Fantastic bastards

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-Oi- Kellin diz assim que abro a porta.
- Oi- respondo, notando o hematoma em sua bochecha.
- Eu aceito a sua oferta- ele diz passando a mão pela nuca.
- Achei que nunca fosse dizer sim- digo fechando a porta, assim que ele passa por ela.
- Eu só- ele diz fazendo uma pausa, apertando a alça da mochila em suas costas- não quero incomodar.
- Você nunca vai me incomodar.- digo o levando em direção ao meu quarto.

Ele coloca sua mochila no chão, perto da cama. Me sento na cama, o olhando, ele encara o chão, com as mãos nos bolso da calça.

- O que aconteceu?
- Eu cansei, eu precisava sair de lá, talvez eu não possa ficar por muito tempo aqui.- ele diz se sentando, ao meu lado, na cama.
- Ei, pode ficar o quanto tempo for preciso, sei que se continuar em casa as coisas podem piorar.- digo passando a mão pela sua bochecha, com um pequeno sorriso triste.

Ele põe sua cabeça em meu ombro, o abraço, passando minha mão pelo seu cabelo, ele põe suas mãos ao redor da minha cintura.

- Fome?- pergunto para ele.
-Não muito, mas eu acho que posso comer alguma coisa- ele responde me olhando.
-Então, vamos comer- digo colocando meu braço em seus ombros.

O levo em direção a cozinha, procuro alguma coisa para comer na geladeira, pegando qualquer coisa, esquento os pratos no microondas e entrego um para Kellin. Nos sentamos na mesa, enquanto comemos não consigo deixar de lado o fato de que Kellin ainda parece abalado com tudo que está acontecendo, não o culpo por estar assim.

- O que te convenceu?- digo mexendo minha comida de um lado para o outro no prato.
-Eu não me sentia em casa mais, eu nem sei se eu pude algum dia chamar aquilo de casa, não quando eu era apenas um saco de pancadas- ele diz largando o garfo, dentro do prato com a comida ainda intacta.- Quase todos os dias eram a mesma coisa, sempre que ele começa a beber, ele começa a falar sobre minha mãe e como eu o lembro dela- ele para por um momento entre lágrimas- E então isso- ele aponta para o roxo em seu rosto.

O abraço, ouvindo seus soluços contra meu peito, ele me abraça, segurando minha blusa.

-O mais estranho sempre foi ouvir isso e perceber que eu não me lembro de como ela era, não saber o que aconteceu entre eles, e mesmo assim ter que lidar com as consequências.- sua voz soa trêmula por conta dos soluços- Todos os dias, eu só queria que isso acabasse de uma vez por todas, queria apenas sair correndo ou desistir, eu não sei qual é a mais fácil, a esse ponto.- ele diz entre soluços, me abraçando mais forte.
-Kellin, eu sei que não vai parecer muito agora mas, você conseguiu fugir e eu vou te proteger de qualquer mal que possa acontecer.

Passamos um tempo assim, minutos, talvez horas, não quero sair dali, apenas quero que Kellin consiga se sentir melhor, por mais que eu saiba que isso tudo vai levar tempo, mais tempo do que se possa esperar. Quando Kellin se senti um pouco melhor, nos levantamos dali, voltando para o quarto.

Ele se senta em minha cama, eu me sento ao seu lado, segurando suas mãos, passo meu dedão pelos nós delas.

-Posso te perguntar uma coisa?
-Sim.
-Você disse que não se lembra da sua mãe, o que aconteceu?
-Eu não tenho certeza, eu era muito novo quando ela foi embora e as coisas que meu pai dizia sobre ela nunca fizeram muito sentido.- ele diz me olhando- Mas desde que ela se foi,  eu tive que lidar com meu pai, sabe, às vezes eu queria poder saber como ele era antes disso, tentar entender o motivo dele ser do jeito que ele é, mas eu sei que nunca vou poder fazer isso e não sei se realmente quero saber.

Eu o abraço, esperando poder ajudar de alguma forma, eu não sei o que dizer, eu não sei se eu tenho algo para dizer que possa ajudar de alguma forma, sinto que nunca fui bom com palavras que pudessem ajudar.
Ele se deita em minha cama, me deito junto dele, passo minhas mãos pela sua cintura o puxando para mais perto, ele encosta sua cabeça em meu peito.
Olho para o relógio, percebendo que as horas passaram mais rápido do que eu notei, me pergunto se meus pais devem estar em casa, o silêncio em meu quarto faz com que eu possa ouvir o som da televisão no andar de baixo, me levanto da cama, ainda ouvindo o som vindo de lá.

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