Mike puxa a cadeira da mesa ao meu lado, se sentando virado para mim, ele me olha, respirando fundo.
-A mãe e o pai me contaram sobre o Kellin.- ele diz fazendo uma pequena pausa- Me desculpa por ter dito tudo aquilo para você, eu estava preocupado e algumas coisas aconteceram, acabei descontando em você.
-Você estava certo- eu digo olhando para ele- eu não tenho falado com você, eu deveria ter te dito algo, deveria ser um irmão melhor.
-Você não precisava, você não é o melhor irmão do mundo, mas entendo o motivo- ele diz olhando para o chão- Eu só não queria te forçar a achar que você precisa me dizer algo.
-Agora é meio tarde para isso- eu digo dando uma pequena risada, respiro fundo, segurando minhas próprias mãos- Mas, realmente, eu acho que deveria te contar algo, eu não tenho 100% certeza sobre isso, mas eu acho que eu sou gay.
-Alguém mais sabe?
-Eu acho que não, mas muita gente sabe sobre mim e o Kellin, até a mãe e talvez o pai, mas você é a primeira pessoa para quem eu realmente conto.Ele me abraça, noto um pequeno sorriso a passar pelos meus lábios. Ele se levanta, pegando as chaves do carro de cima do balcão da cozinha.
-Vem, eu levo você e o Kellin para a escola- ele diz se virando para mim.
-Não é muito cedo para ir pra escola?- eu digo olhando para o relógio.
-Eu ia passar para buscar o Tony, então é melhor a gente ir agora.
-Eu vou chamar o Kellin então.- me levando da cadeira, a encostando na mesa.Sinto como se o olhar de todos os outros alunos passando pelos corredores tivessem sobre mim, não suporto o modo que todos eles parecem se dirigir a mim, como se eu fosse alguém com uma doença contagiosa, e todos apenas querem passar o mais longe possível. O sinal toca, me despeço de Kellin e entro na sala de aula, ainda, praticamente vazia, me sentando em uma das carteiras ao lado das janelas, como sempre. A chuva cai lentamente, tudo parece mais lento do que o normal, minutos parecem horas dentro da sala, as palavras da professora parecem nunca ter uma pausa, fazendo conversas paralelas parecerem mais interessantes que a aula. O sinal toca fazendo todos irem para outra sala.
O intervalo chega, ando pelos corredores vazios, eles parecem sem fim, procuro por Kellin, o encontro conversando junto dos outros, me junto deles, deixando a conversa deles me distrair do modo de como se todos os alunos ao nosso redor estivessem me olhando.
O sinal toca mais uma vez, fazendo todos encherem os corredores, ando sem muita pressa, em poucos minutos os corredores se esvaziam novamente. Finalmente chego perto da sala de aula, porém sou puxado por alguém, o cabelo ruivo chama minha atenção.- Fuentes, quanto tempo não é mesmo?- Mullins me diz, eu o ignoro, queria que isso fizesse ele se cansar e ir embora, porém eu sei que isso não vai acontecer.- Eu ouvi uns rumores sobre você e o Quinn e fiquei sabendo que ele tem te protegido- ele diz dando uma pequena risada- bem, onde está seu namorado para ter proteger agora?- tento sair dali, correndo, mas meu braço é agarrado com força pelo ruivo.- Por que tão apressado?
Apenas quero que isso tudo acabe, as palavras que escuto me torturam, elas se repetem em minha mente. Os chutes se misturam com as palavras que eu não consigo mais compreender, a dor de cada chute e cada lágrima que desce pelo meu rosto, fecho meus olhos esperando que tudo isso pare o mais rápido possível. Quando tudo finalmente para, continuo no chão tentando recuperar minhas forças para sair dali. Entro no banheiro mais perto, limpo minhas lágrimas me olhando no espelho, coloco um sorriso falso em meu rosto, tentando fingir que nada aconteceu.
O sinal irritante me arrasta para fora desse lugar, onde o garoto de olhos claros me espera na saída, eu queria falar sobre o que havia acontecido, mas a sua felicidade parecia mais importante que qualquer coisa, vê-lo feliz é única coisa que me deixa alegre.
Chego em casa, vendo Kellin arrumar sua mochila, novamente, colocando seu uniforme, ele olha para o relógio, se virando para mim.-Eu preciso ir- ele diz me beijando- mas eu volto, juro que não vou embora.
Me despeço, vendo-o fechar a porta do quarto.
A noite chega rapidamente e com ela pensamentos que eu não consigo mudar, hábitos, que tenho tentado esquecer, me chamam. Sei que não deveria, pois algo temporário desse jeito nunca vai me ajudar, apenas piora tudo de um jeito que eu não quero mais.
Me deito na cama, pensando em algo que eu apenas queria poder evitar, mas a esse ponto eu não sei se posso. Tento me distrair ouvindo os cds de minha estante, mas as músicas deles não parecem ter o mesmo efeito que antes, a mesma ideia de antes continua a rondar minha mente, fecho meus olhos notando o quanto eu sinto falta de algo que não deveria. Olho para meus braços, as linhas neles não parecem ir a lugar nenhum, mesmo que algumas delas não sejam do mesmo jeito que eram.
Me levanto da cama, pegando a caixa debaixo da cama, a abro olhando para algo que poderia matar o desejo. Eu a levo para o banheiro, pego a lâmina de dentro dela, não a usando, eu sei que olhar para ela não vai me ajudar, não vai fazer o desejo passar e saber onde ela está não vai me ajudar a melhorar, o pensamento é pior do que antes, mas eu não quero fazer isso, não vai ajudar, nunca ajudou. Por que eu me sinto assim o tempo todo? As vezes eu sinto que é mais fácil apenas desistir de continuar limpo e apenas voltar para o vício, mas a culpa e dor que vem com isso não vale a pena, nunca vai valer. Eu a coloco no mesmo lugar de sempre, ainda quero me abrir com ela, eu não deveria estar me sentindo assim por causa de nada, então porque isso nunca para? Isso melhora a algum ponto?
Guardo a caixa embaixo da pia, a deixar embaixo da minha cama não parece mais o melhor lugar. Me olho no espelho, não reconheço mais essa pessoa que está refletida, não gosto do que vejo. Meu reflexo sempre me mostrou as coisas que eu fiz para mim mesmo, assim como, coisas feitas por outros, cicatrizes junto de hematomas, se sobrepõem. Batidas na porta me distraem por um momento de meus pensamentos.- Vic, está tudo bem?- Kellin abre a porta do banheiro, sigo a encarar meu reflexo com lágrimas, teimosas, a cair.
- Não...- digo olhando para baixo, com as mãos em meu rosto, as lágrimas continuam a cair, não queria que ele me visse, não queria que ele visse minha dor.Ele me abraça, coloco minha cabeça em seu ombro, deixo minhas lágrimas caírem, molhando a sua blusa. A dor toma controle de mim, não sei até onde irei suportar, ela se parece com uma corda em volta do meu pescoço, me sufocando com palavras, tenho tentado ignorar o buraco em meu peito mas ele parece apenas aumentar. Eu acreditei estar melhor, tudo parecia ter melhorado por um tempo, mas acho que minha felicidade era apenas mais uma mentira minha, uma mentira que eu queria que fosse verdade.
- Queria apenas poder deixar esse hábito de lado- digo com minha cabeça em seu ombro ainda.
- Talvez, devesse parar de por toda a culpa em si mesmo.- eu balaço minha cabeça, concordando.Eu queria poder fazer isso, mas eu não consigo quando tudo que a minha mente me diz é que eu estou certo, queria poder apenas parar tudo isso por amor, mas é apenas impossível, por mais que eu continue a tentar.
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Disasterology
Teen FictionSomos apenas desastres, pedaços partidos. "Alguém pode salvar outra pessoa, mesmo quando sua vida está desmoronando?" Vic, um garoto o qual sofre bullying e problemas familiares. Kellin, um garoto novo, o qual vive com seu pai, um alcoólatra. Será q...