Long Night

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Não tenho visto meus pais a alguns dias, a casa está mais vazia que o comum, às noites tem sido mais longas que normal, tudo nessa casa tem parecido uma eternidade.
Saio de casa junto de Mike, que novamente decidiu que podia me dar carona até a escola, o que é estranho, já que ele sempre saía mais cedo de casa, e quando me levava, a viagem inteira era silenciosa, agora ele faz perguntas sobre tudo, o que está começando a me incomodar de alguma forma, por mais que eu não ache estranho Mike fazer todos essas perguntas.
Ando apressado em direção a minha sala, assim não escuto mais idiotices sendo ditas por todos, o sinal toca, fazendo alunos correrem pelos corredores, o professor entra na sala brigando com todos que entram depois dele.
A próxima aula chega, vou em direção a sala de aula o mais rápido que posso, passo por corredores cheios de alunos, escuto alguns xingamentos diários, apenas os ignorando.
Me sento ao lado de Kellin, ouvindo algumas risadas, elas se tornaram mais normais do que deveriam ser.

-Oi- falo baixo, para que o professor não chame nossa atenção.
-Oi, você está bem?- ele me pergunta, no mesmo tom.
-Sim- digo lhe dando um pequeno sorriso.

O professor pede para que todos formem duplas com a pessoa ao lado, Kellin empurra sua mesa para o meu lado, um sorriso se forma em meu rosto, assim como no seu. Kellin se vira para frente, prestando atenção na explicação da matéria, eu continuo o olhando, me perdendo em seu rosto, ele parece concentrado. Escuto uma pequena risada vinda dos bancos de trás, ela me distrai, me fazendo olhar para de onde ela veio, posso notar que todos me olham, ele parecem falar sobre algo.

-Por que todo mundo está nos olhando?- eu digo ainda olhando ao meu redor.
-Eu não sei, não deve ser nada- Kellin diz me olhando.

Ele se volta para a explicação do professor, ignorando o olhar dos outros, tento fazer o mesmo, mas não consigo ignorar os sussurros dos outros alunos. Olho para a minha mesa, posso notar Kellin me olhando, ele me dá a sua mão, eu a seguro, tentando ignorar como se isso apenas piorasse a situação, dou um pequeno sorriso, fazendo a preocupação sumir de seu rosto.

-Professor, você sempre diz que não quer casais sentando junto- uma garota de cabelos loiros diz.
-Sim- ele para de escrever na lousa, se virando para ela.
-Então Vic e Kellin não deveriam estar juntos- sinto como se alguém tivesse me dado um tapa na cara.
-Volte para o seu trabalho, ele é mais importante, principalmente para você.

O professor nos olha, minha garganta parece se fechar, ele se vira novamente para a lousa, ignorando o comentário. Olho ao meu redor, notando mais olhares em mim do que nunca, meu coração parece que vai sair pela minha boca, sinto como se todos ao meu redor estivessem me julgando.
O sinal toca, me levanto, colocando a mochila nas costas, saio antes de todos da sala de aula. Entro no banheiro, me trancando dentro de um dos boxes, me encosto na parede, sentindo meu coração bater mais rápido, um nó em minha garganta se forma, escuto batidas na porta, respiro fundo antes de abrir a porta. Kellin me olha, encostando-se na parede do lado de fora do box.

-Como eles sabem?- eu digo com a voz trêmula.
-Eu não sei- ele responde, ele soa tão calmo.
-Como você pode estar tão calmo? Eu sinto como se o olhar de todos estivesse em mim, como se todos eles pudessem saber de tudo só me olhando.
-Eu não me importo com todos eles, não me importo com eles sabendo sobre mim, mas eu entendo porque você se sente assim.- ele diz me abraçando- Eu te prometo que eles não sabem sobre tudo, para eles é apenas um rumor, nada mais.

Saio do banheiro junto de Kellin, posso notar todos nos olhando, como se fossemos a atração principal, respiro fundo, tentando ignorá-los, por mais que eu saiba que não consigo fazer isso.

Entramos no refeitório, notando meu pânico aumentar com todos ao nosso redor. Me sento junto de Kellin, os outros garotos se juntam a nós, posso notar alunos ao nosso redor nos olhando, Kellin me olha, posso notar a sua preocupação, olho para meu colo sem dizer nada. Os garotos conversam sem dizer nada sobre os rumores, sem parecerem notar que alguns alunos passam nos olhando ou murmurando algo, como se eles nunca tivessem ouvido nada sobre o que aconteceu, mas eu sei que é estúpido acreditar nisso.
O último sinal toca fazendo todos correrem para a saída, vejo Mike do lado de fora da escola, ele parece estar feliz longe dos problemas de casa, talvez os cigarros tenham feito-o esquecer de como as coisas têm sido. Ele anda em nossa direção, procurando ao em seus bolsos.

-Ei, quer uma carona?- Mike diz, parando na minha frente.
-Eu ia embora junto com o Kellin- digo apontando para ele ao meu lado.
-Não faz mal, eu te deixo em casa- ele diz olhando para Kellin.- a não ser que você veio de carro.
-Hoje não- Kellin diz balançando a sua cabeça.

Me sento no banco de trás junto de Kellin, sinto um desconforto, me sinto observado, sinto que posso ser julgado pelo menor dos meus movimentos e por algum motivo isso parece pior do que todos os alunos me olhando como se eu estivesse em um zoológico. Kellin parece notar minha ansiedade, ele hesita, porém no fim acaba por segurar minha mão. Sinto o desconforto aumentar, talvez seja medo, aperto a sua mão, a soltando, abraçando a mim mesmo. O noto recolher a sua mão, com um olhar triste em seus olhos, porém como se entendesse o motivo, agora ainda mais.
Mike para na frente da casa de Kellin, ele sai do carro, saio junto dele. Me despeço com um aceno e um pequeno sorriso em meu rosto, penso em abraçá-lo, porém não sei se essa seria uma ideia boa a ser feita. Me viro para entrar no carro novamente, hesitando e indo atrás de Kellin, o dou um abraço, na frente de sua porta.

- Me desculpa- digo ainda o segurando, porém sem abraçá-lo.
-Não se preocupe com isso, não estou bravo ou triste pelo seu medo, não estou em sua pele, não sei todos os seus motivos para estar desse jeito. Não se desculpe por isso.- Ele diz me abraçando de novo.- Só saiba que eu estou aqui e você pode falar comigo.

Me despeço novamente e volto para o carro, desta vez, me sento no banco da frente. A volta para casa foi silenciosa, talvez até demais. Saio do carro junto de Mike, entro em casa, indo em direção às escadas.

-É verdade então, o que todos têm falado sobre você e o Kellin? Vocês realmente estão juntos?- ele me pergunta assim que chego na parte de cima das escadas, o olho, ele ainda está nos primeiros degraus, ele parece tão pequeno desse jeito.
-Por que você está me perguntando coisas que não são relevantes para você?
-Talvez porque eu queira saber mais sobre a sua vida- ele diz subindo alguns degraus.
-Por que? Para me deixar de novo?- digo mexendo a minha mão em sua direção.
-Eu nunca te deixei- ele diz apontando para si mesmo- foi você que se isolou e parou de falar comigo.- Eu respiro fundo, o olhando- Eu só quero meu irmão do meu lado de novo, eu sinto falta do jeito que eu sempre tive você do meu lado. Eu sinto falta de como eu me inspirava em você e agora a gente nem conversa direito.

Não sei o que dizer, abro minha boca esperando que eu consiga falar algo, porém nenhum som sai. Mike me olha, posso ver a decepção em seu rosto, ele se vira descendo as escadas, escuto a porta se fechar com uma batida alta.
Queria apenas poder evitar esta casa vazia, apenas fingir que esse lugar nunca existiu. Me deito em minha cama esperando que essa noite sem fim apenas acabe logo, pois tenho pensado demais em meus erros. O som da campainha me faz voltar à realidade, desço as escadas rapidamente, encontrando Kellin parado na porta. Ele passa por mim, me dando um abraço, eu o olho sem sentir o desconforto de antes, era como se ele nunca tivesse existido.
Ele se deita ao meu lado, encosto minha cabeça em seu peito, posso sentir o cheiro de cigarros em sua roupa, ele passa sua mão pelo meu cabelo, respiro fundo, olhando para o canto do quarto.

-Eles vão se esquecer, mas se você não quiser agir do mesmo jeito de antes eu entendo- Kellin diz ainda passando sua mão pelo meu cabelo.
-Eu não quero que as coisas entre nós mude por causa disso, digo eu não deveria me importar tanto que eles sabem- digo o olhando, e sentando na cama- Eu acho que eu não me importo que as pessoas próximas de nós saibam, mas o resto me faz repensar todos os meus passos, eles não precisavam saber, então por que eles sabem?

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