Another Day

42 3 3
                                    

Arrumar as coisas para ir para lugares diferentes é tão estranho, olhar para essa mochila cheia é assustador, me dá ansiedade apenas pensar em ir embora, em ir para um lugar novo, eu sei que vai ser algo bom, mas estou com medo de que eu não possa fazer isso, que eu não possa viver em um lugar diferente. Eu estou em pânico, talvez eu devesse ficar aqui e nunca ir, desse jeito eu vou tirar um peso de Kellin, assim ele não tem tanto para se preocupar, ele vai poder viver melhor, sem preocupações, sem alguém apenas o interrompendo de viver.
Tiro as coisas da mochila, as jogando em cima da cama, pensando nos motivos para ir, mesmo que não sejam muitos, eles continuam maiores que os motivos para ficar.

-Já é a terceira vez que você desfaz essa mochila- Mike me diz parado na porta do quarto, acabo levando um pequeno susto.
-Eu ainda estou em dúvida se eu realmente deveria ir
-Vou quer ir, não?Tipo, isso não é só o que o Kellin quer?
-Sim, eu quero ir, mas, eu tenho medo de ser apenas um peso para ele.
-Você não é um peso, Kellin gosta de você, ele tem estado do seu lado mesmo com tudo que aconteceu.- ele para na minha frente, colocando suas mãos em meus ombros- Você deveria ir, não se preocupe com o depois.

Eu balanço minha cabeça, concordando, talvez eu devesse parar de pensar tanto no resultado das coisas, talvez eu devesse apenas agir, eu deveria parar de temer tanto o amanhã e apenas tentar conquistar as coisas boas, talvez eu devesse apenas tentar.
Arrumo minha mochila pela última vez, a colocando em minhas costas, Mike me olha com um sorriso em seu rosto, ele sai do quarto me olhando, saio atrás dele, dando uma olhada para dentro do meu quarto, sentirei falta do jeito dele, dos posters colados a muito tempo atrás, olho para minha estante, agora faltando alguns dos cds dela, os mesmos que me acompanharam pelo caminho, respiro fundo, fechando a porta.
Desço as escadas, em direção do carro de Mike parado na frente de casa, Kellin coloca minha mochila no porta malas, sorrindo para mim. Mike para ao seu lado o ajudando a arrumar as coisas, me viro para a casa, sei que essa não vai ser a última vez que a verei, que irei estar dentro dela mais uma vez, mas ainda é estranho pensar que estou a deixando, que não a verei por algum tempo. Meus pais acenam para mim, parados na porta de casa, ando na direção deles.

-Você não precisa ir se não quiser- minha mãe diz, assim que paro na frente dela.
-Mas eu quero mãe- digo pegando suas mãos- Eu prometo que ligo para vocês quando a gente chegar- digo olhando para minha mãe, ela me abraça.

Meu pai dá um sorriso, eu o retribuo, olho para minha mãe novamente, posso notar as lágrimas em seus olhos, eles não parecem querer que eu vá, por mais que eles recusem que eu fique por conta deles. Paro na frente do carro, Mike me entrega as chaves do mesmo, ele parece mais triste em ver o carro ir embora do que eu, ele me abraça com um sorriso em seu rosto, por mais que eu possa notar a preocupação em seu olhar.

-Me mande uma mensagem ou me ligue quando você chegar e se acontecer qualquer coisa, me ligue.
-Eu vou.- digo o olhando- Tem certeza que você vai ficar bem?
-Sim, qualquer coisa eu tenho o Tony- lhe dou um pequeno sorriso, me virando para o carro, abrindo a porta- E mais uma coisa, toma cuidado do carro, por favor.

Dou uma pequena risada balançando minha cabeça, entro no carro, olhando para Kellin no banco do motorista, lhe entrego a chave. Ele liga o carro, me dando um pequeno sorriso, olho para a casa, vendo meus pais acenando para nós, possa notar minha ansiedade, Kellin parece compartilhar da mesma, por mais que nada seja dito sobre.Tento me concentrar na estrada, acabo fechando meus olhos, acordando um tempo depois, escutando o rádio tocar.

-" She's an angel, my only angel"- a voz doce de Kellin começa a preencher o lugar- Preciso parar no posto, acho melhor comprar algumas coisas- ele diz abaixando o volume do rádio .

Assim que paramos, eu saio para abastecer, enquanto ele vai comprar o que ele quer comprar.

- Descanse um pouco, eu dirijo daqui pra frente- digo assim que Kellin volta da loja.
- Mas você está cansado, tente dormir mais um pouco- ele diz abrindo a porta do motorista.
- Eu estou bem e você está dirigindo desde cedo, me deixa dirigir um pouco.
- Okay- ele hesita um pouco antes de responder.

Entramos no carro, a estrada está vazia e calma, por mais que eu não tenha dormido direito, o sono parece bem distante agora, assim como para o garoto ao meu lado, que parecia ansioso demais para dormir, ou apenas para estar longe de casa.

- Eu acho melhor a gente parar, e talvez ter uma boa noite de sono.
- Onde a gente tá?- ele pergunta, se mexendo no banco ao meu lado.
- Santa Monica.

Após algum tempo procurando algum lugar para ficar, paro no estacionamento de um restaurante, passo para o banco de trás, me deitando, cubro-me com um cobertor jogado no canto do banco. Kellin continua a se mexer em seu lugar, como se tentasse achar em qual pedaço do banco ele conseguiria pegar no sono. Fecho meus olhos, o sono parece nunca vir, isso parecia apenas uma ideia inútil, ter parado apenas para descansar.
Escuto a porta do carro sendo aberta e se fechando, abro os olhos vendo Kellin do lado de fora, ele tinha um pacote de cigarros baratos em seu bolso, fumando-os encostado na porta, eu continuo a tentar dormir no banco de trás carro, mas nada naquilo parecia confortável, parecia que faziam dias que eu estava rolando no banco tentando parar de pensar e me preocupar com tudo, como sempre, dormir parece inútil a esse ponto, abro a porta deixando o cobertor no banco.

- Não consegue dormir?- digo pegando o cigarro de sua mão e dando um trago.
- Não e nem você, pelo jeito.- ele me olha, como se soubesse que tudo parecesse errado- Não sei, isso parece loucura.
- Ainda não acredita que estamos a quilômetros de casa?
- É que- ele diz dando uma pequena pausa- faz um tempo desde que eu me mudei para a sua casa, desde que as coisas meio que se tornaram oficiais e aqui estamos nós, no meio de um lugar qualquer, isso parece um sonho.
- Kellin, se você quiser voltar, a gente pode, em menos de um dia já estaremos de volta, você sabe que podemos fazer isso.
- Mas esse é o ponto, fugir, por mais que a gente não esteja fazendo isso- ele diz dando uma pequena risada- eu não quero voltar, só tenho achado as coisas estranhas, sabe.
- Eu entendo- dou uma pequena risada- tudo passou meio rápido, não?
- Bem rápido.- ele olha para o chão, posso notar um sorriso em seu rosto.
- Quer saber, vamos nos divertir.
- O que?- ele me olha, um pouco confuso.
- Vem- digo pegando a mão dele, ele dá uma pequena risada.

Dou uma pequena corrida ainda segurando a sua mão, paro quando chego onde queria, com ele ao meu lado, olho ao meu redor, a paisagem mais bonita do que eu poderia imaginar.

-Uma praia?- ele me olha nem um pouco surpreso
-Já que a gente tá perto do mar, eu acho que a gente deveria aproveitar- eu digo puxando-o- vem, vamos caminhar.

O som do mar, tão calmo, que eu poderia me afogar nele. Eu tiro meus sapatos, quero sentir a areia entre meus dedos e ter certeza que este momento é real, que esse lugar é real e pelo menos uma vez, em alguns anos, que alguma coisa seja real.
Nos sentamos na areia olhando o pôr do sol, tudo parecia tão calmo, coloco minha cabeça no ombro de Kellin e ele coloca seu braço ao meu redor, me mantendo ali. Talvez as coisas possam ser diferentes, mesmo que nesse momento eu não consiga sentir muita coisa, meus pensamentos parecem estar mais calmos, talvez eu só precisava me distrair um pouco, pelo menos um momento onde tudo não pareça estar me atacando, como se tudo estivesse errado.
Kellin se abraça, esfregando suas mãos em seus braços tentando esquentá-los. Eu o entrego minha jaqueta, ele parece surpreso em ver isso, ele me dá um pequeno sorriso, tento ignorar a ansiedade crescendo em mim, quando eu sei que outros ao nosso redor podem ver as marcas deixadas por mim mesmo, mas eu retorno o sorriso.

- Eu acho melhor a gente voltar- Kellin diz levantando e puxando a minha mão- já está tarde, e amanhã vai ser um dia longo, provavelmente.

A volta era silenciosa, parecia mais cansativa, paramos na frente do carro, sei que não vou conseguir dormir, porém abro a porta, me sentando. Tudo parecia estar de volta, aquele peso que me lembrava que eu não posso errar um único segundo.

- Estou sem sono- Kellin diz, levando a mão ao bolso traseiro de sua calça, a procura de um cigarro.
- Deita comigo- digo pegando a sua mão e me deitando no banco de trás do carro.
- É estranho pensar que depois de todo esse tempo a gente nunca conseguiu se deitar, assim, em paz.
- Tudo sempre foi meio bagunçado, mas talvez as coisas melhorem agora- sinto que essa seja primeira vez em anos em que eu realmente acredito em algo que eu tenha dito.

Às vezes eu acho que eu estou tentando me convencer eu mesmo que as coisas vão melhorar, mas eventualmente elas vão. Às vezes o tempo pode curar algumas cicatrizes, por mais difícil que pareça ser e talvez esse seja o momento para as minhas.

DisasterologyOnde histórias criam vida. Descubra agora