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Luana 🧚‍♀️

A voz da Alice me dando desculpas ou falando algo soava como um nada, eu já tinha desistido de tudo no minuto que cheguei aqui e estava deitada no chão sujo, sem nem me importar com o cheiro horrível ou com nada, eu estava perdida.

E parecia que ia ser sempre assim, nada iria ficar bem, nada iria melhorar, sempre caindo. Era impossível fingir que não ligava pra tudo, quando eu só queria mostrar que a menininha insegura que chora por tudo não foi embora daqui.

Ela permanece a cada dia mais chorona, mais machucada, ela só aprendeu que não pode demonstrar.

Vi o dia amanhecer por causa da janelinha enquanto eu permaneci da mesma maneira, deitada no chão como se nada importasse, e nada importava.

Não mais.

A porta se abriu e já havia passado bastante tempo que amanheceu, fechei meus olhos com a claridade e escutei a voz do Coronel, continuei olhando pro teto até ele ocupar meu campo de visão.

Coronel: Levanta.- Falou sério me encarando.

Fechei os olhos virando o rosto e escutei múrmuros vindo lá de fora, continuei na mesma posição e escutei a voz de sono da Alice.

Alice: Ela tá sangrando desde que chegou aqui.- Continuei quieta, eu já havia sentido meus pontos abrindo desde quando o Coronel me arrastou pra fora de casa.

Coronel: Bora, Luana.- Coloquei a mão no meu peito de olhos fechados e senti o sangue fresco.

Ele puxou meu braço pra me cima e eu senti a tontura, eu ia caindo no chão quando ele me segurou e eu abri os olhos vendo tudo girar. Vi o Goiaba parado na porta me encarando e o Coronel tentou me manter em pé.

Ele veio me ajudar e eu fechei os olhos porque era o mais confortável pra mim, quando eles me colocaram dentro de um carro e simplesmente desmaiei.

Quando acordei eu estava na minha casa, coloquei a mão no peito vendo que não sangrava mais e nem doía. Apenas virei de costas pra baixo e voltei a olhar pro teto, porém senti um enjoo e eu virei pra vomitar.

Me engasguei sentindo ar prender e a porta abriu, peguei o copo de água tomando e olhei pra frente, vendo o Coronel novamente. 

Coronel: O que tu pretendia fazer com o caderno? - Tomei a água limpando a boca e me deitei na cama me encolhendo.

Luana: Me mata, Coronel. Você não tava maluco por isso? Faz de uma vez, pra que saber das entrelinhas se matar é mais fácil?! - Respondi gritando, estava cansada.

Coronel: Tava afim pra caralho, mas tem neguin falando pra caralho no meu ouvido! Tô te dando uma chance.- Falou calmo.

Luana: Vocês me prenderam aqui, eu odiava vocês, queria minha família. Simples, na primeira oportunidade eu iria entregar pro meu pai e acabou.- Falei sem olhar pra ele.

Coronel: Por que não fez quando teve oportunidade?

Luana: O Tt, o segurança que fica aqui, sabe?! - Me sentei olhando pra ele.- Me perguntou uma vez se eu não pensava em fugir, falou que me ajudava. E olha que engraçado, eu tô exatamente aqui, vivendo uma merda, mas com toda certeza eu iria entregar a porra do caderno pro filho da puta que me bateu, me olhou com nojo e me expulsou.

Coronel: Se tu gosta tanto assim dos moleques como diz, principalmente do Gaspar, por que não queimou?

Luana: Vocês sabem ler? Se quer leram que a única coisa que eu fiz foi escrever o óbvio? - Me deitei novamente.- Não quero falar com você, não quero falar com ninguém, vai embora Pedro.

Coronel: Como tu sabe meu nome, Luana? - Falou sério.

Luana: Orelha deixou escapar, ele nem percebeu que eu tava ouvindo ele conversar com a Carina. Aliás, pode me dar o caderno pra eu anotar o que eu ouvi há semanas atrás? Preciso muito te explanar.- Falei irônica vendo ele sair do quarto.

Me cobri dos pés a cabeça escutando a porta bater e alguns minutos depois escutei a gargalhada do Goiaba lá fora, tirei o lençol do rosto sorrindo fraca e voltei a me encolher, minutos depois uma mulher entrou limpando o vômito e eu continuei quietinha.

Lance criminosoOnde histórias criam vida. Descubra agora