O Renitente - O Preço da Mentira

Capítulo 20

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2º ano do ensino médio

Entro furtivamente na livraria da cidade por volta das onze na manhã de sábado. O lugar está relativamente vazio e encontro Ethan entre as estantes mais ao fundo, organizando alguns livros. Está demasiadamente concentrado e não nota minha presença até que eu esteja próximo o suficiente para assustá-lo. Porém, sou eu que fico mais estagnado quando analiso seu rosto: há hematomas na boca e olho direito. A região do seu pescoço também está roxa, como se alguém tivesse o enforcado. Um arrepio trucidante envolve meus pensamentos e minha boca seca só de imaginar o que aconteceu com ele na noite anterior.

— O pastor Joe fez isso com você? — Minha voz soa perdida, mas estou concentrado em todos os seus movimentos. Ethan me ignora nos primeiros segundos, mas não demora a perceber que não irei embora.

— Por favor, não é nada demais. Não precisa se preocupar. — Sua tentativa de me deixar fora do assunto é falha. Algo está muito errado em toda essa história.

— O que está acontecendo com você naquela casa? Por que seu pai faria isso com seu rosto? — Insisto. Ethan está retraído, disposto a fugir de mim a qualquer segundo, mas estou impedindo sua saída. — Quero ajudá-lo.

— Não pode. Nem você e nem ninguém. Isso é problema meu. Por favor, fique fora disso. — Sem pedir licença ou dar aviso prévio, empurra meu corpo para o lado e inicia o caminho que o levará para fora do corredor.

— Seu pai está o agredido por que você é gay? — Não tenho ideia de quão alta minha pergunta é, mas Ethan para imediatamente antes de sair do corredor. A expressão assustada que me lança é toda certeza que preciso para confirmar minha afirmação. — Definitivamente, ele perdeu a cabeça. Você deveria ter vindo a mim. Sempre irei protegê-lo, Ethan. Sabe disso.

— Para me proteger você teria que retirá-lo definitivamente de circulação, como sempre faz com as pessoas que o desagradam. E, honestamente, apesar de tudo, ele ainda é meu pai e não quero que seja preso. — Meu primeiro instinto é revirar os olhos à sua afirmação, mas me contenho. O assunto é mais sério do que pensei. — Lyno, por favor, só fica longe de tudo isso. A situação vai melhorar logo, logo.

— Há quanto tempo tudo isso vem acontecendo? — Desvio da sua súplica. Não vou atender seu pedido e sabe disso mais do que ninguém. — Seu pai é um monstro, Ethan. Não existe razão alguma para protegê-lo quando, obviamente, tudo que ele mais deseja é acabar com a sua vida. — Me aproximo lentamente e toco os locais machucados do seu rosto. Automaticamente, ele fecha os olhos e suspira com pesar.

— Cerca de um ano. Ele me viu assistindo pornô gay e tudo desmoronou desde então. Frequentemente as agressões acontecem. Antes, em locais escondidos, mas ele não se importa mais em disfarçar seu ódio por mim. — Meu sangue ferve como um vulcão. — Lyno, por favor, só deixa que eu cuido disso. Depois de ontem, ele se arrependeu e prometeu que nunca mais fará nada comigo. Sinceramente, preciso acreditar que seja verdade. Toda família tem seus segredos e problemas.

— Nada justifica o que ele está fazendo com você. — Observo precisamente e Ethan fica ainda mais cabisbaixo. — Não precisa ter vergonha de quem é. Seu pai, especialmente ele, deveria entender que não há nada de errado com você. Isso é tão injusto. — Trago o máximo de ar que consigo para os pulmões e o libero gradativamente. — Vou deixá-lo trabalhar, mas voltaremos a falar sobre isso à noite.

Após deixar a livraria, estaciono em frente à igreja quando os moradores começam a sair do culto matinal. Aguardo impacientemente até que o movimento reduz a zero. Estou pronto para confrontar o maldito pastor Joe e disposto a adiantar seu encontro com o Deus que acredita. Mas em vez de fazer isso, decido segui-lo assim que entra no seu carro. Ensaio infinitas vezes o discurso que farei quando ele parar em frente à sua casa. Já consigo ver o seu rosto assustado no instante que eu gritar a plenos pulmões que ele agride o próprio filho.