Capítulo 10

20 2 0
                                    

Cinco meses atrás

Continuo paralisado à revelação do assassinato que meu pai cometeu dezessete anos atrás. Não sou o melhor exemplo de civilidade, especialmente por já ter ameaçado matar quase todas as pessoas em algum ponto da minha vida, mas sempre foram exatamente isso: ameaças. Consumá-las nunca sequer passou como uma verdadeira realização porque consigo utilizar outras ferramentas para deixá-las paranoicas, com medo e sem reação alguma que possa me causar problemas. É assim que eu funciono.

— Por que você parece tão... — Jonathan retoma a fala depois de muito tempo. Não sei ao certo quantos minutos se passaram, já que minha capacidade de ver o movimento à minha volta reduziu a quase zero. — Você é inacreditável, Lyno! — Ele grita e começa a andar de um lado para o outro da sala. — Eu odeio você com todas as minhas forças, garoto. Me fez acreditar que já sabia de tudo quando não tinha informação alguma sobre o meu envolvimento nesse caso.

— É com isso que está preocupado? Eu ter o enganado? — Finalmente consigo restaurar minha sanidade. Sinto meu corpo voltar ao normal e minha cabeça processa tudo novamente, mas ainda de maneira gradativa. — Minha mãe também está envolvida nisso tudo?

— Se estamos sendo honestos, ela foi a responsável por encorajar o crime. Mais do que qualquer pessoa, ela queria a vida que temos hoje. O preço foi extremamente alto e Elisabeth está longe de quitar essa dívida. Você é a lembrança constante que aterroriza as memórias dela, pois fizemos tudo exatamente quando soubemos que ela o esperava. Por sua causa, ela estava determinada que eu fosse até o fim. As circunstâncias que anunciaram a gravidez dela foram presságios sobre a pessoa repugnante que você se tornaria. Sabendo o que sei agora, terei a convencido a realizar um aborto.

— Nunca tive pretensão em vê-los como meus pais, então se poupe de tentar me atingir pela sua falta de amor. Também não amo vocês. A equação parece bem equilibrada para mim. — Garanto e caminho lentamente até sua mesa outra vez. — Acha que eu tenho alguma memória de quando estiveram ao meu lado, me ajudando de alguma forma? Absolutamente nenhuma, porque se isentaram de qualquer responsabilidade de saber sobre como eu estava crescendo. Em mim não existe qualquer vestígio de sentimento bom relacionado a você e à Elisabeth.

Neste momento desejo com todas as minhas forças ter uma bomba prestes a explodir. Os comportamentos dos meus pais sempre foram duvidosos, assim com os meus, mas ele simplesmente ultrapassou limites que sequer cogitei mencionar para mim mesmo como possíveis. Ele foi além e, honestamente, nem é isso que me apavora. No fim das contas, reconheço algo como indubitável: somos exatamente iguais em muitas ações e pensamentos. Talvez, pressionado da maneira certa, eu seja capaz de fazer o que ele fez no passado. O pensamento reverbera como um cântico disposto a me levar à loucura de vez, mas não vou ceder. Sou mais resistente do que impulsos hereditários infundados.

— Bom... — Ele retoma a fala e senta novamente. — Nunca quis ser um bom pai para você. Suas manias sádicas começaram logo na infância e percebi que você estava condenado a ser quem é.

— E em vez de me reorientar, simplesmente ignorou seu filho. — Pontuo. — Não que eu esteja fazendo uma reclamação, porque realmente isso não importa mais para mim. — Reforço veementemente, já que estamos sendo sinceros. — Só precisa saber que minhas ações passadas e futuras são de responsabilidade sua e da mamãe.

— O que você quer, Lyno? Não tenho tempo para reviver o passado e muito menos pensar em como teria sido o seu futuro se tivéssemos agido diferente. Tenho completa certeza que sua propensão ao mal falaria mais do que qualquer bom ensinamento que estivéssemos nos esforçado a te repassar. — Ele é categórico e, provavelmente, está coberto de razão.

O Renitente - O Preço da MentiraOnde histórias criam vida. Descubra agora