Vinte e Três

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Yelena sentiu o sangue em sua boca e cuspiu o mesmo no chão, ela olhou o general na sua frente.

- Virei seu saco de pancada? Deve estar mesmo muito entediado.

- Espero tirar um palavra decente de sua boca até chegarmos em Arenia.

- Que bom que é uma longa viagem.- Kirigan puxou uma cadeira e se sentou na mesma.

- Você realmente é teimosa como todos dizem.

- Eu sou um amor de pessoa.- ela sentia sua barriga doer, talvez seja pelo chute que tinha levado antes do soco na boca.

- Em menos de uma semana chegaremos a Arenia, mesmo que seus amigos venham te resgatar, você estará em território inimigo.

- Eu não preciso deles, posso salvar a mim mesma.- diz confiante.

Ela iria. Ela iria escapar e sair das mãos deles.

Só não sabia como.

Ainda não.

- Seu sarcasmo não irá salvá-la.

- Ouch!- diz sarcástica.- Essa doeu mais do que o soco que você acabou de me dar.

- Todos sabemos que você tem uma fraqueza, Montagov. Todos temos uma. Você pode se pagar de durona agora, mas sei que há uma garota encolhida aí dentro.

Jogo psicológico, claro.

- Está certo. Existe uma garota encolhida dentro de mim.- o general ajeitou a postura.- Mas não chegue muito perto porque ela pode te atacar quanto menos espera.

- Gosto da sua confiança.

- Obrigada.

- Não foi um elogio.

- Eu considero como se fosse.

- Deuses, você é irritante.

- Você nem imagina.

- Me diga apenas um segredo da imperatriz e eu irei embora, amanhã voltarei.

- Para você usar como chantagem contra Moldova? Não, obrigada.- o ruivo se levantou e se aproximou, Yelena fechou os olhos preparada para o próximo golpe e sentiu um forte chute em sua barriga.

Ela sentia que poderia vomitar a qualquer instante.

⚔️

Nikolas estava sentado na varanda de sua cabana, não queria admitir mas sentiu falta daquele espaço, a rua mal iluminada com os soldados conversando calmamente.

O homem estava com a cabeça baixa, olhava as palmas de suas mãos e logo fechou elas.

- Nikolas?- o homem levantou a cabeça e viu Atlas. Ele se levantou e Atlas o abraçou.- Eu fiquei sabendo do ataque. Você está bem?

- Fisicamente? Estou.- disse separando o abraço e sentando novamente no degrau da varanda e Atlas fez o mesmo ficando ao seu lado.- Tive apenas dores no corpo, principalmente as pernas.

- Mentalmente?- Nikolas balançou a cabeça.

- Deve ser uma merda esse negócio que você tem.

- Mas eu também me culpo, Atlas. Se eu não tivesse me distraído e corrido para perto da general, talvez ela ainda estaria aqui.

- Falando assim até parece que ela está morta...Ela está morta?- Nikolas olhou para Atlas e pela primeira vez o amigo sentiu medo dele.- Desculpa eu não...

- Apenas...não fale sobre isso, eu não sei de nada, eu não estou sentindo nada.

- Pense positivo, ela está bem e tudo dará certo.

- Você foi escalado para ir, não é?

- Sim, pensei que você fosse ficar feliz com a notícia. Eu me esforcei muito essas últimas semanas, sou um dos melhores da turma.- Nikolas ficou feliz por dentro mas não conseguiu esboçar uma reação, não entendi o que estava acontecendo consigo.

- Pelo menos terei com quem conversar na viagem de navio.

- E então? Você conheceu o mar?- Atlas disse para distrair o amigo.

- Conheci, é água normal mas o sal está bem presente e arde muito quando entra no olho.- Nikolas se lembrou do momento dele na praia, Yelena apareceu e o empurrou no mar.

Merda, tudo faz ela voltar para meus pensamentos.

- Eu irei, só não sei se terei coragem de me tacar do navio para sentir o gosto da água.

- Você não é maluco a esse ponto.

- Talvez eu seja.- Nikolas riu fraco.- Ah, eu consegui minha primeira cicatriz.- Nikolas o olhou confuso, Atlas estendeu a manga da camisa e mostrou o antebraço onde havia uma linha fina cortando o mesmo, ainda estava avermelhada e com uma leve casquinha.

- Como conseguiu isso?

- Aula com espadas, a mulher que eu tive como dupla era melhor do que eu.

- Invente uma história épica para os seus filhos, diga que conseguiu essa cicatriz lutando bravamente.

- Claro que direi, salvarei o pouco de dignidade que ainda tenho.- Nikolas riu, mas a risada se transformou em espasmos quando uma dor atingiu seu peito, uma agonia similar a que ele sentiu no dia que os generais iam ser atacados durante a madrugada.- Nikolas?- Atlas colocou as mãos nas costas do amigo, os olhos o olhavam em desespero sem saber o que fazer.

Em questões de segundos parou, como se nunca tivesse existido a dor. Nikolas respirou calmamente até sua respiração voltar ao normal.

- O que aconteceu?

- Alguma coisa aconteceu com a general.

- O que?

- Eu não sei!- levantou o tom de voz, colocou a mão no peito como se a dor pudesse voltar, Nikolas não gostava de pensar na ideia mas se ele continuasse sentindo agonia significava que a general ainda estava viva.

Nikolas pensou que iria vomitar com o pensamento.

O Chamado de GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora