Nikolas se levantou.- Iremos sair antes do sino bater sete.- ele assentiu e saiu da sala fechando a porta, a mulher fechou os olhos colocando as mãos na sua cabeça.
⚔️
- Então você irá me abandonar?- Atlas diz sentando ao lado de Nikolas nos degraus da varanda.
- Ficarei algumas semanas fora, mas irei voltar. Vai ficar bem sem mim?
- Vou sobreviver, acabei fazendo alguns amigos durante o treinamento do coronel.
- Já está me trocando?
- Nunca, você foi o primeiro e é o mais especial que eu tenho.- Nikolas riu fraco.
- Mas...falando a verdade, eu estou com medo.
- É normal, todo dia quando eu trabalhava ajudando meu pai, eu tinha medo das ferramentas afiadas que ele usava para cortar e modelar a madeira. Então um dia ele me disse, o medo é igual uma ferramenta, você tem que manusea-lo antes que outra pessoa pegue e use como vantagem contra você. Faz sentido para você?
- Faz...obrigado Atlas.
- Você e a general estão bem próximos, tem certeza que é apenas por causa do soro?- Nikolas deu um soco fraco no braço de Atlas e o homem riu.- O que? Eu não disse nada demais.
- A Ye....A general não é tão megera quanto falam, ela é humana igual todos nós e tem sentimentos. Ela é apenas muito rigorosa.
- Uhm. Irei acreditar que esse é o único motivo.
- E é, seu idiota.- Atlas riu.
- Você vai para o litoral, eu nunca vi o mar antes.
- Nem eu, também não sei se eu chegarei a ver ele de perto.
- Se você for, vê se a água é mesmo salgada. Será que dá para acreditar que litros de água salgada são o que nos separa de Arenia e outros reinos?
- É louco de se pensar. Em um futuro, nós iremos ao mar e você beberá a água salgada.
- Aposto que o gosto é horrível.
- Coloque sal na sua água e prove.
- Ha ha muito engraçado.
Os dois ficaram sentados observando os soldados irem para suas cabanas, Nikolas se perguntava se realmente fez a escolha certa.
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O Chamado de Guerra
FantasyUma guerra entre dois reinos poderosos, Moldova e Arenia, separados por um mar. Nikolas Roman teve que deixar sua família para se alistar ao exército por ordem da imperatriz Ilizabeta. A chegada do Campo de treinamento, amizades são feitas e a vida...