Tormenta

Você não entende nada de coisa alguma - Augusto

Eu ouvi rumores a manhã inteira. A tarde se inicia e nada de Linda sair do quarto. Eu passo pelos guardas que estão em sua porta. Os dois juram que ninguém entrou ou saiu a noite toda. Eu percebo o quão eles parecem inúteis parados ali sem desconfiar de uma princesa inquieta que desapareceu por horas afinco. Peço licença aos dois e abro as portas. A vergonha que eu senti um dia antes ao entrar no recinto não faz mais parte de mim. Passo pelas tais portas ornamentadas grandes de mais e como eu imaginava. Linda está completamente nua, com outra garota dormindo no seu peito. Seus olhos estão estalados e ela parece, bem, parece estar com fome.

Eu a encaro perplexo, mas não digo nada. Ela faz sinal para a menina que dorme tranquilamente, eu devolvo com uma careta, ela sorri. Eu engulo minha raiva e talvez um pouco de ciúmes.

- Ei garota. – Eu chamo. Ela acorda, se assusta com a minha presença. Eu fecho a cara. – Pegue suas coisas, saia e eu finjo que isso - aponto para os lençóis revirados - nunca aconteceu. – Ela engole em seco, olha para Linda buscando respostas, Linda confirma com a cabeça, elas tiveram uma conversa inteira sem proferir sequer uma palavra, uma noite e parece que foi possível desesnvolver um novo dialeto. A garota se enrola no lençol, eu viro de costas como um bom cavalheiro, ela corre pelo quarto, pega suas roupas, se veste e sai. Assim que a porta se fecha eu encaro Linda. – Quer me contar o que aconteceu?
- Em detalhes? – Ela pergunta. Eu faço cara de nojo.
- Não! Nossa. Como você perde a virgindade sem nem se importar? – Eu questiono. Não faz nenhum sentido esse tipo de comportamento. Ela pisca várias vezes.
- O que é "virgindade"? – Linda pergunta. É claro que ela não compreende o conceito de castidade. Na verdade, isso deve ser libertador.
- A primeira vez que você se deita com uma pessoa. – Eu digo. Minha voz entrega meu cansaço. Ela começa a rir. – Do que você está rindo?
- Não é a primeira vez que a gente faz isso. – Eu a olho perplexo. Ela parece bem relaxada, eu evito olhar para o seu corpo. – É a primeira vez que eu sou pega. – Ela conclui. Eu reviro os olhos. – Mas ontem... Foi um pouco mais intenso... – Ela começa.
- Linda, chega! Eu não quero saber nem mais uma palavra. Venha. Vamos encontrar suas tias. Acho que eu vou te dar aulas sobre política. É impressionante como você não sabe nada sobre coisa alguma. – Ela sorri e me joga um travesseiro.
- Eu posso te ensinar a beijar garotas, parece que sou melhor nisso que você.