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Sinto que não consigo parar de causar meu próprio mal, errado demais para ser levado a sério, sinto que todos tem me culpado por qualquer coisa. Me sinto solitário, tudo parece ter se transformado em um buraco sem fim.
As últimas duas semanas têm sido estressantes, talvez até demais. As mesmas coisas de sempre continuam a se repetir, junto do fim do terceiro ano do ensino médio, assim como as provas finais que se aproximam cada vez mais, eu não sei o que vou fazer depois disso, tudo parece estar piorando, se transformando em uma grande bola de neve. A pressão da escola em cima da nossa sala não ajuda em nada, afinal é o último ano da escola.
Eu escuto os outros conversando sobre algo, por mais que a voz deles parece abafada, eu não me sinto como se eu realmente estivesse aqui, como se isso fosse apenas um sonho, quero algo para me mostrar que eu realmente esteja aqui e que isso é realmente real, me lembro do Kellin me disse, penso em fazer isso, segurar a sua mão, mas apenas o pensamento disso faz com que minha mente se volte para o fato dos outros falando sobre isso, em como o olhar deles para sobre nós todas às vezes.

-Ei, você está bem?- Kellin diz pondo sua mão em minha perna, eu o olho balançando minha cabeça, concordando.

Ele continua a me olhar, sem parecer convencido com minha resposta, eu também não estaria, sei que não pareço confiante o bastante para isso, por mais que eu queira, forço um sorriso, puxando as mangas da minha jaqueta para que elas cubram minhas mãos. Me viro para os outros, tentando focar na conversa deles, suas vozes ainda parecem distantes mas não tanto como antes.
As aulas passam rápido, não consigo me concentrar em nenhuma das aulas, por mais que eu tenha tentado, todas as coisas ditas parecem distantes de mais, não reais o bastante.
Ando junto de Kellin na volta para casa, seguro a sua mão, querendo me sentir mais real assim, mas ainda sinto como se meu corpo não fosse realmente meu, como se eu apenas estivesse dentro de um sonho. Eu o olho, ele sorri para mim, por mais que eu possa notar a preocupação em seu rosto, eu dou um pequeno sorriso, querendo que isso mude um pouco como ele se sente.
Entramos em meu quarto, deixando nossas coisas ao lado da cama, ponho meus braços ao redor da cintura de Kellin, ele passa suas mãos pelo meu cabelo, não posso deixar de apenas sentir um buraco se abrir em meu peito, sinto que não deveria ficar aqui e fugir não vai fazer efeito nenhum. Eu o vejo arrumar suas coisas, ainda em pé na frente da cama, ele se vira para mim colocando sua mochila nas costas.

-Você vai ficar bem?- Ele me pergunta.
-Sim- eu digo lhe dando um abraço.

Ele abre a porta se despedindo, me sento na cama, pegando apostila de dentro da minha mochila, tento ler o conteúdo dela, mas minha mente não está aqui, não consigo me concentrar nas palavras que leio, a esse ponto parece inútil tentar.
Me deito na cama, olhando para o teto, um vazio em meu peito continua, sinto lágrimas cairem, não sei porque me sinto assim, eu não quero me sentir assim, apenas queria que isso passasse. Minha mente me diz para eu me livrar desses sentimentos, da forma que minha pele se lembra, tento me livrar desses pensamentos, mas a tentação parece ser maior a esse ponto. Reviro o armário do banheiro à procura da mesma caixa de sempre, a abro, pegando a lâmina, ela parece pesada na minha mão. Sei que ela será a única que me ouvirá, me abrirei com ela, à contarei meus segredos, meus pecados e ela poderá me julgar.
Puxo a manga da minha blusa, descobrindo meu braço, cicatrizes de tamanhos diferenciados, agora o cobre, deixo as lâminas dançam em um espaço vazio, sinto o sangue quente escorrer pela minha pele. O sangue cai na pia, ao seu lado coloco a lâmina, não sei mais se todos esses sentimentos irão embora, se irei me sentir do mesmo jeito para sempre.
A culpa em ver o vermelho das minhas veias na pia é mais doloroso que o alívio, a euforia se foi e tudo deixado foi um sentimento pior que antes, eu sabia que isso ia acontecer, e mesmo assim eu o fiz.
Usar minha jaqueta nunca pareceu tão desconfortante do que agora, Kellin me olha, posso notar a estranheza em seu olhar, não quero falar sobre o que houve, não quero admitir em voz alta que eu não consigo ficar bem quando as coisas pioram por um momento pequeno.
Me deito na cama, minha culpa parece pior ainda agora, lágrimas teimosas descem pelo meu rosto, Kellin põe sua mão em meu ombro, ele me olha preocupado, lágrimas caem sem parar, braços finos em volta de minha cintura são o conforto que eu procurava, o sorriso de preocupação e tristeza em seu rosto procurava alguma felicidade escondida em meus sentimentos perdidos.
Ele passa sua mão pelo meu cabelo, me fazendo parar de chorar, eu não falo nada sobre o motivo, não sei o que dizer, fecho meus olhos, deixando meu cansaço tomar conta de mim.
A luz do lado de fora me acorda, olho para o relógio na cabeceira da cama, ainda faltam algumas horas para ir para a escola, me viro para Kellin, um pequeno sorriso se forma em meu rosto, queria poder me sentir bem o bastante para não me machucar, talvez assim eu não o preocupasse tanto, se eu apenas pudesse ficar bem por um dia, eu o veria mais feliz, com um sorriso em seu rosto, o mesmo que amo ver.
O vejo se virar na cama, ficando de costas para mim, posso meu braço pela sua cintura, tentando não acordá-lo, mas ele o faz, entrelaçando nossos dedos e se virando para mim, vejo um sorriso em seu rosto, ele parece cansado, eu posso notar as olheiras embaixo dos seus olhos, ele me dá um pequeno beijo em minha testa, eu lhe dou um pequeno beijo em sua mão.
Mike decide nos levar para a escola, mas parando na casa de Tony antes, ele se senta na frente junto de Mike, eu e Kellin nos sentamos juntos, eu seguro a sua mão, sentindo pequenas borboletas em meu estômago, juntamente de um nó em minha garganta. Nos despedimos deles, assim que chegamos na escola, desço do carro, deixando Kellin passar, antes de fechar a porta, posso sentir o olhar de alguns dos alunos em nós, mais do que parecem realmente estar.
As aulas passam rapidamente, o sinal do recreio toca, ando em direção do refeitório, procurando a mesa onde os outros estão, eles parecem animados sobre algo, mas eu não consigo focar no que eles dizem, porém tento manter um sorriso em meu rosto, tentando fazer com que ninguém realmente se preocupe comigo.
Os últimos sinais tocam, saio da minha sala, procurando por Kellin pelo segundo andar, o encontro andando em direção à biblioteca.

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