Capítulo 19

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2º ano do ensino médio

Estaciono o carro em frente à casa do Ethan e envio uma mensagem logo em seguida avisando que estou à sua espera. Diferente das outras vezes, ele não me responde e demora quase dez minutos para sair. O caminho que faz até o carro é mais rápido que o habitual, por isso o sinal de alerta na minha mente reluz como um grande farol na noite mais escura. Estranhamente, o ritmo da sua respiração está acelerado. Quando não me cumprimenta e nem encara, imediatamente a sensação de algo estar errado se instala em mim, da mesma forma que as trepadeiras crescendo em torna da casa dele: viçosa e rigorosamente.

Forçosamente me contenho para não virar seu rosto na minha direção. Naturalmente, esse seria meu impulso e, de alguma forma, resolveria a situação, mas Ethan não costuma agir dessa maneira. Ele é caloroso, extremamente agitado e saúda até pessoas que nunca viu antes. Seu humor matinal é gigantesco e, às vezes, contagiante. E agora, sentado ao meu lado, tudo que consegue fazer é olhar para janela em direção ao lado contrário da sua casa. Hoje é sexta-feira e temos uma festa na fraternidade da universidade para ir logo mais. Definitivamente, seu humor deveria estar melhor.

— Devo ficar preocupado? — Questiono-o sutilmente e não surte efeito algum. — Ethan, algo está consumindo seus pensamentos? — As minhas palavras são como o mais absoluto silêncio porque ele nem mesmo se move. — Não vamos sair daqui até você me falar o que está acontecendo.

— Eu estou bem, Lyno. Podemos, por favor, sair daqui? — A afirmação nem chega perto de ser verdadeira. A força excedente que utiliza para controlar o choro me congela o estômago brevemente.

— Sabe que pode confiar em mim, Ethan. — Toco o tecido do seu moletom, na tentativa de acariciar seu braço e ele finalmente me revela seu rosto. No canto direito do seu lábio inferior há um pequeno corte. — O que houve com sua boca?

— Nada. Um garoto idiota achou que eu estava encarando demais a namorada dele na livraria. — A facilidade em que explica poderia me convencer se não o conhecesse. Ethan nunca encararia uma garota dessa forma e muito menos entraria em uma briga. De repente, enquanto processo suas palavras, sua expressão muda bruscamente ao olhar para a entrada da sua casa. — Por favor, Lyno, podemos sair daqui? — A súplica é piedosa quando ver seu pai.

Honestamente, não consigo contar a quantidade de tempo que o senhor Joe e eu nos encaramos, porém, uma sensação angustiante preenche meu peito. Sempre o vejo na sua casa e na igreja, mas algo, sem dúvidas, está mudando nossa atmosfera. Por que o pastor da cidade me causa calafrios apenas com um olhar? Talvez seja o clima nublado, a bíblia gigante que segura na mão à medida que se aproxima do seu carro ou, muito provavelmente, o pânico instalado no olhar do Ethan quando viu o pai sair de casa. Independentemente da razão que seja, involuntariamente meu cérebro me garante que preciso ficar mais atento. Saio em disparada quando Ethan implora pela terceira vez.

Ao cair da noite, um vento forte e gelado balança meus cabelos enquanto espero Ethan sair da livraria em que trabalha. Seu turno encerrou há quase quinze minutos e, outra vez, não responde minhas mensagens. Passeio as mãos nas mangas do sobretudo para me esquentar e duas figuras masculinas saem aos risos pela porta: Ethan e outro garoto que não me recordo o nome. Eles riem alto e intimamente, como se fossem amigos há anos. Lanço meu olhar de curiosidade no segundo que param na minha frente e, bastante esperto, meu amigo de infância toma à frente da situação.

— Lyno, este é o Chris. Você deve lembrar dele: trabalha comigo aqui na livraria. — Semicerro os olhos e aceno a cabeça afirmativamente, esperando ele prosseguir com sua apresentação. — Pensei que ele poderia ir conosco à festa do campus. Tudo bem para você? — Sutilmente, troco o olhar do Ethan para o Chris, tentando decifrar o que está acontecendo agora. Quando o silêncio se torna longo demais, apenas abro a porta do carro e entro.

O Renitente - O Preço da MentiraOnde histórias criam vida. Descubra agora