O Renitente - O Preço da Mentira

Capítulo 17

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Dias atuais

O som prolongado e irritante do toque do meu celular me acorda repentinamente e meu coração acelera. As ameaças por mensagem e ligação triplicaram na última semana desde que revelei o segredo do meu pai e Jeremiah. Lentamente, observo a persiana entreaberta do quarto do Ethan. Ela permite a entrada da luz da Lua, que ilumina parte das miniaturas de corujas que meu atual companheiro de quarto preserva, cuidadosamente, sobre a sua escrivaninha.

Seguro o celular com força e respiro profunda e compassadamente antes de ligar a tela. Espremo um grito com a mão na boca quando abro a foto minha e do Ethan dormindo na cama, neste exato momento. Sinto uma dor crescente na testa e um aperto no peito, provocado pelo aceleramento repentino. Essa sensação tem me feito companhia há dias.

Após o ataque ao Ethan, definitivamente deixei de me sentir seguro. Não sei quem me ameaça, não faço ideia de onde os bilhetes vêm e meu amigo não está mais disposto a invadir aparelhos tecnológicos para descobrir quem é o autor, porque decidiu que é excessivamente perigoso. Mas ele não entende que preciso dar um basta nisso e que esse é o único caminho.

— Lyno... — Seu tom é sonolento e busco seu rosto parcialmente amassado e fofo. — Aconteceu alguma coisa? — Sua preocupação me transporta levemente à realidade em que não serei morto a qualquer segundo.

— Você sabe exatamente o que aconteceu e do que eu preciso, Ethan. — Saio da cama devagar para não o machucar com movimentos bruscos. Ainda sente dor parcial na região da barriga por causa da cirurgia. — Por que não pode me ajudar?

— Já tivemos essa conversa antes. Por favor, volte a dormir. — Ele está um pouco dopado por causa do remédio, mas isso não o impede de pensar com nitidez. Quando arruma o espaço ao seu lado novamente e bate devagar, sinto, momentaneamente, que tenho todo o tempo do mundo à disposição. O pensamento ecoa bravamente pela minha cabeça, mas sei que não é verdade. — Você está segura comigo, Lyno. Não deixarei ninguém o ferir.

Desvio do seu rosto para não desdenhar da sua inocência. Seus sentimentos e desejos são nobres, devo admitir. Não duvido que fará tudo o que estiver a seu alcance para me manter seguro, mas corro riscos altos demais e ele nunca entenderá. Nenhum dos meus amigos sabe exatamente o que precisei fazer para estar onde estou. Nunca acreditei em carma, mas o modo como tudo tem acontecido — os bilhetes, as ameaças sobre ir para a cadeia pela morte do Benjamin, sem contar os ataques e intimidações recentes — me leva racionalmente a acreditar que alguém está vindo cobrar os débitos que me recuso a pagar. Esse fio de pensamento me paralisa as entranhas enquanto observo a luz da Lua entrar no quarto. Ouço grunhidos virem da cama e logo os passos lentos preenchem o breve silêncio.

— Realmente quero acreditar que você pode me proteger, Ethan. — Confesso baixinho quando para ao meu lado. — Mas só eu posso fazer isso. Esperar que a polícia reaja não é uma opção, porque nem devem se importar com a minha segurança. Por toda a minha vida eu fui o único que se preocupou de verdade comigo. Agir é o meu instinto de sobrevivência.

— Isso não é verdade. Sempre me importei com você. É meu melhor amigo, Lyno. Sei que sua família é dura e quase não te deram amor, mas eu fiz isso desde que nos conhecemos. Daria a minha vida por você. — Sinto a bile subir pela minha garganta porque estou prestes a agir ainda mais baixo do que costumo. Magoar Ethan nunca é minha verdadeira intenção, mas agora, com tudo que vem acontecido, com o cerco fechando, não há outra alternativa.

— Eu sei disso. — Concordo baixinho. — É realmente a única pessoa que sempre se importou comigo e agradeço imensamente por tê-lo na minha vida. — Busco seus olhos ligeiro e encontro-os me encarando profundamente. — Mas a única forma de me ajudar mesmo é se...