O cheiro da comida de Berenice me alcança antes que eu possa colocar meus pés na cabana. Acredito que seja pato assado. Berenice é uma excelente dona de casa! Nunca deixou nada faltar para mim ou para Linda. Foi uma ótima mãe na ausência de Dona. As vezes ela coloca uma cadeira de madeira em frente ao rio e conversa com os fantasmas do nosso passado. Ela agradece pela família que temos hoje, mas sente falta da que já fomos um dia.
Essa saudade tirou um pouco do seu brilho. Seus olhos não são mais alegres e entusiasmados como antes, agora carregam uma dor profunda, mas que ela consegue disfarçar com o sorriso que nos lança. Aquele sorriso único que ela usa especialmente para mim ou para Linda, cada vez que ela aprende algo novo ou conta sobre suas aventuras.
Eu chego na cabana, abro a porta e vejo um garoto sentado junto a mesa, ao lado de Linda. Berenice está retirando o pato do forno de barro. Eu encaro a cena. Antes que eu possa conter meus impulsos eu puxo a pistola e aponto para o garoto. Linda explode em gargalhada.
- Por que todas vocês resolvem as coisas com armas? – O menino diz fazendo sinal de rendição. – Eu sabia que um dia isso aconteceria, que Linda apresentaria alguém a família, mas não pensei que fosse tão cedo.
- Você não gosta de garotas? – Eu pergunto tentando entender o que está havendo. Os corpos no caminho deixaram de fazer sentido. Eu encaro o menino, seus traços são familiares, mas eu não lembro de já tê-lo visto na cidade. Linda se debruça em cima da mesa de tanto rir.
- Eu gosto de garotas! – Ela diz, puxando o ar. O menino e Berenice se entreolham e em seguida a encaram.
- E de garotos? – Ele pergunta, como se eu não estivesse apontando uma arma em sua direção, eu estalo a pistola, ele se assusta. Linda se diverte.
- Eu também gosto de garotos! – Ela diz, complementando sua afirmação. – Porque isso é uma questão? – Ela coloca os pés na mesa. Berenice reprova o comportamento e Linda retira os pés da mesa.
- Tavaras, baixa essa arma. – Berenice diz, eu a encaro.
- Quem é você? – Eu pergunto para o menino, ele parece um frango, se tremendo inteiro.
- Eu me chamo Augusto... – Ele começa.
- Filho de Asnos. – Eu completo baixando a arma. Já sei de onde eu conheço o menino. É meu afilhado.
- Oi madrinha. – Ele diz. Linda para de servir a comida em sua tigela e nos encara.
- NÃO, enfim eu tenho um jantar em família. – Linda faz graça com sua habitual ironia. Eu me aproximo da mesa e puxo uma cadeira. Não sou sentimental, os anos passam, caráteres mudam, eu preciso saber o que esse garoto quer aqui.
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Tormenta
ПриключенияA protagonista é louca e vai se tornar a vilã que mata todo mundo no final. É um prato cheio, tem romance sáfico, umas cenas de sexo bem quentes, tem tramas, mentira, fofoca e traição. O livro é contado através do olhar de vários personagens simulta...