Nossa História

11

xXx

— O que é isso? — Fitei Marília ao entrar em casa.

Ela estava com um vestido amarelo longo — o mesmo que usou durante a gravidez do Léo para a gravação de “Tentativas”.

Cabelo molhado e um pente na mão, Marília me observava com atenção.

— Ele quebrou o braço. — Meu irmão falou apontando para meu braço direito. — Torceu o tornozelo — apontou para o meu pé esquerdo. — E sofreu alguns arranhões, mas já está bem. Pronto para outra — riu.

— Você tá amando isso… — Suspirei. Meu irmão me colocou no sofá e voltei a olhar para minha esposa.

— Estou mesmo. — ele riu. — Acredito que agora você entendeu de uma vez por todas que não é macaco para estar de galho em galho!

— Engraçadinho. — Revirei os olhos e com o braço livre, joguei uma almofada em sua direção.

Marília continuava me observando, incrédula.

Meu coração estava acelerado. Eu sabia que ela ficaria puta com isso. Mohana apareceu da cozinha e beijou o rosto dela — embora, seu sorriso tivesse sumido quando notou meu estado.

— Amorzinho, a janta tá pronta. Como você não parava de falar no arroz carreteiro, fiz para você. — Mohana anunciou para Marília – que desde que entrei, permanecia imóvel me encarando. — Com a ajuda das meninas fiz aquele bolo de chocolate que cê ama.

Minha cunhada olhou-me e puxou o marido para a escada, ele resmungando. Júnior queria ver a briga —  porque sim, Marília faria uma briga.

Sempre que as coisas não saem do jeito dela, a mulher fica uma fera. Mas também pudera, né? Só faço merda! Mesmo quando ela diz que vai dar errado, por teimosia faço e acaba sendo uma bela dor de cabeça.

Desde que Marília ficou grávida, tudo se tornou mais intenso; amor, carinho, tristeza e óbvio que as brigas. Acho que mulher grávida acaba sentindo tudo em dobro. Até acaba sendo divertido quando ela fica estressada por tão pouco, fazendo birra pelo mínimo.

Como no dia em que estávamos escolhendo os nomes das crianças, seria engraçado se não fosse tão desesperador. Lembro de como ela brigou, gritou, chorou e no fim foi para casa da mãe, dizendo que não queria mais nada comigo — parou até de falar comigo.

No entanto, esse silêncio de agora me mata. Prefiro que ela brigue, que ela grite, que faça qualquer coisa, mas que não fique em silêncio… Ou dizer ao menos aquela famosa frase, mas sempre que Marília puxa o ar e fala, sinto que não vivo.

— Eu te avisei. — Ela disse, simplesmente. Ela colocou o pente em cima da estante e foi para a cozinha.

Sabe a verdadeira definição de: ela me mata na unha?

Exatamente.

É isso o que ela faz quando diz que me avisou.

Passo uma semana ou mais pisando em ovos para não aborrecê-la.

— Qual é Lila, foi um acidente! — Falei tentando provocar a briga, assim a raiva dela passava ali mesmo. — Volta aqui, amor!