Stay

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Ar, preciso de ar. Sinto mais uma vez um chute em meu estômago o que me faz retrair, sinto o gosto do sangue em minha boca, o meu redor se escurece como se eu estivesse prestes a desmaiar. Os chutes param.
Escuto passos indo embora, a risada de Sykes reverbera em minha mente, junto dele posso ouvir outros passos, Nicholls e Jordan. Não consigo me mexer sem sentir pontadas de dor pelo meu corpo, minha respiração parece falhar, o sangue em minha boca e a visão turva me fazem desmaiar.
Acordo escutando alguém me chamar, o chão gelado contra meu corpo não parece ajudar com a dor, o sentimento de querer desaparecer parecer maior agora.
Olho mais uma vez para quem estava a me chamar, notando mais alguém junto, os rostos lentamente começam a tomar forma.

- Vic o que aconteceu?- Tony me pergunta, agachado em minha frente, com suas mãos em meus ombros, não respondo- Você consegue se levantar?- ele diz se afastando um pouco, posso notar a preocupação em sua voz.
-Eu acho que sim- digo com uma voz fraca, tentando me sentar.
- A gente precisa levá-lo para a enfermaria- Kellin diz se aproximando, com um tom de preocupação.
- Não- sussurro, sentindo uma pontada em meu estômago- eu só quero ir embora- olho para Tony, com um certo desespero em meus olhos.
-Eu não posso, você sabe como minha mãe é- Tony diz meio apressado, como se quisesse se desculpar de todas as maneiras possíveis.
-Eu te levo- Kellin propõe, eu assinto.

Kellin põe um dos meus braços em seu ombro e sua mão em minha cintura, Tony pega meu outro braço, também o colocando em seu ombro, me ajudando a levantar. Eles me levam para o estacionamento, com certa dificuldade, me sento no banco de trás do carro de Kellin, meu corpo ainda dói, me deito esperando que a dor passe um pouco. Ele se despede de Tony e se senta no banco do motorista, começando a dirigir. Ficamos o caminho todo em silêncio, não quero conversar, sei que se uma conversa entre nós começasse ela voltaria para o que aconteceu na escola, e não quero tocar nesse assunto.

- Chegamos- ele diz desligando o carro e descendo do mesmo.- vem, deixa eu te ajudar- ele diz abrindo a porta ao meu lado.

Ele pega meu braço, o passando por cima da sua cabeça e o colocando em seu ombro, com a outra mão ele me segura pela cintura, pelo menos eu consigo andar mais facilmente agora, porém me mexer sozinho ainda é dolorido. Ele abre a porta, me levando a sala.

- Pai!?- Ele diz dando uma pequena pausa- Ele não está em casa, deve tá trabalhando, acho melhor você deitar- ele diz apontando para o sofá. Ele me ajuda a sentar no sofá, sinto uma pequena pontada de dor- eu já volto, vou pegar gelo.

Me deito sentindo meu estômago se revirar, sinto meu corpo latejar, tudo que sinto é dor. Kellin volta com uma toalha enrolada em um pacote de gelo, ele a coloca em minhas mãos, eu a coloco em meu estômago, sentindo o gelado contra ele, me faz querer desistir de mantê-lo ali. Ele se senta na ponta do sofá ao lado dos meus pés, ele olha para o chão, como se ele quisesse dizer algo, porém não encontrasse o que dizer.

- O que aconteceu?- ele pergunta, me olhando, não respondo-o.- Quem foi que fez isso?- não respondo, novamente.

Ele volta a olhar para o chão, eu me encolho no sofá, ignorando a dor. Ficamos em silêncio por um tempo, ele parecia perdido em seus pensamentos.

-Onde fica o banheiro?- eu pergunto me levantando, sentindo pequenas pontadas de dor que me fazem eu me curvar um pouco para frente.
-Eu te mostro- ele diz colocando minha mão em seu ombro.

Ele me leva para o fim do corredor, abro a porta, andando com um pouco de dificuldade para dentro do banheiro. Fecho a porta, porém decido não tranca-lá, me encosto na porta, respirando fundo.
Me apoio na pia, tiro minha jaqueta lentamente, sentindo pouca dor, eu a coloco no balcão, paro por um tempo encarando no espelho as cicatrizes em meus braços, respiro fundo, tentando não chorar. Levanto minha camiseta, olhando no reflexo, minha barriga, assim como minhas costelas, estão um tom de vermelho ainda, elas se tornarão hematomas, não que façam muita diferença. Abaixo minha camiseta, ainda encarando meu reflexo no espelho, minha visão se torna turva e minha garganta parece se fechar, lágrimas começam a descer pelo meu rosto.

-Vic?- Kellin me chama abrindo a porta- eu bati na porta mas- ele para, me olhando.

Eu o olho, sentindo meu coração parar por um segundo. Talvez tenha sido as lágrimas em meu rosto, mas eu sei que não foi isso. Ele segura a maçaneta da porta forte o bastante para que o nó de seus dedos se torne brancos, posso notar em seu rosto, a sua preocupação aumentando, a cada momento que ele me olha, seus olhos passando do meu rosto, para meus braços, para o meu rosto novamente.

-Vic, eu- ele abre a boca tentando dizer algo, porém nada se forma.
-Eu preciso ir- eu digo pegando minha jaqueta.

Passo ao lado dele, ignorando a dor totalmente, pego minha mochila, saindo da casa, sem olhar para trás. Kellin me chama, porém eu não quero parar e escutá-lo, não quero olhar para o seu rosto e apenas ver pena em seu olhar.
Não me recordo de como cheguei em casa tão rápido, porém meu corpo não dói mais como antes. Entro no banheiro do meu quarto, checando os machucados no espelho, meu abdômen continua em um tom avermelhado mas agora parece estar se tornando mais azulado, juntamente de minhas costelas.
Saio do banheiro e vou à cozinha, notando que agora eu consigo andar sem ter que me apoiar em algo, pego uma toalha, colocando nela um pouco de gelo. Retorno ao meu quarto, me deito na cama e colocando a toalha em minha barriga, sentindo um pouco de dor pelo contato, como sempre, em momentos assim a caixa embaixo da cama me vem à mente, deixando um sentimento que não posso deixar de lado.
Me levanto, pegando-a de baixo da cama, entro novamente no banheiro, deixando a caixa ao lado da pia, jogo os cubos de gelo da toalha na pia.
Minhas costelas, assim como meus braços, latejam, mais manchas vermelhas estão espalhadas pela pia, paro por um momento olhando meu reflexo no espelho, cortes abertos e inchados em minhas costelas, pintados com o vermelho de minhas veias, juntamente de meus antebraços.
Entro no chuveiro, olho para o chão vendo a água se tornar vermelha, pequenos pontos em meu corpo ardem, se juntando com alguns pontos ainda doloridos, deixo a água correr pelas minhas costas, apenas desejando que tudo se vá, principalmente minha solidão.
Saio do banho, me encolhendo no meio de minhas cobertas, esperando que toda a dor simplesmente passe, escuto alguém batendo em minha porta, deve ser Mike me avisando que a janta está pronta, não tenho fome.
Me levanto, colocando minha jaqueta. Abro a porta, vendo Kellin, pequenas perguntas começam a se formar em minha mente. Deixo-o entrar, ele encara o chão, sem dizer nada. Ele finalmente me olha, posso sentir um desconforto se formar, tomando conta do meu quarto, eu olho para meu chão desejando que um burraco se abrisse.

-O Tony não para de me perguntar se você está bem.
-Ele sempre se preocupou demais com os outros.
-Bem, ele não é o único preocupado com você- ele diz me olhando-Vic, me desculpa, mas eu só queria saber se você estava bem.
-Não tem nada que você precisa se desculpar.
-Eu sei que não deveria perguntar e você não precisa me responder se não quiser- ele diz, pegando minha mão, fazendo borboletas em meu estômago se formarem- Mas, porque?- não consigo respondê-lo, quero dizer algo, porém as palavras não saem.

Minha visão se torna turva, ele parece notar as lágrimas se formando, ele me abraça, eu enterro meu rosto em seu ombro. As lágrimas começam a cair, sinto seus braços ao meu redor tentando me acalmar, queria que aquele momento durasse para sempre.
Retribuo o abraço segurando a barra de sua camisa, não quero que ele vá, quero apenas que ele fique.

-Você poderia ficar aqui, hoje?- digo ainda com meu rosto em seu ombro.
-Se você quiser, então sim - ele diz ainda me abraçando.

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