Capítulo 25 - Penúltimo

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No dia seguinte, chego à casa do Benjamin no horário combinado. Utilizo a porta lateral para entrar, assim como faço todas as vezes. Percorro os corredores que levam da cozinha à sala de estar. Os grunhidos que escuto a distância começam a soar como palavras coerentes aos meus ouvidos. Benjamin fala mais alto e só associo a segunda voz ao seu dono quando vejo o xerife Shelton. Ele caminha pela sala, apontando para o assoalho próximo à escada.

— O que ele está fazendo aqui, Ben? — Pergunto bruscamente, fazendo-os virar simultaneamente na minha direção. O semblante do Benjamin é sereno e o xerife me lança seu olhar de irritação. Devo admitir, ele e eu não somos os melhores amigos e Benjamin sabe disso.

— Fique tranquilo, Lyno, ele vai nos ajudar com a minha falsa morte. — Sua mansidão ao explicar só eleva minha ansiedade. Não podemos confiar no xerife Shelton porque ele é muito próximo das nossas famílias.

— Perdeu a cabeça completamente, Ben? — É tudo que consigo perguntar após repetir suas palavras insanamente na minha cabeça. Meu cérebro parece quebrar em milhões de pedaços e tento reconstruir sua estrutura enquanto ele caminha até mim. — O xerife Shelton é o oposto de alguém confiável. Quem garante que não esteja armando contra nós?

— Eu garanto, Lyno. Confie em mim. — O tom do Benjamin é cauteloso. — Ouça, o xerife tem todos os motivos para nos ajudar. — Como se esperasse a oportunidade perfeita, Shelton se aproxima de nós. Fuzilo-o com o olhar, mas deixo Benjamin continuar sua explicação. — Após nosso plano, ele terá muito dinheiro para viver o restante da sua vida sem preocupações. Daremos a ele dezessete milhões de reais.

— Certamente você enlouqueceu, Ben? — Esbravejo. — Juntando nossas heranças, esse é o exato valor que temos para fugir. Não daremos nosso dinheiro a ele.

— Não se preocupe com nossa herança. Tenho um plano melhor. — Troco o olhar entre o rosto deles, imaginando em que momento Benjamin realmente enxergou no Shelton um caminho para nos tirar daqui. — O xerife me informou que meus pais realizam mensalmente um pagamento aos seus pais. Vasculhe o escritório do Jonathan e veja se descobre o porquê. Além disso, tenho certeza que fazer uma visita inesperada na empresa dos meus pais vai ajudá-lo muito a resolver esse mistério. Não espere uma boa recepção da minha mãe, porque você sabe como ela o odeia.

— Já estou acostumado com o temperamento dela. — Relembro-o e baixo a guarda. — Você realmente acha que descobrir isso vai arrancar mais dinheiro dos nossos pais?

— Sim. Creio que esse seja o segredo que sustenta toda a vida deles. Não está curioso?

— Sem dúvidas, mas não significa que confie em você, xerife. — Me direciono a ele pela primeira vez desde que entrei na sala. — Tenho certeza que já recebe um bom pagamento pelo seu silêncio. Por que estaria disposto a traí-los?

— Eles não são meus amigos. Desde o falecimento do meu pai, assumi o cargo de xerife, mas não me dizem tudo. Não confiam em mim e sei que recebo muito abaixo do que costumavam pagar ao meu pai pelo silêncio. Preciso de mais. Quero uma vida confortável. Não estou traindo ninguém, apenas priorizando as minhas necessidades. Sua confiança não me interessa, na verdade. A grande questão é: consegue encontrar um grande trunfo ou não?

— Provavelmente, sim. Se eles escondem algo, não será um problema descobrir. Resolvo isso nos próximos dias. — Garanto confiantemente. Meu pai cede facilmente às minhas pressões e revela seus segredos inconscientemente.

— Ótimo. O Baile de Inverno acontece em breve. Precisamos estar com tudo pronto até lá. — A voz animada do Benjamin libera a minha tensão. — Todos os anos, na noite do baile, as principais famílias se reúnem no andar de cima. Este ano, pela primeira vez, o xerife Shelton foi convidado. É nossa grande oportunidade.

O Renitente - O Preço da MentiraOnde histórias criam vida. Descubra agora