O interior do salão é quente. Eu me sinto uma batata em uma sopa. As famílias estão todas bem vestidas trocando cumprimentos. Eu não consigo me prender em nenhum dos assuntos em vigor. Berenice está perfeita em seu vestido de luxo em vários tons de rosa. É difícil convencê-la a sair da cabana e descer a montanha, mas hoje é um dia especial para todos nós.
Em menos de uma semana, Linda nos convenceu de que quer assumir seu lugar por direito. E por mais que eu goste de manter a paz que demoramos tanto para conquistar, algo dentro do meu peito implora para voltar para o mar. Berenice está igualmente cansada de ser dona de casa e todos nós concordamos que é hora da nossa garotinha ser a rainha que nasceu para ser.
Eu suponho que estejamos no melhor tempo para isso. Não enfrentamos ameaças há alguns anos e as casas estão contentes.
Em meio a um copo e outro, vejo homens burgueses trocarem apertos de mão. Uma mulher sussurra algo em meu ouvido e eu respondo com um sorriso, de longe vejo Berenice entortar a boca e eu sei que isso é um sinal de desaprovação. Eu me despeço e caminho em direção aos mercadores.
Peço licença e tomo a palavra.
- Meus senhores e senhoras, parabenizo as casas e os noivos por essa união. – Eu digo, sempre cuidando as palavras que escolho. – Essa noite é uma noite de muita comemoração. – Eu ergo minha taça, acompanhada de outros. Agora os olhares estão presos em mim, aguardando pelas minhas ordens. – Eu gostaria de aproveitar o evento festivo para apresentar a vocês, a herdeira do trono de pedra, Linda, filha do Duque dos Mares. – Assim que eu termino a frase os olhos de completo choque se viram em direção as portas. Linda passa por elas acompanhada de Augusto e o salão cai em completo murmurinho. Linda está incrível, mesmo com algumas partes do vestido faltando. Seus pés estão descalços e seu cabelo está solto, mas com a joia de sua mãe ao lado direito de sua cabeça. Meus olhos enchem de lagrimas. Seus pais estariam orgulhosos. – Linda é herdeira legitima do trono de Torunta e irá assumir as negociações de sua casa a partir de hoje. Vamos retomar aos mares assim que possível. Aqueles que desejarem se juntar a tripulação, estaremos fazendo o recrutamento amanhã, no interior do castelo. – Eu digo por fim. Os mercadores parecem estar em completa perplexidade. Alguns reclamam, outros se questionam, mas ninguém ousou falar nada.
Linda caminha em minha direção, passando aos olhos de todos.- Desculpe a pergunta Mylady, mas como assim "herdeira do trono"? O trono de pedra não existe há anos. – O mercador pai da noiva questiona. O interesse do mesmo no castelo era evidente e foi desencorajado por outros nobres devido o valor simbólico daquelas paredes.
- O trono de pedra era um capricho do Duque. Não uma monarquia de fato. – O pai do noivo complementa.
- Sim, por isso Linda vai ficar apenas com o que lhe é seu por direito. – Eu digo, não dando muito enredo para as discussões. – Não estamos obrigando ninguém a se ajoelhar. – Eu concluo.
- Desculpe Mylady, mas quando você diz que a garota é herdeira, você está apagando anos de nossa história. – O pai da noiva prossegue. – E por mais formosa que a menina seja, ainda assim, é apenas uma menina. E voltar para os mares? Há mais de 10 anos que essa linhagem não vai ao mar. – Ele diz, eu apenas concordo.
– E é sempre um bom momento para voltarmos. – Eu digo. Eu percebo a inquietude de Linda. Não estávamos prevendo resistência. Não em ambiente aberto. Acreditei que a lealdade ao Duque fosse prevalecer. Talvez eu estivesse muito iludida e os anos que se passaram afetaram o meu julgamento.
- Isso quer dizer que vamos voltar a dever para a pirataria? – O pai do noivo questiona. O falatório começa a soar mais alto no interior do salão. Eu começo a temer ter sido uma péssima ideia.
- Isso sem contar que, nem temos certeza se essa garota realmente é filha do Duque. Acredito que se formos falar sobre o trono, outras pessoas sejam melhores indicações, do que uma criança que até ontem estava morta. – E foi tudo que o pai da noiva conseguiu dizer.O som do disparo ecoou no salão, seguido do sangue do homem que espirrou no meu rosto, antes do seu corpo sem vida cair aos meus pés. Escuto sua filha, a noiva, gritar e depois um silencio absoluto. A alguns metros estava Linda, com sua pistola em mira. Ela me olha com seu olhar fulminante, em seguida abaixa sua arma e fala em alto e bom tom, para que todos possam ouvir.
- Mais alguém tem dúvidas se sou filha do meu pai? – Linda caminha em minha direção, chuta o homem para o lado e encara as pessoas do salão. – Meu nome é Linda e sou a sua rainha, quer vocês queiram, ou não. – ninguém ousa falar nada, estão acostumados com a paz e a Linda é o caos em pessoa. Ela pega uma taça, enche de vinho, vira em direção as pessoas e sorri. – Vamos, comemorem! Vamos voltar a ser o que já fomos um dia. – E em seguida bebe.
Eu temo por nós.
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Tormenta
AventuraA protagonista é louca e vai se tornar a vilã que mata todo mundo no final. É um prato cheio, tem romance sáfico, umas cenas de sexo bem quentes, tem tramas, mentira, fofoca e traição. O livro é contado através do olhar de vários personagens simulta...