Quatro

193 34 0
                                    

- Eu ainda sinto o dedo no gatilho.- um arrepio passou pela espinha do homem.- Eu me senti estranho.

- Pare de drama, Atlas. Foi apenas uma aula.- Nikolas diz mexendo sua caneca de cerveja.

Havia anoitecido, depois do treinamento Nikolas foi a cabana e tomou um banho longo para relaxar os músculos. Descansou alguns minutos deitado mas Jean o chamou para ir a taverna.

Hoje havia cerveja para os novatos além do jantar, para comemorarem seu primeiro dia, apenas serviam bebidas alcólicas em ocasiões especiais. Claro que Nikolas chamou Atlas e os três foram ao local.

A taverna parecia animada, o vozerio pelas mesas, baris com cerveja estavam livres para soldados pegarem quando quiserem. Eles pegaram as canecas, escolheram uma mesa e brindaram.

- Pelo menos eu sou acostumado a usar a espingarda, muitos já tentaram invadir fazendo para roubar a colheita ou os animais.- os dois olharam Jean.

- Você já matou alguém?- Atlas perguntou em choque.

- Não, apenas dava tiros de aviso, para assustar.

- Mas agora não importa, quando formos ao campo de batalha, teremos que usar as armas.- Nikolas diz.

- Ele está certo.

- Vocês já estão consumidos pelo pensamento do exército e ainda nem acabou o primeiro dia.- Atlas diz e eles riram.

Os risos se cessaram quando eles começaram a prestar atenção na conversa da mesa ao lado.

- Normalmente os generais ficam aqui ou na capital, mas eles não aparecem tem algumas semanas.

- Eles devem estar no campo de batalha, o último ataque foi no litoral.

- Eles estão lutando com uma coisa que vocês logo saberão o que é.- um soldado ainda de farda que estava na mesa sussurrou a si mesmo girando seu copo.

- Você está aqui a mais tempo que a gente, como são eles?- uma garota perguntou.

- Muito bem, mas apenas irei falar porque estou com tempo livre. Aproxime-se quem quiser ouvir.- os três se aproximaram, outros ficaram em pé perto da mesa do soldado.- Certo, eu já estou no campo a um ano porque fui escalado a ficar aqui. Eu conheci os famosos generais que vocês tanto querem conhecer, alguns eu vi de longe e outros eu conheci pessoalmente.

- Eles são simpáticos?- Atlas perguntou.

- A maioria é seria demais, mas se você conversa com eles quando estão em um bom dia, são simpáticos.

- Como é o Hellsink?- um grupo de garotas perguntaram.

- Sendo sincero? Muito narcisista, elogie uma vez e ele começa a se gabar de todos os prêmios de mérito que já ganhou.- Todos riram, Nikolas olhou Atlas e o amigo deu um soquinho no seu ombro.

- Eu não falei nada.

- Eu sei que você ia me zoar.

- E o Ivanov?- Jean perguntou.

- O mais simpático deles, eu ajudei ele com alguns equipamentos e até já tomei chá na sala dele. Parece aquele parente que pode te paparicar em uma hora e na outra já está te xingando.

- E a megera?- um garoto perguntou, ele e seu grupinho riram.

- Ela odeia esse apelido.- riu fraco.- Vamos lá, vou ser sincero que eu nunca conversei com ela. Apenas cumprimentava quando passava e ela me ajudou algumas vezes a manter ordem nos recrutas. Os seus treinos são os mais rígidos mas os melhores que temos, pena que ela não da eles com muita frequência.

- Ela é bonita pessoalmente ou é lenda?- Alguém do fundo perguntou.

- Sim, adultos com hormônios de adolescentes. A general Montagov é bonita e uma ótima soldado, não é atoa que ela é general.

- Mas muitos soldados que vão com ela acabam mortos.- Atlas diz.

- Nem todos acabam mortos.- Jean o lembrou.

- Uma coisa que eu falo por experiência própria, a partir do dia que vocês pisaram aqui, a morte andará colada em suas costas. Coloquem isso dentro de suas cabeças, não há escapatória da morte em uma guerra, só se você tiver nascido com a bunda para a lua e sobreviver.- se levantou.- Então vamos beber e brindar pela vida que ainda temos, seus bebês.

Todos levantaram os copos e brindaram entre si.

⚔️

No dia seguinte, durante o horário livre do almoço, Nikolas tirou um tempo para escrever a sua mãe. Sabia que a mulher ficaria nervosa a todo momento, então tentaria mandar cartas pelo menos duas vezes no mês para acalma-lá e dizer que estava tudo bem.

Cara mãe,

Como a senhora está? Não se passou nem três dias e a senhora já sente minha falta? Layla está se comportando ou fazendo pirraça?

Eu estou bem, estou no campo de treinamento e acredito que ficarei alguns meses aqui, então acalme o coração. Sendo sincero, está sendo mais cansativo que eu imaginei, eu pensava que levantar caixas pesadas era o difícil mas estava enganado.

Tenho treino desde o raiar do sol até o sumiço dele, temos refeições diárias e uma cama para dormir. O lado bom é que eu já fiz amigos, Jean e Atlas, Atlas é filho do marceneiro que fez a mesa onde colocamos os pães da manhã e tarde na loja, ele é uma boa pessoa.

Fique bem mãe e quando essa carta te encontrar, lembre-se que mesmo longe, o seu filho amado ainda se preocupa com a saúde de sua velha. Desculpa, eu sei que odeia esse apelido.

Eu te amo, digo a você e Layla.
De seu filho, Nikolas.

O homem fechou o envelope e escreveu o endereço de sua casa e vilarejo, ele caminhou e entregou a carta ao mensageiro.

- Dois dias de treino e já esta mandando carta pedindo ajuda?- ele se virou e encontrou o Callman.

- Senhor.- inclinou a cabeça em sinal de respeito.

- Descansar.- Nikolas levantou a cabeça e o mensageiro se afastou.

- Estava apenas enviando uma carta a minha família, minha mãe se preocupa muito comigo.

- Eu entendo, minha mãe também era assim. Me mandava cartas todos os dias para saber como eu estava e agora meu marido está igual a ela.

- O que o senhor quer falar comigo, coronel?

- Apenas estava passando e te vi, não tenho nada demais a falar.- um soldado se aproximou e cochichou algo no ouvido do coronel Callman.- Eu tenho que ir agora, aproveite o resto dos minutos para descansar, Roman.

- Sim, senhor.- o coronel assentiu e se afastou junto com o soldado, Nikolas foi na direção oposta indo a taverna.

O Chamado de GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora