- Augusto? – Linda chamou meu nome. Eu estava sentado na sombra da arvore, ela estava pendurada nos galhos.
- Mylady? – Eu respondo com a educação de um cavaleiro. Ela ri.
- Porque seu pai mandou você? – Ela pergunta. Sua curiosidade parece genuína. Eu pego um graveto do chão e começo a desenhar símbolos com a ponta.
- Eu acredito que ele não tenha me mandado em uma missão perigosa, pelo contrário. – Eu digo, não sinto que eu preciso ter vergonha do julgamento de Linda.
- Ele acreditava que eu estaria morta. – Ela diz. Eu concordo com uma risada nasal.
- Ele me mandou para o fim do mundo, porque acreditava que aqui eu não seria morto. Eu era uma preocupação a mais no navio. – Eu digo. Agora jogo o graveto no rio. Ela desce da arvore e senta ao meu lado.
- Vai ver ele estava tentando te proteger. – Ela diz.
- Me escondendo aqui? Como fizeram com você? – Eu pergunto. Ela morde os lábios e eu percebo que estou navegando em águas incertas.
- Você é fraco. – Ela diz. Eu concordo. Ela me empurra com seu ombro. – Porque você quer ser! – Ela completa. Eu começo a negar. Ela coloca uma das suas mãos na minha boca. – Você nunca precisou ser forte. – Ela conclui e eu não posso negar, então eu só empurro suas mãos para longe do meu rosto. Ela sorri. – Porque você aceitou vir? – Essa pergunta é delicada e eu não sei como responder. Começo a buscar as palavras...
- Tinha uma garota. – Ela arregala os olhos, surpresa, como se não estivesse esperando por essa reação, puxa suas pernas para junto do corpo e me encara atenta. Eu sorrio com sua evidente empolgação. – Mas ela não era pra mim! Estudamos na mesma academia, ela era filha de um homem muito poderoso...
- O que aconteceu com ela? – Linda pergunta ansiosa. – Ela morreu?
- O que? Não! Nossa! Ela não morreu Linda! – Eu digo em espanto, Linda volta para as suas feições irônicas de sempre.
- Se ela não morreu, porque você não está com ela? – Ela me pergunta e eu a encaro incrédulo. Ela realmente acredita que a morte é o único empecilho para que duas pessoas que se amam não fiquem juntas.
- Ela foi prometida a outro homem. – Eu digo, dando a nota vocal correta para cada palavra, eu quero que Linda sinta a minha dor.
- Você é mesmo um frango! – Ela diz. Parecendo não se importar nem um pouco com a minha dor.
- Eu não sou um frango! – Eu digo, tentando recuperar o pouco de dignidade que me resta. Ela cai na gargalhada. – Vem, vamos. Temos que devolver um vestido. – Eu digo. Linda se apoia em mim para se erguer do chão. – Preparada para fazer sua aparição na cidade? – Eu pergunto. Ela parece empolgada, nervosa e totalmente doida. Esse misto de loucura, felicidade e êxtase. A Linda é como um frenesi e estar em sua presença é compartilhar de algo diferente de tudo que o mundo poderia provir.
- Eles já sabem sobre mim, só nunca tiveram certeza. – Ela diz. Eu confirmo.
- Você precisa de roupas! – Eu digo. Ela joga a cabeça para trás e urra, fingindo desistência. – Vai vesti-las! – Eu digo enquanto ela caminha para o interior da cabana. – Agora você está viva! Os vivos usam roupas! – Eu grito, ela faz sinais debochados antes de desaparecer da minha vista.Eu sorrio e volto a me sentar no chão. Está entardecendo e hoje é o dia do casamento. Uma semana se passou desde nosso primeiro encontro.
Na primeira noite eu não consegui dormir ao seu lado. Eu tive medo que ela atirasse em minha cabeça enquanto dormia. Agora, eu confio minha vida a ela. Tão pouco tempo. Parece que nos conhecemos há anos. Desde que eu cheguei as ocorrências das travessuras do "espirito selvagem" diminuíram, pois o tal espirito está ocupado demais se entretendo comigo.
Nós lemos os diários que estão comigo. Eu li os que ficaram com ela, não todos, claro, mas aqueles que ela julga mais importantes. Quase enlouquecemos Berenice uma ou duas vezes. Tavaras foi diminuindo a carranca com o passar dos dias. Mas todos estamos nervosos com a noite de hoje.
Será a primeira vez que Linda vai aparecer para os moradores do vilarejo e, por mais que eu odeie admitir, essa pode ser uma decisão precipitada e um tanto perigosa. Afinal, ela é a realeza desse lugar. Ela tem direito ao castelo, a frota, ao exército. Ela estar viva dá mais trabalho do que morta.
Sem contar suas travessuras como "espirito selvagem".
Eu temo por ela. Mas ela parece não temer por nada.
Eu escuto passos e abro os olhos, estou pronto para conduzi-la pelo interior do salão e apresenta-la para o mundo...
- Linda! Mas que diabos você fez com o seu vestido? – Foi tudo que eu consegui dizer.
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Tormenta
AdventureA protagonista é louca e vai se tornar a vilã que mata todo mundo no final. É um prato cheio, tem romance sáfico, umas cenas de sexo bem quentes, tem tramas, mentira, fofoca e traição. O livro é contado através do olhar de vários personagens simulta...