Kellin não vem para a escola já faz alguns dias, a preocupação está começando a tomar conta de mim.
Não consigo me concentrar na aula de história, o professor parece estar falando alguma língua, da qual eu desconheço. Olho para a mesa vazia ao meu lado, me pergunto se é minha culpa o fato dele não vir à escola.
O sinal toca, me levanto, guardando minhas coisas em minha mochila.-Fuentes- o professor me chama.
-Sim- eu digo andando até a sua mesa.
-Você sabe algo sobre o Quinn?
-Não, mas eu acho que ele não deve estar se sentindo bem.
-Se você encontrar ele, você pode entregar essas tarefas para ele?- o professor me entrega uma pasta.
-Sim, eu entrego- digo, pegando a.Saio da sala, parando em meu armário, guardando as coisas que eu estava carregando e pegando outra apostila.
O sinal toca, mais uma aula se vai, mais alunos apressados nos corredores e professores estressados gritando com alunos fazendo bagunça nos corredores.
Me levanto sem pressa, todos vão em direção à cantina, mas eu vou em direção à saída, como sempre me escondendo de todos. Sento-me na grama, admirando o céu azul, a brisa lenta me distrai, assim como a música tocando em meus fones. Pego meu telefone, pensando em mandar uma mensagem para Kellin, olho para a tela dele acreditando que ele não vai me responder, acabo o guardando em meu bolso novamente.
Mais um sinal toca me fazendo entrar na escola novamente, ando pelos corredores, porém sou interrompido por um grupo de garotos, as últimas pessoas que gostaria de ver. Oliver se aproxima, eu paro sentindo minha garganta se trancar e minha respiração se tornar mais pesada.- Vic- escuto alguém me chamar, posso reconhecer sua voz.
-Nick- digo com um sussurro, me viro olhando para ele.
-Eu estava te procurando- ele diz parando ao meu lado.
-Desculpa, eu estava do lado de fora- digo, olhando para OliverNick olha para ele também, ele parece perceber o meu pânico. Oliver passa do meu lado, me dando um empurrão com o ombro, Nick o olha ir embora.
-Você tem falado com o Kellin? Ele não tem respondido às minhas mensagens, e nem as dos meninos.- ele diz se virando para mim.
-Não, nenhuma mensagem.
-Você deveria ir falar com ele- ele diz começando a andar.
-Eu não acho que ele vai querer falar comigo, já que ele não tem mandado nenhuma mensagem.
-Eu acho mais provável ele falar com você do que com qualquer de nós- ele dá uma pequena pausa- além do mais, se ele não falar com você, pelo menos você tentou.O fim das aulas chega e o sentimento de preocupação parece crescer mais ainda, penso no conselho de Nick, talvez ele esteja certo. Mando uma mensagem para Kellin, porém ele não me responde.
Aperto a campainha, da casa de porta verde escura, o garoto com cabelos negros e olhos azuis a abre, ele sai da casa, fechando a porta atrás de si mesmo. Ele me olha em silêncio, posso notar um roxo em cima de seu olho, se destacando dos outros hematomas em tons de amarelo, ele se vira olhando para o chão.- Você não vai para a escola a alguns dias, eu estava preocupado.
- Eu não estava me sentindo muito bem- ele diz tentando esconder seu rosto abaixando sua cabeça ainda mais- achei que seria melhor se eu ficasse em casa.
-Eu trouxe alguma das tarefas que você perdeu- eu digo tirando a mochila das minhas costas- eu também trouxe algumas das minhas anotações se você quiser copiar.
-Você pode me ajudar?- ele diz me olhando.
-Sim- eu o entrego a pasta que o professor havia me dado.Ele se senta nos degraus da escada na frente da casa. Um pequeno silêncio acaba se formando, eu não sei o que dizer, queria poder dizer que as coisas vão melhorar, mas eu sei que estaria mentindo.
-Obrigado por me ajudar- ele diz parando de escrever.
-Você sabe que eu estou aqui se você quiser- digo lhe dando um pequeno sorriso.Ele sorri para mim, se voltando para seu caderno novamente, deixando um pequeno silêncio se formar, eu o olho podendo sentir as mesmas borboletas em meu estômago de algum tempo atrás, me fazendo sorrir apenas olhando para ele. O sol começa a se pôr, eu pego minhas coisas e as guardo na mochila.
-Eu acho melhor eu ir indo, já está ficando tarde- eu digo o olhando, ele me entrega meu caderno- Você pode ficar com ele- eu o devolvo meu caderno.
-Obrigado, eu te devolvo depois que eu terminar.
-Você vai para a escola amanhã?- pergunto, passando minha mão pela a minha nuca.
-Sim- ele diz com certa ansiedade em sua voz- eu acho que vou estar me sentindo melhor amanhã.
-Então até amanhã- digo me levantando.Ele se levanta também, me olhando como se quisesse me dizer algo, porém ele se vira em direção a porta. Coloco minha mochila em minhas costas descendo os degraus da escada.
-Vic- ele me chama.
O olho novamente, ele desce as escadas, colocando suas mãos em minhas bochechas, parando por um momento, seu olhar me faz sentir borboletas em meu estômago. Ele se aproxima, selando nossos lábios com um beijo, o qual eu retribuo.
-Te vejo amanhã- ele me diz assim nos separamos.
Deixo a sua casa sem saber o que fazer, não consigo reagir ao que aconteceu.
Me deito em minha cama, encarando o teto, aquilo ainda não parecia realidade, eu o beijei, e eu queria. Toco meus lábios, o pensamento faz meu estômago se encher de borboletas, eu sorrio, o que me faz rir um pouco.
Quanto mais eu penso sobre o beijo, mais ele me faz pensar. E agora, o que isso faz de nós? O que isso faz de mim? Quem eu sou?
A cena da noite passada não sai da minha cabeça, leio as mensagens de Kellin, mas não sei o que dizer, não sei como será o ver na escola hoje, quando eu não sei mais como me sinto. O sentimento de felicidade parece ter ido embora e agora tudo que eu tenho é confusão. Eu sei que meus sentimentos por ele não tem sido apenas amizade por algum tempo, eu entendo que as borboletas que eu tinha são a razão do porque eu estou confuso agora.
Beijar ele parecia certo, mais certo do que qualquer outra pessoa, outra garota, por mais que eu não pudesse ver o motivo antes, e talvez eu ainda esteja errado sobre isso.
Talvez nunca tinha percebido meus próprios sentimentos, até agora, achava que o gênero de alguém fosse importante para mim, talvez ele não seja o maior problema ou talvez ele sempre tenha sido e eu sempre ignorei o óbvio.
Continuo perdido em meus pensamentos, o sinal toca avisando que começaria a última aula, saio andando pelos corredores lotados, ando sem pressa, o sinal toca novamente, irei me atrasar para a aula, mas não me importo.
Assim que chego perto da porta da sala de aula sinto algo gelado escorrendo pela minha cabeça, chegando em meus ombros, eu paro olhando para trás, Austin segura um copo, agora vazio, me olhando com o mesmo sorriso de sempre em seu rosto, ele e Alan, se tornam borrões, escuto risadas se espalhando pelo corredor.
Respiro fundo, andando em direção ao banheiro mais perto, paro em frente ao espelho, encarando meu reflexo por algum tempo, meus cabelos encharcados pelo líquido derramado, noto meus olhos avermelhados, fazendo o meu reflexo se tornar um borrão. Abro a torneira tentando tirar o líquido da minha cabeça, as lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto, às seco rapidamente contando até dez e respirando fundo. Escuto a porta se abrir, olho involuntariamente para ela, meus olhos param em Kellin, entrando silenciosamente. Percebo que o roxo em seu rosto está um tom mais claro, como se estivesse coberto por uma camada mal aplicada de maquiagem.- Vic...- sua voz toma conta do local.- você está bem?- ele me pergunta colocando sua mão no meu ombro.
-Sim- eu digo tentando não chorar novamente.
-Sobre ontem- ele tira sua mão do meu ombro- eu queria dizer... me desculpa.
-Eu que deveria me desculpar por ter te ignorado o dia inteiro- digo tentando não parecer nervoso, porém minha voz falha- eu ando meio confuso.
- Não me importo em ser ignorado- ele diz se aproximando um pouco- eu só quero saber se você está bem?
- Sim- digo dando um sorriso falso, tentando parecer convincente, porém ele não parece satisfeito com minha resposta.Ele para ao meu lado, se apoiando na pia em silêncio, ele me olha pelo espelho, tento me distrair de seu olhar, porém não consigo.
Eu me aproximo colocando minha mão em sua cintura e aproximando meu rosto para perto do seu, coloco minha mão em sua bochecha, as batidas de meu coração se atropelam, junto nossos lábios, querendo que esse momento nunca terminasse.
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Disasterology
Teen FictionSomos apenas desastres, pedaços partidos. "Alguém pode salvar outra pessoa, mesmo quando sua vida está desmoronando?" Vic, um garoto o qual sofre bullying e problemas familiares. Kellin, um garoto novo, o qual vive com seu pai, um alcoólatra. Será q...