Capítulo 08

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Cinco meses atrás

A luz da lanterna em frente ao meu rosto incomoda meus olhos. Movimento minha cabeça levemente quando o médico me orienta. Após desligar a lanterna ofuscante, volta o olhar para o prontuário na sua mão e faz algumas anotações rápidas. Espero pacientemente enquanto ele guarda a caneta no bolso do seu jaleco. Sutilmente olho para o Henry parado centímetros atrás do médico. Ele confere o relógio no pulso de cinco em cinco segundos, como se precisasse estar em outro lugar mais importante em vez de me acompanhar até o hospital. Sei perfeitamente que só veio para amenizar a crise na imagem da sua empresa depois que sua esposa me agrediu.

— Você está perfeitamente bem, Lyno. Não há nada com o que se preocupar. Só precisa descansar um pouco. — Henry se aproxima rapidamente quando o médico informa.

— Então podemos ir? — Pergunta e o doutor concorda sem relutância. Com um simples olhar que recebo, levanto devagar e me direciono à saída do consultório.

— Sinto muito por tudo isso, Lyno. Não imaginei que minha esposa fosse chegar a esse ponto. Ele tem tido dias ruis por causa do Benjamin. — Sem desvio, Henry diz apressadamente assim que voltamos ao seu carro. — Sei que é pedir muito, mas se puder não registrar uma queixa contra ela ficarei muito agradecido.

— Por favor, eu não faria isso. Sei que foi só um mal-entendido, ainda mais depois do que houve com o Benjamin. — Honestamente, não tenho certeza se entendo a que se refere, por isso me concentro em confirmar seu comentário até descobrir a verdade. — Como ele está?

— Você sabe: impulsivo. Depois que a Caitlin descobriu que ele namorava um garoto que já está na faculdade, ela ficou mais instável. — Fico em silêncio por um tempo. — Mas é só uma fase. Garotos são garotos. Logo ele encontra um rapaz no colégio.

— Sem dúvidas. É só uma fase. — Faço uma anotação mental para lembrar da expressão de tristeza dele. É sempre muito cômica. — Então... — Relembro o motivo que me fez ir até a emissora. — Como é o dia a dia na sua empresa?

— Você está realmente interessado? — Concordo com um grunhido. — O fluxo é bem intenso. Todo mundo precisa gerenciar várias demandas para que o jornal vá ao ar sem lacunas e com tempo correto. Além disso, temos nossa equipe do online e impresso. Atualmente, estamos alinhando a abertura da nossa rádio. Quem sabe você não seja nosso primeiro estagiário voluntário?

— Seria uma honra. — Minto. Deve ser entediante trabalhar com ele. — Mas... — Penso um pouco antes de continuar. — Como a sua empresa surgiu? E por que só temos uma na cidade? Você impede a concorrência? — Brinco um pouco, mas realmente preciso entender como minha família entra na folha de pagamento dele.

— Bom, é sempre preciso se manter atualizado para continuar no topo. — Henry usa seu melhor tom de humor e eu sorrio apenas para satisfazê-lo. — Nossa empresa surgiu há dezoito anos. E, na verdade, somos a segunda emissora de comunicação que iniciou os trabalhos em Lie Place. Começamos em um lugar minúsculo, menor do que o seu quarto, provavelmente. Era apenas a Caitlin e eu no começo e durante um ano a situação era complicada para nós. — Diz com pesar na voz. — Mas almejávamos alcançar toda a cidade, ganhar renome e não desistimos. Com muito esforço e longas noites sem dormir, chegamos até aqui.

A essa altura da sua explicação, paramos no semáforo. Estamos há uns dez minutos de distância da minha casa: tempo suficiente para eu conseguir algo mais interessante do que velhas histórias sobre superação. Por isso, rapidamente procuro suas palavras na minha cabeça, em busca de algo que leve a um assunto mais revelador.

O Renitente - O Preço da MentiraOnde histórias criam vida. Descubra agora