Uma dama como eu - Linda

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- O plano de vocês é sequestrar uma garota de dentro de um navio, fingir a sua morte e depois apresentar a Linda como futura pretendente ao irmão de Maria? – Tavaras repete as palavras com o seu melhor tom de escárnio. Berenice nega o vinho que está sendo servido pelas serviçais, com os olhos fixos em mim, como se estivesse procurando respostas. Desista tia! Nem eu consigo compreender meus motivos, você também não terá sucesso. Eu sei que o plano soa impossível quando dito em voz alta, mas eu e Augusto trabalhamos nele a noite inteira. Movidos por decisões a flor da pele, com o olhar cheio de determinação e raiva, porém, trabalhamos.
- Eu sei que parece improvável. – Eu começo a explicar, lembrando da voz doce de Augusto quando falava de Catherine. Tavaras me responde com uma risada nasal, como para me lembrar que não sou boa em estratégias – Porém, agindo dessa forma eu recupero meu navio, mato Arthur e devolvo a garota para Augusto. – Eu digo, Tavaras desvia o olhar de mim para Augusto. Eu balanço minhas tranças e encaro o teto do salão do castelo. Pinturas cobrem toda a extensão da cúpula.
- É impossível invadir Teresa. – Tavaras diz, antes de morder um pão doce. - Mesmo com uma tripulação melhor, Teresa afundaria nosso Corvo antes que pudéssemos chegar perto.
- E porque não agimos em terra? – Augusto diz. Fitando as mãos tremulas em frente ao prato. A atenção da mesa está toda em si. – Ninguém fora dessa ilha sabe que Linda está viva. Vamos continuar mantendo essa informação em segredo e ao invés de surpreender Arthur em mar, vamos sequestrar Catherine em terra, fingir sua morte e partir para o encontro junto ao meu pai. – Ele diz, Berenice estreita os olhos tentando acompanhar o raciocínio.
- Estaríamos sem reforços. – Tavaras diz. – Além disso, uma esposa morre e em poucos dias surge a notícia de Linda. Isso a torna a primeira suspeita.
- Minha senhora... – Augusto muda o tom de voz para quase uma súplica - Se queremos mandar uma proposta de casamento para Arthur, precisamos fazer com que ele pense que não tem mais uma futura esposa. – Eu concordo com a cabeça. Tavaras estreita os olhos e chacoalha os cabelos em negação, lembrando-nos de meu pai e suas 5 mulheres – Além disso, Teresa pertence a Linda por direito, mas toma-lo, como você mesma disse, é impossível, a não ser que sejamos convidados a bordo. – Tavaras começa a negar quando Berenice a interrompe.
- Vamos fazer diferente. – Todos nós olhamos para Berenice. – Vamos fazer uma proposta democrática. A ideia de esconder nossa identidade não é ruim, mas logo os rumores vão se espalhar, se é que cartas já não foram enviadas, precisamos agir com a mesma velocidade. Vamos enviar uma proposta de casamento formal, dizendo que uma nobre de Torunta, rica, com tripulação, herança e o melhor, fraca e inexperiente gostaria da atenção de Arthur. – Eu fecho a cara, Berenice coloca a palma de sua mão sobre a minha, eu me tranquilizo, me recosto na cadeira e escuto o plano. - Como de costume, Arthur deixará a esposa em uma hospedaria, para poder receber a visita da nobre. A essa altura os rumores já terão alcançado Arthur e ele estará curioso e atento, porém, homens são sempre homens. Quando o convite for aceito já estaremos dentro de Teresa. Ninguém conhece aquele navio melhor que nós, a única coisa que você precisará fazer Augusto é ir até a hospedaria. Que provavelmente estará sem guardas. – Berenice para de falar bebe seu vinho e encara Tavaras que pondera.
- O que? Só vocês três contra toda a tripulação de Arthur? Isso é loucura! – Augusto parece incrédulo. Berenice sorri. – Nós três e uma bruxa, que por sorte, já está lá.

Eu sorrio com a ideia de ter uma bruxa. Eu li sobre Zaila nos diários do meu pai, ele a descrevia como uma mulher incontrolável, capaz de destruir uma tripulação inteira sozinha. Perfeito! Já tia Tavaras está negando veemente desde que Berenice parou de falar. Ela deve ter seus motivos. Augusto parece nervoso com a estratégia.

De fato parece um plano cheio de falhas e é por isso eu sei que vai funcionar. Afinal, quem poderia imaginar que um homem seria vencido em seu território, apenas por ser arrogante de mais para dispensar uma proposta de casamento? Mas e se se ele não aceitar? O plano todo depende do ego de um homem.

Segundo Augusto, Arthur é forte, foi criado para ser um governante, mas é pouco inteligente. A fama fez sua cabeça e com os anos se tornou prepotente. Ele não espera essa ameaça, está acostumado com uma vida coberta de privilégios. Não entende o que é ter medo. Bom, eu vou ensinar a sensação. 

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