Soft

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Me deito na cama, olho para Kellin, ele parece concentrado em seu caderno, estudando. Ele passa sua mão pelo seu cabelo, tentando colocá-lo atrás da orelha sem sucesso. Passo minha mão pelo seu cabelo, notando como ele cai em seu rosto, ele me olha com um sorriso em seu rosto.

-Seu cabelo cresceu um pouco- digo, ainda passando minha mão por ele.
-Eu estava pensando em deixar ele crescer- ele diz deixando o lápis de sua mão no meio do caderno.
-Eu acho que essa é uma ótima ideia- digo dando um sorriso.
-Meu pai nunca gostou que eu deixasse ele crescer, mas agora eu posso fazer isso.

Eu pego a sua mão, a beijando, ele sorri para mim, passando sua mão pelo meu cabelo.   Os fins de semana tem sido devagar junto de Kellin, não que isso me incomode, estar ao lado dele tem sido a única coisa importante acontecendo comigo nesse momento.
A escola tem sido a mesma coisa de sempre, eu ainda me importo demais com tudo que os outros pensam sobre nós dois, por mais que agora parece que nem todos realmente estão a falar sobre nós, não pareço sentir mais o olhar de todos nós.
Saímos da escola, andando por alguns lugares ali perto, paramos no parque perto da escola, ele sempre foi um lugar bonito onde qualquer um poderia se distrair do que estava acontecendo na sua vida.
O caminho de volta para casa parece diferente, dessa vez não tão silencioso como os outros, eu continuo a rir de assuntos aleatórios que Kellin comenta, eles me distraem e eu não me importo com isso, acho que isso seja a melhor coisa que poderia acontecer agora. Seguro a sua mão não me importando com que verá, com que os outros dirão, posso notar o sorriso em seu rosto aumentar quando ele nota isso.
Chegamos em casa, desta vez não tão vazia, meu pai nos olha, parando no corredor, assim que entramos na casa. Ele cruza os braços e me olha com certa preocupação em seus olhos.

-Vic, eu queria falar com você- eu olho para Kellin, ele sobe as escadas, me deixando sozinho com meu pai.
-Por favor me diga que isso não é sobre o Kellin de novo.
-Não é isso, eu só quero dizer que eu entendo que você se importa com ele e por causa disso, eu só quero que se cuide, não quero que se machuque por causa disso- ele diz me abraçando.- e se qualquer coisa acontecer nós estamos aqui.

Me sinto estranho por abraçá-lo, ele nunca foi alguém que fizesse isso.
Entro em meu quarto, olhando para Kellin, ele parece preocupado com o que meu pai tinha a dizer, sinto que ele tem todo dever do mundo de se sentir assim.

-Não era nada- eu digo me sentando na cama, pego a sua mão- você está bem?
-Sim, acho que só um pouco de medo de que eles não me queiram mais aqui.
-Eles querem, okay? Não se preocupe com isso- digo dando um pequeno beijo em sua mão.

Ele se senta ao meu lado, posso notar um sorriso se formar em seu rosto, eu sorrio vendo sua felicidade.

-Eu adoro te ver sorrir- ele diz me beijando.

Eu sorrio entre nossos beijos, nos deitamos na cama, eu passo minha mão pelo seu cabelo, ele põe sua mão em minha nuca. O jeito que ele me olha, me faz sentir borboletas em meu estômago, não posso deixar de sorrir em resposta.
Parece que fazem anos que não me sinto assim, por mais que eu esteja com ele e as coisas estão bem, elas parecem diferentes em minha mente, mas dessa vez eu não quero desistir de nada, eu sinto que ainda tem um pouco de esperança em mim.
A escola passa rápido, as mesmas coisas de sempre acontecem sem que ninguém perceba, afinal tudo isso virou rotina. Os olhares e as mentiras ditas nesses corredores lotados me sufocam, as mentiras que fazem o sangue correr mais rápido. Fofocas que distorcem a verdade, transformando-as em mentiras ainda maiores que o comum, apenas as deixando piores.
Todos os olhares nos corredores parecem sempre parar em mim e no garoto ao meu lado, as mentiras e fofocas tem mudado para alguns a visão sobre nós. Eles me incomodam mais do que deveriam, não sei o motivo quando eu achava que não me importaria mais com isso. Kellin pode notar meu incômodo, ele parece se preocupar com o jeito que eu me comporto, tento fingir que eu estou bem por mais que eu saiba que ele não vai acreditar nisso.
Kellin se despede de mim assim que chegamos na porta de casa, o beijo e o vejo passar pelo quintal, antes de entrar em casa. Me deito em minha cama, deixado minha mochila no pé dela, olho para o teto.

-Vic- meu pai me chama, abrindo a porta- Kellin está aqui?
-Não, ele foi trabalhar- eu digo o olhando.
-Eu queria falar com você- eu me levanto da cama, indo em direção a porta- eu e a sua mãe estávamos conversando que nós achamos que seria bom você conversar com alguém, apenas para checar se está tudo bem.
-Eu não preciso, eu estou bem- eu digo segurando a maçaneta da porta.
-Eu sei, mas realmente, a gente acha que você deveria ao menos pensar sobre isso por um tempo.
-Para que? Para você continuar me dizendo que a gente não tem dinheiro o bastante para nada? Eu não preciso conversar com ninguém, eu estou bem- digo fechando a porta.

Escuto batidas na porta, não a abro, não quero pensar em como eu deveria aceitar ajuda, mas eu não acho que devo, não acho que isso possa realmente me ajudar a esse ponto.
Às vezes eu sinto como se todos apenas vissem meus problemas como dramas e uma forma de tentar chamar atenção. Seguro minhas lágrimas me deitando na cama, olho para o teto, respiro fundo fazendo as lágrimas irem embora.
A noite parece chegar tão cedo e rápido, ideias se tornando maiores em minha mente sem perdoar o que eu sentia sobre tudo a acontecer, afinal minha opinião não importa, ela nunca importou. Kellin volta para casa, se deitando ao meu lado, ele coloca sua cabeça em meu colo, fechando seus olhos, ele parece cansado, passo minha mão pelo seu cabelo, notando um sorriso aparecer em seu rosto.
A madrugada chega, me perder parece mil vezes mais fácil e rápido agora, as possibilidades de acabar no fim de algo apenas aumentam. Eu não consigo dormir, eu não consigo fechar meus olhos por um segundo sem sentir que estou cometendo mais um erro.
Me sento no chão, olhando para fora da janela, admirando as estrelas que iluminam o céu, queria que uma delas me salvasse desse vazio que sinto, que não melhora com apenas um abraço e mentiras bonitas, esse vazio parece sempre aumentar com a noite, quando todas as luzes da casa estão apagadas e uma únicas iluminações que se tem é a dos postes de iluminação do lado de fora e da lua.
Todos os dias que me olho no espelho me sinto apenas culpado, como se eu fosse vomitar todos os sentimentos parados na minha garganta, eu não me sinto certo, esse mundo não parece certo, meus pensamentos estão me matando, talvez eles estejam certos, eu sou culpado de tudo. Minhas desculpas não mudam o jeito que todos pensam sobre mim e sobre tudo que eu já fui, elas não vão impedir a morte que me observa do canto do quarto, afinal ela está certa ao sussurrar coisas para mim, eu não vou durar até o final de tudo isso, eu não aguento, sou fraco demais para qualquer coisa.
O garoto deitado na cama se vira para mim, me olhando nos olhos, como se pudesse ver minha alma, como se ele pudesse entender todos os meus pensamentos.

- Desculpa se eu te acordei.- eu digo o olhando.
- Tudo bem, por que continua acordado?- ele se levanta, se sentando ao meu lado.
- Não to conseguindo dormir.- ele me abraça, apenas queria ficar bem por um segundo, sem que eu começasse a chorar, mas eu nunca fui capaz disso.
- Querido, o que aconteceu?- Ele diz segurando minhas mãos e me olhando nos olhos.
- Apenas me desculpa.
- Pelo o que?
- Só me desculpa- ele parecia apenas mais confuso do que nunca- desculpa, desculpa- o abraço desejando que aquilo passasse, que aquele sentimento de culpa acabasse.
- Vic, para, você não tem que se desculpar por nada.
- Eu sinto que devo. Desculpa.

Ele me abraça, coloco meu rosto em seu ombro, queria que isso não significasse nada, mas a esse ponto eu não sei mais o que fazer.

- Me desculpa se eu significo algo para você, mas eu parei de significar algo para mim mesmo- minha voz parece mais com um sussurro.
-Vic, o que você quer dizer com isso? Você está bem?- ele me olha, posso ver a preocupação em seu olhar, no modo em como as palavras saem da sua boca.
-Não é nada, eu estou bem- digo balançando minha cabeça- não é nada, desculpa.

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